Bichos

Na coleira! Por que o uso do acessório é imprescindível

Alvo de muita polêmica, o uso da coleira é obrigatório por lei e importante, inclusive, para a segurança do próprio animal

Carolina Marcusse*
postado em 20/02/2022 08:00 / atualizado em 20/02/2022 10:53
 (crédito: Arquivo pessoal)
(crédito: Arquivo pessoal)

O uso de coleiras em cães é um assunto muito discutido. Enquanto alguns acreditam ser um direito não utilizar coleiras em animais, principalmente quando apresentam um comportamento tranquilo, outros acreditam que a ausência do item seja um risco para o coletivo e que todos os bichos, independentemente do temperamento, deveriam utilizar guias nos passeios.

Camila Machado é moradora da Asa Sul e, na quadra em que mora, um grupo se reúne em uma área verde todos os dias. Ela relata que são cerca de 20 animais que ficam soltos, até mesmo de porte grande, que podem apresentar risco para as pessoas que passam por lá. A estudante de medicina veterinária relata que já viu um cachorro da raça chow-chow avançar em outros cães. Camila é tutora de Amora, 3 anos, e sempre se sente insegura ao passear com a cadela próximo ao campo, por nunca saber se os outros cachorros vão se aproximar e se a interação será amigável.

Incomodada, fez reclamações até mesmo na Administração de Brasília, mas não obteve qualquer retorno. Os cães soltos em grande quantidade fazem com que seja difícil para os tutores controlarem seus animais adequadamente e os transforma em um risco para pedestres e motoristas. O campo é próximo de uma via pública e já houve situações em que os animais correram na direção de carros e, por pouco, não aconteceram acidentes graves. Em contraste, ela sempre passeia com Amora na coleira, que está acostumada desde filhote ao uso do acessório e que nunca se afasta ou oferece risco para terceiros.

Apesar de existir debate sobre o assunto, a lei é clara: em locais públicos, cachorros devem estar utilizando guias conduzidos por pessoas aptas para controlá-los e, no caso de animais de grande porte ou raças de guarda ou ataque, devem usar focinheira nesses ambientes. A lei é distrital, nº 2.095/1998, portanto regulamenta a conduta no Distrito Federal, mas não é exclusiva. Existem regimentos em outros estados. Em alguns, com penalidade de multa caso ocorra o descumprimento.

Dada a importância de conscientizar parte da população que não conhece ou não aplica a lei, o Instituto Brasília Ambiental realizou uma campanha em 2021 e, com parceria do Setor de Controle e Acompanhamento de Medidas Alternativas do Ministério Público do DF, instalou banners ilustrativos no Parque Ecológico de Águas Claras com um QR Code que direcionava para a lei distrital e com a frase "Mantenha seu cão sempre na guia e, nos casos previstos, também com focinheira".

Bom senso

Mesmo sem fiscalização frequente, a veterinária Bárbara Holanda reforça que é muito importante para a própria segurança do animal utilizar a guia, pois mesmo animais calmos e obedientes podem se assustar com barulhos, por exemplo, e acabar fugindo ou se perdendo. Além disso, é uma forma de controle sobre o pet, evitando que ocorram conflitos, principalmente entre os machos. A veterinária informa que quanto mais cedo a coleira for introduzida, melhor a adaptação.

"Eles só podem sair na rua após terminar o ciclo vacinal dos filhotes", alerta Bárbara. "E, nessa época, por ter pouca disciplina ainda, a coleira não pode ser dispensada. É essencial acostumá-los para que, dessa forma, associem a guia a um momento positivo, em que o animal se diverte e sai de casa, exercitando-se", defende. É comum o relato de tutores que percebem o cachorro animado ao ver a coleira por, justamente, estar acostumado. No início, é comum que o cão puxe a guia e deseje andar livremente, mas, com o tempo, ele pode ser educado. Caso o tutor tenha dificuldade, um adestrador profissional pode auxiliar no processo.

Os tipos disponíveis

Para realizar a escolha, a veterinária Bárbara recomenda uma coleira confortável, de um material de qualidade e resistente, que seja compatível com o tamanho e o temperamento do animal. Com diferentes opções disponíveis no mercado, pode ocorrer uma dúvida na decisão. O adestrador Kleber Novais explica que "cada uma tem uma finalidade, pensada para que o animal fique corretamente preso e seguro".

A coleira tradicional é a que fica em torno do pescoço e tem uma guia ligada a ela. Permite uma condução segura, segundo o adestrador, pois, dessa forma, é possível controlar o animal e modelar o comportamento de maneira pontual. A coleira de peitoral ajuda a preservar a região do pescoço, principalmente de animais menores e com problemas de respiração, e também pode ajudar a controlar o cão de forma segura, pois envolve seu corpo e dificilmente ele se soltará. Porém, Kleber alerta que a coleira de peitoral pode criar o hábito de puxar durante todo o passeio.

Levando esse problema em consideração, existe a coleira de peitoral anti-puxão. "É um modelo muito parecido com o peitoral tradicional, mas com uma diferença fundamental: o gancho de encaixe da guia não fica nas costas, mas no peito", informa o adestrador. Por isso, em todas as ocasiões que o cão tentar puxar, será arrastado para o lado e girado para a direção do tutor, que sempre deve tomar cuidado com a força colocada nessas situações. O que ensinará o cachorro não são os reforços negativos e a agressão, mas, sim, a constância dos treinos e os reforços positivos, como petiscos e afagos.

Por fim, outro tipo de coleira é a conhecida como de cabresto ou "gentle leader". O adestrador Kleber avisa que, embora seja confundida como uma focinheira ou mordaça, não machuca, causa dor ou estressa o animal quando bem colocada. É indicada em casos extremos, para acostumar animais que puxam muito além do aceitável nos passeios e não conseguem se adaptar com outras coleiras.

Gatos também podem usar coleiras e passear, mas sua adaptação pode ser praticamente impossível se não ocorrer desde os primeiros anos de vida. Além disso, depende da personalidade de cada felino, pois alguns podem ser muito conectados a seu território e não gostar de deixar o local.

No caso particular dos gatos, um cuidado a mais deve ser tomado, principalmente nos casos de animais de vida livre, que são os que moram em casas e passeiam por conta própria. A cautela é comprar somente coleiras com fechos "breakaway", que se soltam sozinhas caso o gato se enrosque em árvores ou cercas, evitando o perigo de enforcamento. Os gatos que ficam somente em casa não precisam usar coleiras, mas, no caso de bichanos que passeiam, é essencial a utilização para que ele não seja confundido com um animal de rua ou se perca.

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação