Não é de hoje que os cômodos da casa do Big Brother Brasil chamam a atenção. Mas, nesta edição do reality, isso ficou ainda mais óbvio. Assim que chegaram à casa, os próprios participantes notaram o excesso de elementos.
Para a proposta em questão, funciona. Mas não exatamente por ser alto-astral. É que o desconforto emocional do elenco faz o jogo andar, motiva brigas e discussões. Especialistas ouvidos pela Revista analisam os ambientes, mostram como eles podem causar estresse e o que podemos aprender com as estratégias aplicadas por lá.
"A decoração tem, sim, efeito no cérebro. No caso do programa, essa sobrecarga foi projetada para mexer com os participantes. O reality não quer ninguém muito calminho", explica a psicóloga Vanessa Gebrim. O resultado? Ansiedade, estresse e irritabilidade. Primeiro, porque as pessoas precisam se acostumar a um ambiente totalmente novo e à realidade do confinamento, o que, por si só, já é um desafio. Acontece que, com o passar do tempo, a casa intensifica isso. Assim como afeta as emoções, os ambientes carregados passam a interferir no comportamento.
A psicologia ambiental ajuda a explicar, em parte, esse terror. A começar pelas cores. Na casa em que os brothers estão confinados, predominam os tons quentes, como vermelho e amarelo, que são estimulantes. Há também uma variedade de elementos visuais misturados. Muitos desenhos, figuras e objetos decorativos espalhados.
E não tem como fugir. "O participante sai de um ambiente carregado para outro ambiente igualmente carregado. E o fato de eles não conseguirem relaxar vai se acumulando e acaba em estresse. É como se fosse o contrário de um spa, que é feito para proporcionar conforto", exemplifica.
Dia e noite se confundem
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O gramado, a piscina e a área comum externa são os poucos espaços que recebem luz natural Reprodução/Instagram -
Espelhos: mais informação Os espelhos revelam as pessoas e os elementos da casa. É mais coisa para o cérebro associar. A arquiteta explica que o truque é muito usado para ambientes pequenos, para dar a sensação de amplitude. Mas, no caso do reality, não deixa a pessoa totalmente à vontade. O feng shui explica essa sensação. É que o espelho lembra à pessoa que ela está em um lugar que não é dela, uma casa "estranha", porque ela própria se vê e se percebe o tempo inteiro no ambiente. "Quando não vemos tudo, sentimos que fazemos parte do espaço com mais facilidade", explica Priscila Reprodução/Instagram
Vanessa explica que, no BBB, os quartos supercoloridos, a luminosidade artificial, com muita luz branca, e as poucas gavetas disponíveis — o que gera bagunça — fazem o cérebro entender que a pessoa está sempre acordada e, muitas vezes, irritada.
Se você acompanha o programa madrugada adentro, já deve ter visto alguns participantes malhando às duas ou três da manhã. É o que se chama de privação sensorial de percepção: o dia a dia e a convivência acabam distorcidos e desregulados. Os níveis de produtividade mudam, o sono é alterado e o sentimento de angústia, estimulado.
Ter poucos ambientes escuros também confunde o organismo. Some tudo isso e chegue a uma conclusão que é do conhecimento de muitos: quando não se dorme bem, há prejuízo hormonal. E se a produção de melatonina for insuficiente, a funcionalidade do organismo fica desregulada. "Aumentam as chances de a pessoa ficar irritada e nervosa", acrescenta Vanessa.
Antimanual de décor?
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Quadros, tapete e cores em equilíbrio neste projeto da PB Arquitetura Fotos: PB Arquitetura
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O colorido pode vir como algo pontual. Pinturas e grafites dão muita personalidade PB Arquitetura
A arquiteta Priscila Tressino, da PB Arquitetura, diz que, no caso do BBB, toda a informação dos ambientes tem um propósito específico de manter o elenco agitado, por meio do apelo visual e psicológico. "É uma situação atípica, montada para receber pessoas que ficarão ali temporariamente, jogando. Mas, mesmo pensando no projeto de uma casa convencional, nada é proibido", defende.
Isso quer dizer que, sim, com equilíbrio, dá para adaptar as cores vivas, as formas orgânicas e a vibe temática para o seu lar. E isso trará mais personalidade. Esses elementos caem bem em ambientes com pegada criativa, como alguns escritórios e quartos infantis, para criar uma sensação divertida.
"Dá para remeter a algum herói ou personagem. Mas é importante prestar atenção se isso deixará a criança agitada demais." Também é possível incorporar essa alegria toda em almofadas e jogos de cama, que darão vida ao quarto sem a necessidade de uma mudança brusca.
A arquiteta indica que as cozinhas comportam muito bem toques coloridos e estampas. Não mais com cara de área de serviço, elas vêm aparecendo associadas à área social da casa e, assim, estão mais bonitas e apresentáveis. O mercado tem várias opções para deixar o espaço despojado e com personalidade — revestimentos 3D, adesivos e marcenaria diferente, que foge do branco e da madeira tradicional.
E há de se fazer um contraponto importante. Engana-se quem pensa que os elementos estão lá de maneira desorganizada ou aleatória, sem base arquitetônica. Priscila explica que a casa do BBB está cheia de referências artísticas interessantes. A pop art, com figuras e composições que remetem à quadrinhos e à arte industrial, está na sala e na área do confessionário.
No banheiro, nota-se uma alusão à Mondrian, importante pintor holandês, famoso pela composição de vermelho, amarelo e azul. O lado de fora lembra uma discoteca, principalmente, pelo painel com rádio retrô, com estilo hip hop.
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