Além da atenção com os pelos, a alimentação adequada e os passeios frequentes, o cuidado com a visão dos bichos é necessária para a qualidade de vida deles. Para isso, oftalmologistas veterinários são os profissionais ideais para identificar e tratar diversos problemas, principalmente se tratando de casos de alta especificidade clínica.
Catarata, olho seco, glaucoma, inflamações e úlceras de córnea não são exclusivos de seres humanos, cães e gatos também podem apresentar os problemas e desenvolver quadros graves, se negligenciados. A médica veterinária Ana Carolina Rodarte, da Clínica Tabanez, conta que em sua experiência clínica em Brasília são muito comuns as úlceras de córnea em cães, devido ao alto número de animais com olhos proeminentes como característica marcante, como alguns tipos de buldogues.
Isso se justifica porque, com olhos "mais abertos", eles acabam mais expostos, o que pode levar a traumas na região ocular, infecções e até maior ressecamento na córnea, que pode gerar uma série de inflamações. É importante ressaltar que existem níveis de úlceras de córnea: superficiais, médias ou profundas. E cada uma demanda um cuidado individualizado. Pelos e cílios virados para dentro também podem gerar ferimentos e irritação, levando os animais a usar a pata ou a se esfregar em objetos para lidar com o incômodo, o que pode piorar ainda mais o machucado.
A veterinária Ana Carolina informa que, em gatos, as doenças mais comuns são as conjuntivites e as inflamações intraoculares — as uveítes. A última, na maior parte dos casos, pode ser causada por consequência de outro problema que já tenha afetado o felino e diminuído a imunidade. Também pode ser causado por traumas nos olhos, como arranhões. Na conjuntivite, a imunidade também é um fator importante de ser observado, pois o surgimento pode ser um sinal de que sua resistência tenha sido afetada. Além disso, pode ser causada por poeira ou alergia a alguma substância, que deixam os olhos vermelhos e com secreção característica do problema.
Óculos de sol
É importante que os tutores se preocupem com as consequências do sol forte nos passeios e nos locais que o animal mais frequenta em casa. Os humanos utilizam óculos para proteção dos raios UV e, no caso dos cães, o uso também deve ser considerado. No início do ano de 2022, a cadela Laika Fidelis viralizou nas redes por estar de chapéu e óculos escuros acompanhando o tutor na praia.
Muito além das piadas e da situação inusitada que gerou comentários de todos os tipos no caso de Laika, Ana Carolina recomenda a utilização de óculos próprios para cães, que, na internet, podem ser encontrados com mais facilidade pela tradução em inglês "sunglasses for dogs". A profissional completa: "Eles ajudam a proteger do sol e têm um caráter terapêutico, porque algumas raças de cães apresentam conjuntivite crônica, chamada de pannus oftálmico, que se inicia, justamente, pela incidência de raios solares".
O cuidado é útil para proteção contra o vento também, principalmente para aqueles animais que gostam de passear de carro com a cabeça para fora ou que moram em regiões de fortes ventanias. Os óculos evitam a entrada de corpos estranhos nos olhos, o ressecamento da córnea e outras feridas subsequentes. Portanto, a veterinária afirma que é uma proteção que, se bem aceita pelo animal, pode ser um grande aliado na saúde ocular. Caso seja impossível inserir na rotina do animal, é importante escolher locais em que ele possa permanecer na sombra e que sejam selecionados horários de menor incidência de radiação solar.
Maior probabilidade
Para a maior parte das alterações e doenças, existem raças com maior predisposição. Os animais braquicefálicos possuem um crânio curto e face achatada e estão mais sujeitos a desenvolver problemas oftalmológicos. Exemplos disso são os shih tzus, pugs, buldogues, gatos persas e outras raças exóticas. Rômulo Vitelli, oftalmologista veterinário do Núcleo de Especialidades Veterinárias Doctor Vet, conta que a probabilidade é alta, principalmente de casos de ceratoconjuntivite seca, lesões na córnea e doenças nas pálpebras, que, em alguns casos, não envolvem o olho de forma integral.
A estudante Ângela Tinassi, 33 anos, vive com Barão, um buldogue inglês de 4 anos, um caso que se encaixa no descrito pelo veterinário. O cachorro naturalmente não produz lágrimas de forma adequada para lubrificar a superfície ocular e necessita fazer uso de uma pomada diariamente para não ter excesso de ressecamento, que causa uma série de consequências negativas para a visão. Ela faz consultas frequentes com o especialista para avaliar se a intervenção está adequada e se os cuidados devem ser modificados.
Fora as consultas de rotina, Barão precisou retornar antes do esperado devido a duas situações. Uma delas foi um momento em que o buldogue coçou o olho e causou uma perfuração, demandando cirurgia. A outra foi uma briga com uma gata, em que a felina chegou a atingir o olho do cão, que teve boa recuperação. Ângela também cuida de Chimbinha, um pinscher de 11 anos que teve uma perfuração ocular em ambos olhos e foi medicado de forma inadequada. Após os devidos cuidados do profissional especializado em oftalmologia e da tutora no pós-cirúrgico, os dois cachorros se encontram bem e saudáveis.
Hora certa
Além do cuidado individualizado e especializado, um dos pontos mais importantes na oftalmologia é o fator tempo. "Ele define, em muitos casos, a necessidade de cirurgia ou a perda da visão", afirma Rômulo Vitelli. Por isso, ele recomenda que, ao menor sinal, o cão ou gato seja levado para atendimento, o que pode evitar que a situação chegue em um ponto irreversível e, desse modo, permite uma maior possibilidade de sucesso na intervenção veterinária e, consequentemente, na qualidade de vida do animal.
A servidora pública Cristiane Souza é tutora do gato Nino, de 12 anos. Após uma briga com outro macho em um dos passeios noturnos, ele sofreu uma perfuração ocular. Ao ver a gravidade dos ferimentos, Cristiane o levou a uma clínica próxima de casa. Chegando lá, a profissional os direcionou para um veterinário oftalmologista, já que o caso necessitava de cirurgia. No mesmo dia, ele foi operado e a equipe realizou uma reconstrução da córnea com a utilização de uma membrana biológica — uma boa opção no caso de lesões do tipo, pois auxilia no processo de cicatrização.
Mesmo com o procedimento bem-sucedido, a servidora ficou insegura e temia que Nino ficasse cego ou tivesse graves sequelas. O gato precisou ser acompanhado de perto por dois meses, tomar medicamentos e utilizar o colar elizabetano para garantir a recuperação adequada do ferimento. Ao longo dos dia após a cirurgia, começou a perceber, com alívio, que a cirurgia tinha sido precisa e que, aos poucos, Nino recuperava a visão.
Hoje, completamente recuperado, Nino não apresenta manchas ou cicatrizes visíveis nos olhos, sendo praticamente imperceptível que houve a cirurgia. Cristiane acredita que esse resultado só foi possível graças ao profissional qualificado, apoiado por uma equipe competente e equipamentos modernos. Além de consultas de rotina, ela evita que o felino fique solto durante a noite e passeando desacompanhado. Por viver em uma casa e ser um animal com hábitos de caça, no começo, ele não ficava satisfeito com os impedimentos, mas a tutora garante que agora está mais adaptado a ficar dentro de casa.
Principais doenças
Glaucoma
Acomete cães e gatos. Segundo o veterinário Rômulo Vitelli, é uma doença que pode ocorrer por uma má formação na estrutura de drenagem do líquido que preenche as câmaras oculares, sendo chamado de glaucoma primário. Já quando há obstrução da estrutura de drenagem desse líquido, é chamado de secundário.
Os sintomas, como olho vermelho, córnea azulada, globo ocular com aumento de tamanho e dor, não podem ser ignorados, mesmo nas fases iniciais, quando os sinais são brandos. Se não tratado, o glaucoma pode levar à cegueira. O tratamento varia de acordo com o nível de avanço da patologia e pode ser clínico ou cirúrgico.
Catarata
Caracteriza-se por opacidade na lente, que, quando saudável, é transparente, mas, quando acometida da condição, fica azulada ou esbranquiçada. Pode ser causada por idade avançada, diabetes e inflamações intraoculares graves. É possível ter origem genética, principalmente em raças como poodle, golden retriever, labrador e cocker spaniel.
A única forma de tratamento é cirúrgica. Rômulo Vitelli explica que a técnica e os equipamentos utilizados no procedimento são os mesmos da medicina humana. O principal sintoma é alteração da cor central do olho, mas, se o cão começar a esbarrar em móveis e tiver dificuldade em algumas atividades, o tutor deve ficar alerta.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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Após uma briga com outro macho, Nino sofreu uma perfuração ocular e precisou de cirurgia: recuperação completa Foto: Arquivo pessoal -
Chimbinha sofreu uma perfuração ocular em ambos os olhos e foi, em um primeiro momento, medicado de forma inadequada Foto: Arquivo pessoal
