Saúde

Fevereiro Laranja: diagnóstico precoce pode levar à cura da leucemia

No Fevereiro Laranja, mês de conscientização da doença, especialistas alertam que a patologia é grave, mas, se detectada precocemente, há boa chance de cura

Carolina Marcusse*
postado em 20/02/2022 08:00 / atualizado em 20/02/2022 10:54
 (crédito: Valdo Virgo/CB/D.A.Press)
(crédito: Valdo Virgo/CB/D.A.Press)

O mês de fevereiro é marcado pelo combate à leucemia e visa conscientizar a população sobre a doença. Afinal, com a descoberta precoce, é possível oferecer um tratamento com maiores chances de cura. Além disso, a última terça-feira (15/2), Dia Internacional do Câncer Infantil, foi marcada pelo início da campanha para informar e alertar sobre a ocorrência do câncer em crianças, seus riscos e cuidados. A leucemia linfocítica crônica é o câncer mais comum nessa faixa etária.

Com novas tecnologias, avanço da medicina e mais precisão e qualidade no tratamento, a perspectiva é animadora. Um caso de que o diagnóstico não é o fim é o de Andrea Barcellos, hoje com 42 anos. Ela conta que aos 11 começou a ter febre alta, palidez e cansaço. Preocupados, os pais a levaram para um médico, que, desde o primeiro momento, suspeitou de leucemia. Encaminhada ao Hospital de Base, foi atendida por um hematologista, que confirmou a doença.

Andrea, sem qualquer histórico da enfermidade na família, fez quimioterapia intensiva durante seis meses, período em que não pôde realizar as atividades cotidianas, como ir à escola, à natação e a passeios devido ao tratamento, que levava a uma baixa imunidade e risco para outras doenças. Após esse período, continuou na quimioterapia até completar o prazo de dois anos, agora com baixa dosagem e utilizando medicações de suporte. "O caminho para se adaptar a uma nova realidade não é fácil", admite. 

Na segunda etapa, chamada de "fase de manutenção" algumas atividades puderam ser retomadas, como a escola. "Comecei a retornar aos poucos. Eu sentia muita falta de ir para a escola, ter contato com os amigos. Voltar foi muito bom, significava também que eu estava melhor, estava evoluindo no tratamento", conta Andrea.

Na época, sua mãe conheceu a Associação Brasileira de Assistência às Famílias de Crianças Portadoras de Câncer e Hemopatias (Abrace). Identificando-se com a instituição, tornou-se voluntária, assim como Andrea e a irmã. Por isso, mesmo após o fim do tratamento, ela teve contato direto com a oncologia pediátrica.

Quando chegou o momento de decidir o curso que faria, não teve dúvidas em prestar vestibular para medicina. Já entrou na universidade com desejo de se especializar na área. Hoje, relata com orgulho que trabalha ao lado de alguns dos profissionais que realizaram seu tratamento e tem certeza que tomou a decisão certa.

A médica oncologista acredita que sua experiência influencia em seu trabalho e traz ainda mais esperança e segurança para crianças, adolescentes e suas famílias. "Cada um é diferente, tem sua realidade, sua individualidade. Mas existem sentimentos comuns. É importante ter uma noção do que a criança e a família estão passando, das inseguranças, do medo", descreve. Andrea atende no Hospital da Criança de Brasília, assim como foi atendida na rede pública, e hoje impacta positivamente outras vidas, como ocorreu com ela.

Andrea Barcellos teve leucemia aos 11 anos  e hoje, aos 42, é médica oncologista pediátrica do Hospital da Criança de Brasília
Andrea Barcellos teve leucemia aos 11 anos e hoje, aos 42, é médica oncologista pediátrica do Hospital da Criança de Brasília (foto: Arquivo Pessoal)

O que é

A leucemia é um câncer que se origina na medula óssea e se caracteriza pela proliferação anormal de células sanguíneas cancerosas. Na doença, as células saudáveis começam a ser substituídas por células anormais, porque estas morrem menos e se multiplicam mais rápido do que as sadias. Com isso, as células sanguíneas que compõem o sangue passam a não realizar todas as funções de forma adequada, gerando impacto e sintomas em várias regiões do corpo.

Os tipos

Andresa Melo, hematologista do Hospital Brasília, afirma que existem vários subtipos de leucemia, que se caracterizam por suas particularidades. "Podem se classificar em mieloide ou linfoide e em aguda ou crônica", detalha. A forma aguda, segundo a médica, é caracterizada pelo excesso de células imaturas (blastos), que se multiplicam rapidamente e comprometem a produção do sangue em poucas semanas. Tem evolução rápida e pode ser fatal, se não acompanhada e tratada devidamente. Já a forma crônica não tem excesso de blastos e, geralmente, tem uma evolução mais lenta, que pode durar de meses a anos.

Conscientização

Como existem formas diferentes da doença, o prognóstico pode ser diferente. A porcentagem da chance de cura também varia de acordo com a idade e o estágio de avanço. No entanto, assim como outros tipos de câncer, as chances de remissão da leucemia aumentam se os sintomas forem identificados de forma precoce e o tratamento começar cedo. Pensando nisso, em 2020, a Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia) teve como foco uma campanha chamada A leucemia parece invisível, mas seus sintomas são evidentes.

Sintomas

"No caso das leucemias agudas, as alterações mais comuns são fraqueza, mal-estar, manchas roxas pelo corpo, sangramentos e febre", adverte Andresa Melo. Quando se trata da leucemia crônica, alguns sintomas podem não ser tão claros, chegando a demorar meses ou até anos para interferir na rotina do paciente. Apesar disso, a médica alerta que não significa que não ocorrerá nenhum sintoma, apenas que podem se confundir com outras condições. São exemplos possíveis: perda de peso inexplicada, sudorese noturna e febre sem causa aparente, mas um médico sempre deve ser consultado para a averiguação adequada e precisa.

Fatores de risco

A hematologista explica que pessoas com algumas síndromes genéticas, como a de Down, apresentam maior risco de desenvolver a leucemia mieloide aguda (LMA). Existem outros fatores que podem estar ligados ao desenvolvimento da doença, como exposição a agrotóxicos, a derivados de benzeno e à radiação (inclui histórico de radioterapia para tratamento de outros cânceres), tratamento prévio com quimioterapia e até tabagismo.

Por isso, apesar de não existirem meios de prevenir a leucemia, ter hábitos de vida saudáveis e evitar exposição aos fatores de risco, quando possível, podem reduzir a probabilidade de desenvolver a doença e são a recomendação médica. De forma geral, Andresa Melo lembra que as leucemias agudas surgem de forma mais frequente na infância e entre idosos. Já as crônicas são mais comuns a partir dos 60 anos.

Tratamento

Como existem particularidades no tipo, estágio e, claro, paciente, o tratamento não é único. Pode ocorrer somente monitoração sem medicamentos, mas a maior parte dos casos demanda tratamento com quimioterapia e, em alguns casos, transplante de medula. Após o tratamento, também são necessárias consultas de acompanhamento para avaliar se houve reincidência da doença ou se há ocorrência de algum efeito colateral que demanda cuidado e controle. É importante que o paciente seja atendido por profissionais de diferentes especialidades que possam intervir em cada aspecto do tratamento. Os principais são: hematologista, oncologista, nutricionista, psicólogo e enfermeiro. Com uma equipe multidisciplinar, os resultados podem ser eficientes e individualizados.

Doação de medula óssea

Algumas formas de tratamento, como a quimioterapia e radioterapia, podem destruir a medula óssea do paciente. Para evitar uma série de problemas, é importante que ocorra uma transfusão de medula óssea ou de células precursoras do doador, de forma semelhante como ocorre na transfusão de sangue. O transplante se trata da substituição da medula óssea adoecida por células normais de medula óssea. Bem sucedido, o transplante fará com que o corpo produza novas células e recomponha a medula. No entanto, quem necessita da doação enfrenta uma série de empecilhos, como a dificuldade de encontrar um doador compatível.

A compatibilidade é avaliada por exames de sangue, que primeiro são feitos com membros da família, onde existe maior chance de compatibilidade. Caso não sejam encontrados doadores aparentados, procura-se no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome). A doação permite que vidas sejam salvas, tanto para os que sofreram com a leucemia quanto com outras condições que afetam a medula. No caso do Distrito Federal, para realizar o cadastro e se tornar um possível doador, é possível agendar o atendimento pelo site do Hemocentro de Brasília. Os critérios são ter entre 18 e 35 anos, estar em bom estado geral de saúde e não ter doença infecciosa ou incapacitante.

Incidência em crianças

Por um de seus tipos ser uma doença comum entre crianças, a leucemia demanda cuidado especializado. José Carlos Cordoba, hematologista pediátrico na Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal, afirma que o tratamento requer "diagnóstico correto e preciso", realizado por "profissionais especializados e experientes na identificação e na condução do tratamento", que deve ser realizado em centro especializado. Na maior parte dos casos, ele relata que há necessidade de quimioterapia, com intensidade que depende de uma série de fatores, como a presença de marcadores anormais no diagnóstico.

O médico completa que, apesar de ser um susto para a família, o tratamento tem altas chances de cura, devido à maior chance de resposta das crianças, se comparado com adultos. Ele informa que, no DF, há um centro de referência nesses cuidados na rede pública, o Hospital da Criança de Brasília, onde são oferecidos os exames necessários para identificação do tipo de leucemia por meio da imunofenotipagem e de anormalidades específicas, essenciais para definir o tipo de tratamento que será efetivo. Além disso, o hospital oferece um tratamento em diferentes frentes, sempre com objetivo de ter o maior sucesso possível no tratamento.

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação