Neurônios em dia

Para a ciência, os opostos não se atraem. Entenda a acrofilia

Pesquisas mostram que uma pessoa tem o código genético mais parecido com o do seu parceiro ou parceira quando comparado ao DNA de outras pessoas com mesmo nível socioeconômico, etnia e origem de nascimento

Ricardo Afonso Teixeira*
postado em 02/05/2023 19:49
 (crédito: Barbara Cabral/Esp. CB/D.A Press)
(crédito: Barbara Cabral/Esp. CB/D.A Press)

Os gregos já falavam do amor pelo semelhante e cunharam o termo homofilia. A homofilia realmente é um fenômeno inequívoco, mas há também a acrofilia — amor pelos extremos. As pessoas tendem a dar mais atenção àqueles que pensam de forma similar, homofilia, mas também têm mais atração por opiniões extremas, mesmo que sejam diferentes das delas próprias. As pessoas com opiniões extremas podem ser vistas pelo outro como mais engajadas, talvez mais interessantes. Estudos têm mostrado, como já era esperado, que a combinação de homofilia e acrofilia política alimenta a segregação, tornando mais difícil a cooperação, dimensão essencial para uma sociedade saudável.

A acrofilia tem sido estudada entre pessoas que nem se conhecem, situação muito distante de uma relação próxima, como a de um casal. Numa relação a dois, temos um corpo muito robusto de evidências de que os opostos não se atraem. Aqui a homofilia tem que existir para que a relação tenha maior chance de durar.

A tal história que os opostos se atraem realmente é um mito. As pessoas costumam se casar com outras com nível educacional/socioeconômico parecido, com crenças religiosas e políticas semelhantes e que têm mais interesses em comum. E a bagagem que carregamos no nosso código genético influencia também a escolha do nosso parceiro. Pesquisas mostram que uma pessoa tem o código genético mais parecido com o do seu parceiro ou parceira quando comparado ao DNA de outras pessoas com mesmo nível socioeconômico, etnia e origem de nascimento.

Pessoas com mais semelhanças que diferenças têm mais chance de se atrair para construírem uma relação de longo prazo. Entretanto, vale sempre a pena lembrar que respeitar e incentivar as diferenças pode ser uma das melhores receitas para que essa relação se sustente.

*Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e diretor do Instituto do Cérebro de Brasília

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