Encontro com o Chef

De babá a confeiteira profissional: jovem doceira abre segunda loja

Antes de se tornar confeiteira profissional, moradora de Ceilândia foi babá, empregada doméstica, garçonete, secretária... Com muita determinação e trabalho árduo, acaba de abrir a segunda loja, desta vez, em Águas Claras

Por Sibele Negromonte
postado em 06/03/2022 08:00 / atualizado em 22/03/2022 17:51
 (crédito: Reprodução/Redes sociais)
(crédito: Reprodução/Redes sociais)

Paula Laryssa Rodrigues Leal cresceu rodeada de formas de bolo, bicos de confeiteiro e fornadas de salgadinhos. A avó dela, servidora terceirizada na área de limpeza de um hospital, viu-se, de uma hora para outra obrigada a largar o emprego para cuidar da madrinha, que ficou muito doente e não tinha filhos. Como precisava se sustentar, dona Tita não encontrou outra saída a não ser preparar bolos, docinhos e salgados, sob encomenda, em casa, já que não podia sair e deixar a madrinha sozinha. "No início, ela nem gostava, mas acabou não só se acostumando como gostando."

Confira o especial do Correio sobre as histórias e inspirações da Ceilândia.

E dona Tita tinha uma pequena ajudante sempre a postos. Ainda criança, Paula lavava panelas, abria forminhas, enrolava docinhos e, claro, observava atentamente os preparos da avó. Quando tinha uns 13 anos, a garota decidiu fazer trufas, pirulitos de waffle e outras delícias para vender na escola e, assim, ganhar um dinheirinho. O negócio deu supercerto. "Chegava a vender 60, 70 unidades por dia", lembra. Tudo preparado por ela.

Veio o ensino médio e a adolescente ficou com vergonha de seguir com as vendas no ambiente escolar. "Coisa de adolescente boba", admite. O tempo passou e Paula se virou como pôde para garantir o próprio sustento. Trabalhou como empregada doméstica, babá, garçonete, copeira, secretária... Nunca correu de um serviço.

Noiva, decidiu voltar a fazer doces e, assim, juntar dinheiro para o casamento. Mais madura, percebeu que aquele poderia se tornar, sim, um negócio rentável. Quando descobriu que estava grávida, Paula até pensou em arrumar um emprego estável e com carteira assinada, mas a gestação de alto risco a obrigou a ficar em casa. Parecia ser o sinal de que precisava para investir profissionalmente na confeitaria.

Quando Catharina nasceu, há cinco anos, Paula usava seu perfil no Instagram para fazer uma espécie de blog materno. Postava suas experiências e impressões sobre o momento que estava vivendo e, claro, compartilhava as fotos dos bolos decorados que preparava para a filha todos os meses. "Eu fazia bolos temáticos nos mesversários dela. As pessoas viam e queriam igual."

O Instagram passou a ser a principal vitrine da confeiteira, que hoje se orgulha de ter mais de 171 mil seguidores. Mas o início não foi fácil. Como se não bastasse ter que dividir o trabalho com os cuidados de Catharina, Paula logo descobriu que estava grávida novamente. A diferença de idade entre a primogênita e Helena, 4, é de apenas um ano. "Eu as colocava em um colchão do meu lado e ia preparar os pedidos."

E as encomendas não paravam de chegar. Os experimentos, também. "Eu fazia muito teste, gastava muito insumo e dava para as pessoas provarem. Muitas queriam os bolos, mas em porções menores, no pote. E, assim, ia fazendo o que elas queriam. Aos poucos, ia melhorando, treinando, sem nenhum curso." Paula viu, então, que era chegado o momento de se aperfeiçoar e começou a fazer cursos na área.

No começo, a produção da confeiteira era feita no próprio apartamento, em Ceilândia. Com o crescimento do negócio, mudou-se para uma casa e transformou o barraco dos fundos em ateliê. Realizava, assim, o primeiro de muitos sonhos: ter um espaço e uma cozinha apenas para suas criações. Pouco tempo depois, o local ficou pequeno e Paula foi para outra casa. "Embaixo, funcionava o ateliê; em cima, eu morava com minha família." A ceilandense realizou ainda outro sonho — no ateliê, montou um espaço para dar aulas de confeitaria, com capacidade para receber turmas de, em média, 20 alunos.

Pandemia e Folhatta

Pudim de leite ninho da confeiteira Paula Laryssa
Pudim de leite ninho da confeiteira Paula Laryssa (foto: Anderson Rodrigues/Divulgação)

Passadas duas semanas no novo endereço, porém, veio a pandemia e o lockdown. Para quem pensa que o momento foi de dificuldade para Paula, ela ressalta: "Foi o período em que eu mais vendi. Acho que as pessoas ficaram ansiosas e começaram a encomendar mais e mais doces", brinca. O fato de o ateliê funcionar apenas como take out também ajudou, já que ela não precisou fechar as portas. Já os cursos deixaram de ser presenciais e se tornaram on-line. "Hoje, tenho mais de 15 mil alunos, alguns até fora do país", orgulha-se.

Ainda em 2020, a doceira criou uma sobremesa que fez sucesso em todo o Brasil. A Folhatta é formada por dois cremes à base de nata, massa folhada e morango. "Eu vendia umas 300 folhattas por dia. Dei até entrada no processo de patenteamento dela", garante. "O curso em que ensinei a receita da folhatta teve mais de 3,8 mil alunos."

Em meio a tudo isso, Paula vivia um turbilhão pessoal. No fim de 2019, ela, finalmente, conseguiu sair de um relacionamento que classificava como tóxico. "A partir daí, as coisas deslancharam para mim. Tudo passou a dar certo", afirma.

Tempos depois, conheceu o atual marido, que se tornou o seu parceiro nos negócios. E na vida, claro. Há sete meses, o casal teve o primeiro filho, Theo. Dois meses depois, a história se repetia: Paula descobriu estar grávida. Noah deve chegar em junho, um ano depois do irmão. Mas nada disso tem sido empecilho para ela entrar de cabeça no trabalho.

Há duas semanas, abriu uma loja em Águas Claras. Ao contrário da de Ceilândia, lá é possível se sentar e saborear as delícias preparadas pela confeiteira e sua equipe — hoje, ela conta com 16 funcionários. No cardápio, doces clássicos e gourmet, bolos, bolos no pote e as mais variadas sobremesas. Aliás, a ceilandense sempre está buscando levar novidades aos clientes.

Ela oferece ainda kits para festas e aceita encomendas variadas. E ampliou o menu com salgados assados. As aulas presenciais também voltaram, mas com menos alunos por turma, de seis a sete, por conta dos protocolos de segurança exigidos pela pandemia.

Orgulhosa de todo o esforço que fez para chegar onde chegou, Paula celebra hoje, 6 de março, sete anos de profissão. E conta com uma admiradora pra lá de especial: dona Tita. "Até hoje, minha avó prova tudo o que crio e, quando não gosta, vai logo dizendo: está doce demais, está pesado demais...", diverte-se. E poderia ter melhor controle de qualidade?

Pudim de leite ninho

Ingredientes

2 caixas de leite condensado

A mesma medida de leite

6 ovos

4 colheres de leite ninho

Para a calda

300g de açúcar

150ml de água

Modo de fazer

Bata tudo no liquidificador por uns 10 minutos, para que não fique com cheiro de ovo.

Faça a calda: derreta o açúcar até ficar moreno, ponha a água e vá mexendo até desfazer o açúcar. Deixe cozinhar até ficar grosso.

Coloque a calda na forma e, por cima, o creme do pudim.

Asse em forno preaquecido a 150 graus, em banho-maria, por uma hora ou até enfiar o palito e sair com a massa mais grossa. Pode utilizar tanto potes individuais, de 200ml, tampados com papel-alumínio, ou forma de furo com 25cm de diâmetro, também tampada com papel-alumínio.

Serviço

Instagram:
@confeitariapaulalaryssa

Lojas: Ceilândia — QNN 18, Conjunto E, Casa 20

Águas Claras: Rua 33 Sul, Lote 5, Loja 17

 

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    Revista. Encontro com o chef. Paula Laryssa, confeiteira de Ceilândia que acaba de abri loja em Águas Claras. Foto: Anderson Rodrigues/Divulgação
  • Revista. Encontro com o chef. Paula Laryssa, confeiteira de Ceilândia que acaba de abri loja em Águas Claras.
    Revista. Encontro com o chef. Paula Laryssa, confeiteira de Ceilândia que acaba de abri loja em Águas Claras. Foto: Anderson Rorigues/Divulgação
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    Pudim de leite ninho da confeiteira Paula Laryssa Foto: Anderson Rodrigues/Divulgação
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    Confeiteira Paula Laryssa Foto: Anderson Rodrigues/Divulgação
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    Pudim de leite ninho da confeiteira Paula Laryssa Foto: Anderson Rodrigues/Divulgação
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