Neurônios em dia

Privação de sono nos deixa mais egoístas, aponta pesquisa

No dia seguinte a uma noite mal dormida, os voluntários do estudo se mostraram com menor tendência a ações altruístas simples, como abrir a porta para o outro

Dr. Ricardo Teixeira*
postado em 02/09/2022 13:59 / atualizado em 02/09/2022 13:59
 (crédito: kleber sales)
(crédito: kleber sales)

Um estudo recém-publicado pelo periódico PLOS Biology e conduzido por pesquisadores da Universidade de Berkeley no EUA demonstra que a falta de sono afeta nossas interações sociais fazendo com que tenhamos menor tendência em ajudar os outros. No dia seguinte a uma noite mal dormida, os voluntários se mostraram com menor tendência a ações altruístas simples, como abrir a porta para o outro. O estudo mostrou também que a privação de sono leva a uma menor ativação no cérebro de áreas envolvidas na empatia e, por último, de que doações para fundos de caridade são 10% menores na primeira semana do horário de verão, nos estados americanos que adotam essa medida.

A pesquisa aponta a importância do sono não mais focada no indivíduo, mas sua relevância nas interações sociais. Individualmente, já sabíamos que a privação de sono está associada a um maior risco de doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão arterial, obesidade, depressão e disfunção sexual. O presente estudo revela que um sono insuficiente degrada as interações sociais entre os indivíduos, degrada nossa consciência social básica de ajudar o outro. Não dormir bem afeta não só o seu bem-estar físico e emocional, mas os efeitos deletérios do seu círculo social e até de estranhos. O sono adequado poderia até ser considerado um “lubrificante social”.

Estudos anteriores mostraram que a privação de sono leva a um julgamento mais negativo das expressões faciais dos outros e pode estar associado a uma menor motivação para a interação social no mundo real. Isso também foi sugerido pelos resultados de uma pesquisa publicada pela Nature Communications em 2018. Muito interessante é o fato de que a privação de sono dispara um sinal de repulsa social naqueles que estão sem dormir, mas também entre aqueles que estão interagindo com o insone. Como dizemos anteriormente, os efeitos se dão em rede!

E a relação entre privação de sono e sociabilidade é de via dupla. Camundongos submetidos a isolamento social passam a ter o sono menos eficiente. Em humanos acontece o mesmo: a promoção de socialização melhora o padrão do sono e a falta de sono aumenta a tendência ao isolamento social. Sabemos também que a privação de sono está associada uma maior ativação das amígdalas cerebrais quando em frente a estímulos de contextos negativos ou prazerosos. Vale lembrar que amígdalas ativadas aumentam o hormônio do estresse cortisol e nos deixam prontos para a luta ou para a fuga.

*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista e diretor clínico do Instituto do Cérebro de Brasília

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação