"O asfalto pode ser de segunda, as casas podem ser de terceira, mas as pessoas são de primeira", afirma dona Isadir, personagem principal da série sobre os moradores do Cachambi, bairro do subúrbio do Rio de Janeiro. Essa frase rege a produção original Netflix de comédia criada e protagonizada por Rodrigo Sant'Anna, que estreou na última quarta-feira na Netflix.
A série apresenta Isadir, uma professora aposentada moradora do Cachambi, que durante a pandemia precisa se mudar para a casa do filho Carlos (Rafael Zulu), morador de um bairro rico do Rio de Janeiro. Os anos da covid-19 passam e ela continua na casa tendo problemas com Alice (Lidi Lisboa), esposa do filho, e criando confusões na casa e na família. Pedro Ottoni, Bárbara Sut, Daniela Fontan e Solange Teixeira são outras peças importantes do elenco.
A série tem no embate entre a realidade suburbana da mãe e o local rico onde ela está morando a maior parte da comédia. Rodrigo Sant'Anna traz as pessoas e os costumes da população do subúrbio para os holofotes. "A minha tentativa é sempre trazer o protagonismo para essas figuras. Ainda que sejam engraçadas, elas têm uma história que merece ser contada com relevância. Eu aprendi a admirar essas pessoas e, para mim, é muito importante poder catapultá-las para esse mundão de meu Deus", explica o ator e criador da obra.
Rodrigo trouxe um pouco da própria vivência para representar da melhor forma os personagens que são comuns nos subúrbios e periferias do Rio. "Eu, preto, morador de comunidade e gay, cheguei até aqui para contar tudo isso. Então, para mim, é realmente emocionante poder chegar até aqui e contar tudo isso sabendo que vai chegar a tantos países", afirma o artista, nascido e criado na comunidade do Morro dos Macacos, próxima ao bairro de Vila Isabel, também no Rio de Janeiro. "É hora de tornar as nossas histórias mais plurais, dar lugar a novas vozes e mudar um pouco esses estereótipos que foram criados até aqui", completa.
Para conseguir essa representação, ele se inspirou na própria mãe, que também passou parte da pandemia com ele. "Muita coisa da série eu vivi. Óbvio, usando a criatividade para dar uma aumentada", conta. "Hoje, eu agradeço, porque se não fosse ela me infernizando, a gente não tava aqui batendo papo." Rodrigo lembra que a mãe assistiu aos episódios antes de eles saírem para a aprovação. "A primeira executiva a quem recorro é a minha mãe", brinca.
Sant'Anna agora quer que a série leve a cara do Brasil, e da família e vivência dele, para o mundo. "Queremos mostrar um pouco da personalidade da comédia desse tipo de situação, com uma teatralidade, com uma pegada expansiva, que eu acho que tem a cara da nossa brasilidade", comenta o artista. "Fico ansioso para mostrar para o público dos 193 países que tem acesso à Netflix", complementa.
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