O para-raio de chato é um tipo curioso. Ninguém sabe o tipo de energia que ele emana para atrair insuportáveis figuras que vagueiam pelo mundo com o único propósito de perturbar a paz alheia. São como mosquitos, carrapatos ou chatos mesmo, daqueles que habitam as partes baixas, entre pelos, rugas e suor e que os cultos chamam de pediculose pubiana e o serrano chama de piolho.
Da mesma forma que normalmente um mosquito escolhe sua vítima entre várias pessoas na mesa, o chato humano também tem essa capacidade — vai direto no para-raio. Mas, ao contrário do que se diz das descargas elétricas, o chato costuma cair duas, três ou mais vezes no mesmo lugar. Eu tenho um amigo assim.
Onde ele vai, é certo que haverá um chato rondando por perto e que vai chegar. O problema é que sobra para todo mundo que está perto, porque o chato não conhece limites.
Há vários tipos de chato, mas todos têm uma coisa em comum: a insistência. Eles não perguntam alguma coisa apenas uma vez, ainda mais se são responsáveis por qualquer pedacinho do que está posto à frente. "Comprei essa empadinha, tá boa?", questiona, já se colocando como agente importante da ação.
A pergunta vai ser refeita diversas vezes e, mesmo se o assunto tiver mudado para saber se a Juma Marruá de hoje é melhor que a outra, o chato dá um jeito de falar do raio da empadinha. Há saída para esse tipo de chato, além da paciência: o silêncio. Chato não suporta silêncio; talvez porque não saiba conviver com ele próprio, uma pessoa tão insuportável.
E eles adoram um bar. Talvez pelo ambiente democrático e descontraído, que pode ser confundido com balbúrdia — embora o bom boteco seja um lugar ordeiro, com regras claras e definidas pelo ditador que tem o lápis atrás da orelha. O chato flana pelas mesas à procura de um olhar que ele acredita ser convidativo para lançar sua teia enfadonha.
Há quem acredite que a presença dos chatos emudece os passarinhos; não sei se é verdade, mas acredito, porque se ninguém tem vontade de falar nada perto do chato, avalie cantar. O inoportuno impõe sua presença, senão não chatearia. E vai ficando, senão não aborreceria.
Um amigo ensina uma nova forma de lidar com os chatos. Instalou uma traquitana qualquer no telefone que toca mesmo sem ter sido chamado e, assim, tem a desculpa perfeita para se livrar do incômodo, levantando-se e já dizendo: "Desculpe, preciso atender essa". E sai até o aborrecedor desistir. Testei, aprovei, mas vi que não é simples: o chato persevera.
E se recicla. Um dos mais conhecidos espécimes de chato era o chutador, que não deixava nada sem resposta, ainda que não soubesse o correto. Com Google e internet, era de se prever que ele desaparecesse. Qual o quê! Agora ele fica à espera de qualquer dúvida que surja para sacar o celular e procurar respostas, ainda que seja na Wikipédia.
A única certeza é que ainda não foi criado o repelente contra o chato. Estão perdendo dinheiro.
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