Uma condição inflamatória crônica, que pode atingir qualquer parte do revestimento digestivo, desde a boca até o ânus. Essa é a doença de Crohn, um quadro que requer cuidado redobrado e uma atenção especial, sobretudo pelos fortes sintomas que é capaz de causar no indivíduo. Por não ter cura, seu tratamento se torna fundamental para uma melhor qualidade de vida aos pacientes.
De acordo com o Ricardo Coutinho Nogueira, gastroenterologista da clínica Digestive, no Hospital Santa Marta, a doença de Crohn pode provocar dor abdominal e diarreia, além de trazer sérios problemas ao intestino delgado. "Algumas pessoas podem não apresentar sinais em grande parte da vida, enquanto outras podem ter sintomas crônicos e graves. As principais queixas dos pacientes incluem cólica abdominal, diarreia, perda de apetite e de peso e, em casos específicos, fístulas, sangue e muco nas fezes", detalha Ricardo.
Segundo o especialista, esse quadro nasce a partir de uma desregulação do sistema imunológico de defesa, não existindo uma causa única definida. Para o surgimento da doença de Crohn, fatores como genética, disfunções no sistema imunológico e o estilo de vida, incluindo alimentação e níveis de estresse, desempenham um papel importante no desencadeamento e agravamento dos sintomas.
Está aberta, até 18 de junho, uma consulta pública que avalia a incorporação de um tratamento subcutâneo, no SUS, para indivíduos que apresentam doença de Crohn de moderada a grave que tiveram resposta inadequada às terapias convencionais.
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Alerta mundial
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 10 milhões de pessoas em todo o mundo vivem com a doença de Crohn e a colite ulcerativa, ambas conhecidas como doenças inflamatórias intestinais (DII).
Nível nacional
Um estudo publicado pela revista The Lancet Regional Health Americas, em 2022, revelou que a quantidade de pessoas diagnosticadas com doenças inflamatórias intestinais aumentou em 233%, de 2012 a 2010. A pesquisa ainda aponta que os casos envolvendo a doença de Crohn cresceram 167,4% neste mesmo período.
Assistência médica
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece medicamentos — incluindo os biológicos — para tratamento contra a doença de Crohn. E para melhorar ainda mais esse acesso, está aberta, até 18 de junho, a consulta pública que avalia a incorporação de um tratamento subcutâneo, no SUS, para indivíduos que apresentam doença de Crohn de moderada a grave — e que também não tiveram evoluções significativas com terapias convencionais.
Casos conhecidos
No Brasil, o jornalista Evaristo Costa deu visibilidade ao tema quando passou a falar sobre os dilemas que enfrenta com a doença de Crohn. Em uma entrevista ao podcast PodCringe, ele disse que perdeu mais de 20kg em três semanas, resultado do corte de corticoides que fazia para o tratamento. "Todos os dias me sinto definhando", disse durante o episódio. Evaristo foi diagnosticado com o quadro em 2021.
Diagnóstico
Segundo o médico Ricardo Coutinho, o diagnóstico da doença de Crohn é feito por meio da combinação de exames clínicos, exames de imagem — principalmente a colonoscopia — e análises laboratoriais. "Não existe um exame único que confirme a doença, mas, sim, um processo de avaliação que integra diversos dados combinados", afirma.
Palavra do especialista
Qual a melhor forma de tratamento contra a doença de Crohn?
O objetivo do tratamento contra esse quadro acaba sendo o controle da atividade inflamatória, já que não é uma doença que tenha cura. Temos que tentar promover o bem-estar do paciente através de um controle da atividade da doença, ou seja, controlar as dores abdominais, as dores articulares, os eventos de diarreia, evitando o máximo possível que o paciente acabe evoluindo com algum tipo de má absorção, já que, com esses eventos de diarreia, o indivíduo acaba tendo uma perda da capacidade de absorção dos elementos, dos micro e dos macronutrientes. Nesse sentido, começamos a prescrever, desde a fase aguda, a utilização de corticoterapia, que seriam de corticoides, de esteroides, até mesmo a utilização de imunomoduladores.Isso com o paciente fazendo acompanhamento com o médico, com o nutricionista, sempre de forma a tentar controlar e evitar que apresente um novo evento de evolução da doença. Em alguns momentos, também prescrevemos antibióticos, justamente para diminuir o processo inflamatório ativo naquele período.
Quais complicações a doença de Crohn pode levar à saúde?
Temos duas divisões principais, tanto as complicações intestinais quanto as extraintestinais, levando em consideração que esses dois componentes estão relacionados a uma doença inflamatória em atividade, onde não houve um processo de interrupção do processo inflamatório, porque o principal objetivo do tratamento acaba sendo esse. Dentro das complicações intestinais, uma das formas que a gente mais encontra seria a formação de obstruções — onde seria esse fechamento da luz intestinal por conta das inflamações, ou mesmo perfuração, formação de abscesso. As manifestações extraintestinais podem ocorrer tanto de dores articulares quanto até mesmo de manifestações cutâneas, nas quais apresentam feridas na pele difíceis de cicatrizar. Mas isso está relacionado também a uma atividade inflamatória, ou seja, o paciente ainda está apresentando aquele componente da diarreia que não foi bem controlado.
Talles Borges Pereira é gastroenterologista do Hospital Santa Marta e da Clínica Digestive
