Neurônios em dia

Quando as mulheres ganham mais que os homens, o trabalho de casa ficar maior para elas

Pesquisa publicada na Universidade de de Bath, na Inglaterra, mostra que casais com filhos, em que a mulher ganha mais do que o homem, acabam fazendo a divisão do trabalho doméstico ainda mais desequilibrada

Dr. Ricardo Teixeira*
postado em 08/04/2022 13:57

Isso mesmo. Estudo publicado por Joanna Syrda, da Universidade de Bath, na Inglaterra, mostra que casais com filhos, em que a mulher ganha mais do que o homem, acabam fazendo a divisão do trabalho doméstico ainda mais desequilibrada. E esse desequilíbrio é no sentido de mais trabalho para a mulher. E estamos falando só de limpeza, cozinha e outros trabalhos domésticos, sem incluir qualquer trabalho com os filhos.

A racionalidade econômica sugere que o casal, especialmente os com filhos, encontrará um equilíbrio ideal nas tarefas de casa quando se coloca no tabuleiro o tempo livre e os ganhos de cada um. O homem ou a mulher, quando precisa trabalhar mais horas e tem a chance de um ganho maior que seu cônjuge, tem uma justificativa até razoável de contribuir menos com as tarefas de casa. Mas o que Syrda apontou é que esse raciocínio parece ser válido só para os homens. Muitos casais partem de uma condição fora da norma, da mulher ganhando mais que o homem, promovendo simultaneamente um incremento da assimetria das atividades domésticas, o que permite parecerem, para si mesmos e para os outros, mais próximos da norma. E esse incremento de assimetria é a mulher cuidando ainda mais da casa que o homem, mesmo trabalhando mais e ganhando mais. Reafirmam identidades ameaçadas e aumentam a tradição que se espera de um casal.

Syrda lembra da importância do ajuste nessa divisão de participação no trabalho de casa, especialmente quando nascem os filhos. Um padrão de divisão disfuncional deve ser discutido já na sua gênese, pois depois de uma rotina estabelecida, tudo fica mais difícil de renegociar. Isso sem falar na experiência que os filhos terão assistindo essa divisão de trabalho sem sentido que poderá ser replicada quando chegarem à idade adulta. Ela conclui o artigo lembrando da revolução comportamental da década de 1960 que deveria, no longo prazo, ter uma crescente participação dos homens nas atividades domésticas à medida que as mulheres estivessem na rua trabalhando, muitas das vezes, com salários superiores aos deles. Como reativar essa revolução?

Foram estudadas mais de seis mil famílias americanas num período de oito anos, todos os casais com relação heterossexual.

*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista e diretor clínico do Instituto do Cérebro de Brasília

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