Neurônios em dia

Pernambuco é inspiração para se ter um cérebro afiado

Com a inspiração da obra de pernambucanos ilustres, como Chico Science e Lenine, veja as dicas para se manter vivo, com a mente ativa e o cérebro turbinado

Dr. Ricardo Teixeira*
postado em 24/03/2022 14:07 / atualizado em 24/03/2022 14:08
 (crédito: Paulo André Pires/Arquivo pessoal)
(crédito: Paulo André Pires/Arquivo pessoal)

"É só uma cabeça equilibrada em cima do corpo", Chico Science & Nação Zumbi.
Costumo provocar alguns dos meus pacientes que buscam minha orientação sobre como melhorar o funcionamento do cérebro, de que existe uma hierarquia nas tarefas. A maioria está pensando em melhorar a memória, a concentração e as capacidades executivas. A hierarquia de tarefas se dá numa certa direção. Para otimizar essas capacidades, precisamos estar vivos. Precisamos estar acordados. Precisamos prestar atenção às coisas. Só, então, atingiremos bom desempenho na memória e outras funções cognitivas complexas. Só que no meio desse caminho há uma pedra: nosso equilíbrio psíquico. Você pode estar vivo, mas se o equilíbrio emocional não estiver bem modulado, o resto da cadeia fica bem prejudicada.

Isso já se reflete no segundo passo, que é estar acordado. O sono é influenciado sobremaneira pelas nossas emoções. Fica extremamente perturbado quando estamos preocupados, ansiosos ou deprimidos, sem falar de tantas outras condições que perturbam a qualidade do sono, muitas delas muito comuns, como o excesso de trabalho e o consumo exagerado de álcool. Como exigir desempenho do cérebro sem um sono reparador? O fato é que muitos desses fatores ameaçam também o primeiro estágio de nossa hierarquia, que é o de nos mantermos vivos. Maiores índices de doenças que reduzem nossa expectativa de vida não nos ajudarão a passar para os próximos estágios.

Temos um “zilhão” de evidências de que muitas ações que promovem o melhor funcionamento cerebral carregam também o potencial de modular nossas emoções. A atividade física regular libera substâncias no cérebro que o faz funcionar melhor. A mesma atividade física também ajuda no controle das emoções no dia a dia por outras vias neuroquímicas. E, aqui, nossa hierarquia de ações ganha autonomia de voo, com menos obstáculos para melhores resultados nas funções cognitivas complexas.

O mesmo raciocínio vale para a sociabilidade, o trabalho altruísta, a experiência da arte, o contato com a natureza. E coisa boa atrai outras coisas boas. Onde encontramos lazer, encontramos também mais limites no tempo dedicado ao trabalho. É claro que estamos falando daqueles que têm poder de escolha. Chico Science nos lembra disso em Samba Makossa: "A responsabilidade de tocar o seu pandeiro é a responsabilidade de você manter-se inteiro". Se temos poder de escolha, somos um pouco mais responsáveis em manter-nos inteiros do que aqueles que não têm teto, comida na mesa ou que vivem num sistema Casa Grande e Senzala.

E coisa ruim atrai outras coisas ruins. O uso de substâncias neurotóxicas, por exemplo, atrai comportamentos que afetam toda nossa cadeia hierárquica, comprometendo a chance de nos mantermos vivos, nosso sono, nossa cognição. É o tão conhecido círculo vicioso.

Mas se essa discussão está ficando mais embolada do que você esperava, caro leitor, vamos a uma lista simples de atitudes para turbinar seu cérebro.

- Durma bem
- Pratique atividade física regularmente
- A dieta mediterrânea pode preservar o funcionamento do seu cérebro ao longo dos anos (peixes, cereais integrais, frutas, legumes, azeite, pouca carne e laticínios)
- Evite substâncias neurotóxicas, e aqui se inclui o uso exagerado de álcool
- Sua socialização faz muita diferença
- Seu cérebro precisa de atividades estimulantes
- E, nesses tempos de pandemia e guerra, mantenha a cabeça equilibrada em cima do corpo, procurando antenar boas vibrações, preocupando antenar boa diversão. Termino com Lenine, mais um ilustre pernambucano: "Enquanto todo mundo espera a cura do mal… A gente espera do mundo e o mundo espera de nós, um pouco mais de paciência".

*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista e diretor clínico do Instituto do Cérebro de Brasília

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