Amar não tem raça, cor, credo. Basta as pessoas se olharem, se conhecerem e se permitirem. É isso que pensa a psicóloga clínica e sexóloga Alessandra Araújo. Mas nenhum relacionamento é fácil. É verdade também que é mais difícil levar uma relação adiante quando a diferença de idade é considerável. Muito disso se dá pela negação da sociedade de que há amor nesses casos. "É como se fosse muito estranho para as pessoas. E tudo que parece estranho, infelizmente, incomoda e vira alvo de julgamentos."
Quando a mulher é a mais velha, nem se fala. Como explica Alessandra, o patriarcado impõe a ideia de que o homem deve ser mais velho e, consequentemente, o mais viril. E quando são elas que ficam nessa posição, são tratadas como as que sustentam o "garotão" mais novo, como se não houvesse amor de verdade.
Mas a psicóloga reforça que a idade não está na carne, e, sim, na alma. É a conexão de um com o que há de melhor no outro que supre e gera a sensação de completude.
Relacionamento
Ainda assim, e como qualquer relacionamento, a troca deve ser saudável. "E isso tem a ver com a forma que um trata o outro, e não com idade", reforça Alessandra. Um dos problemas que identifica entre esse perfil de par romântico é que o mais velho tende a assumir o outro como filho e usar a suposta maturidade para orientar o mais novo. Nesses casos, a especialista explica que há uma imposição. Um dos dois pega a mão do outro e o puxa para um caminho individual, sem pensar, de fato, no casal.
E quem disse que o mais velho é, necessariamente, mais maduro? Pessoas que sofrem traumas, por exemplo, tendem a desenvolver mais vivência em torno de um determinado assunto. E, às vezes, se revelam mais experientes.
Quando a criação é diferente e os conceitos de vida se mostram muito divergentes, já que muitos companheiros têm décadas de diferença um do outro e é natural que essa diferença apareça, a dica é dialogar. Essa é a melhor estratégia quando bate insegurança, de qualquer uma das partes, também em relação à questão física
Maturidade x idade.
Depois de sair de um relacionamento de cinco anos, Rafael Braga, 33 anos, prometeu a si mesmo que só se envolveria com uma pessoa mais velha, convencido de que esse alguém, pela idade, seria capaz de proporcionar uma relação mais feliz, saudável e, principalmente, madura.
Mas, como se o roteiro já estivesse escrito, algo fez ele mudar de ideia. Foi pelas ruas da cidade que ele e Victor Moreira, 25, se conheceram. Na época, Rafael estava com 30 anos e Victor, com 22. Eles pegavam o mesmo ônibus. Conversa vai, conversa vem, dias depois, eles e alguns amigos saíram para assistir ao filme Ana e Vitória, no cinema. E aí tem início a relação dos dois.
Rafael tinha acabado de terminar a faculdade de psicologia e estava começando a atuar na área. Victor, hoje supervisor de marketing, estava entrando na graduação. Ao contrário de Rafael, ele ainda não tinha o costume de beber. Frequentava a igreja. Ainda não havia assumido sua sexualidade.
Os diálogos transpareciam, sim, os oito anos de diferença: "Sentia que eu já havia explorado tanto da vida, viajado, me divertido, e ele, não", lembra Rafael. A idade gerou algum conflito, mas nunca a dúvida que eles se gostavam de verdade.
Passados alguns meses, Victor questionou o par com o famoso "estamos namorando ou não?", de quem quer algo sério, já provando estar disposto, com maturidade, a tomar o próximo passo. E em novembro de 2018, eles oficializaram o namoro.
Rafael define o amado: "Responsável e compromissado, tem percepção de mundo coerente e concepção de família, o que nos faz planejar o futuro de forma conjunta". Victor se mostrou supermaduro para a idade, o que ajuda a relação a fluir bem. Ele, mais caseiro, gosta de organizar as coisas do lar e Rafael, recém-saído de uma vida de baladas, gostou disso.
"Quando vi como ele valorizava a família, ajudava a avó e a mãe, mesmo sendo o mais novo, desconstruí o meu pensamento inicial. Ele tem muito conhecimento e é ótimo em dar suporte e conselhos para os outros."
Ressignificados
Em 2020, Victor pediu Rafael em casamento. Os noivos moram juntos desde então. O ano em que iniciou a pandemia foi ressignificado com muito amor pelo casal. Eles ficaram ainda mais íntimos e próximos, com programações a dois e traçando planos.
Vida financeira e cuidados com dinheiro ainda estão entre as pautas que, geralmente, acabam em divergência entre eles. Afinal, os conflitos, sim, existem. Rafael dá alguns toques e recomendações para Victor, que está numa fase de gastar mais.
O psicólogo assume que a conversa, embora seja o caminho que ele próprio recomenda aos pacientes, nem sempre é a forma de eles se resolverem. Primeiro, os dois se afastam, esfriam a cabeça, para, no fim, se acertarem.
O casal não chegou a passar por incômodos externos significativos devido à idade. A família apoia bastante a união. Os amigos até chegam a brincar, mas nada sério. É o sentimento e companheirismo entre os dois que dita a relação: "A diferença de idade me fez empacar no início, mas vi que valia a pena. Percebi que a maturidade não está associada à idade. Você pode ter 50 anos e não chegar nem perto da maturidade de alguém de 25", pontua Rafael.
Para eles, final feliz!
Mallu Magalhães e Marcelo Camelo
(ex-Los Hermanos) — O casal de cantores assumiu o namoro quando ela ainda era adolescente, com 16 anos; ele estava com 30. Hoje, Mallu tem 28 e Marcelo, 44. Eles vivem em Portugal e têm uma filha.
Harrison Ford e Calista Flockhart — Quando assumiram o relacionamento, os 22 anos que separam o casal de atores foram alvo de críticas. Hoje, ele tem 79, ela, 57. E quem apostou que o amor logo se extinguiria estava errado. Eles estão juntos desde 2002 e, no ano passado, renovaram os votos.
Sem joguinhos
No universo dos relacionamentos sugar — por sinal, cheio de tabus — o que os parceiros querem fica explícito. A afinidade é importante, mas os objetivos pessoais de cada um estão muito bem definidos: pode ser viajar, fazer networking, garantir mimos, empreender ou crescer um negócio.
Nessas relações, é comum que a mulher seja a mais nova, mas isso não é regra. Os sugar daddies, geralmente homens bem-sucedidos, buscam uma relação leve e sem drama e, em troca, proporcionam experiências à parceira. O assunto vem aparecendo no dia a dia. Na TV, novelas como Império e A dona do pedaço trouxeram o tema.
Por meio de uma relação transparente, a então sugar baby garantiria poder financeiro e, por que não, conexão. Caio Bittencourt, diretor da comunicação da plataforma de relacionamento MeuPatrocínio, afirma que há vários prejulgamentos, frutos de uma crença machista, quando uma mulher mais jovem namora um homem mais experiente. Mas nada acontece com ele.
"Na verdade, o relacionamento sugar mostra que a escolha está na mão das mulheres. E a diferença de idade vem porque elas estão cansadas de homens imaturos e inexperientes", diz. Ele defende que uma união do tipo reúne, assim, honestidade, generosidade e parceria, e essa dinâmica se dá, em grande parte, pela própria diferença de idade.
Segurança e maturidade
Ponto que a fisioterapeuta Raquel Fernandes, de 28 anos, concorda. Ela e Carlos Francisco Barreto Pires, de 54, estão juntos há um ano e três meses. Conheceram-se durante a pandemia e, à medida que as restrições decorrentes da crise sanitária se flexibilizaram, encontraram-se pessoalmente. Para ela, a experiência de vida do parceiro dá muita segurança. Mas não que isso falte para ela. Formada, Raquel já sabe o que quer para a vida.
Aqui, a diferença de idade é vista como algo muito positivo. Raquel conta que já namorou homens da idade dela, mas não o faria novamente. "O que para um homem de 25 anos é motivo de briga, para um de 50 não é. Um homem mais maduro não perde muito tempo." Conversando, ela e Carlos sempre chegam a um consenso.
A fisioterapeuta acredita que o fato do companheiro já ter sido casado e ter filhos faz com que ele saiba exatamente do que ela precisa, porque, com os erros passados, aprendeu o certo e o errado. "Nunca brigamos, sempre conversamos sobre tudo e somos muito compreensivos um com o outro."
"Eu já recebi alguns questionamentos de pessoas que não entendem o que é um relacionamento sugar. Mas não importa, ele me faz bem, me mima, me ajuda profissionalmente, me dá carinho e não tem por que não ter uma relação com alguém mais vivido e maduro. O que importa é que me faz bem e sou feliz."
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