ÉTICA & FINANÇAS

Ex-gerente do Facebook que denunciou a rede depõe no Senado dos EUA

Frances Haugen afirma que a rede social está ciente de que usuários utilizam o espaço de forma nociva, desde deturpamento de imagem até tráfico humano

Um dia após sofrer uma queda global de mais de sete horas, o Facebook enfrenta um novo desafio: se preparar para refutar as denúncias que serão expostas pela ex-gerente de produtos da rede, Frances Haugen, no Senado americano na manhã desta terça-feira (5/10). 

A denunciante compartilhou valiosos documentos do Facebook com o The wall street journal, em que revelava que a rede social está ciente de que o mecanismo criado pode gerar prejuízos à sociedade. Entre as denúncias, estão a de que a empresa sabe que os produtos são usados para facilitar o tráfico humano e também recrutar pessoas para cartel de drogas. 

"O Facebook demonstrou várias vezes que prefere os lucros acima da segurança. Está subsidiando, está pagando seus lucros com a nossa segurança", disse Haugen. "A versão do Facebook que existe hoje está destruindo nossas sociedades e causando violência étnica em todo o mundo", enfatizou.

Haugens revelou a própria identidade no domingo (3/10) em uma entrevista televisionada nos Estados Unidos e acusou a empresa de colocar "os lucros acima da segurança". A cientista de dados de 37 anos trabalhou para empresas como Google e Pinterest e disse, em entrevista ao programa de notícias 60 Minutes, da CBS, que o Facebook é "substancialmente pior" que tudo o que já viu antes.

O Senado dos EUA começará a apurar a denúncia de que a gigante das redes sociais sabia que os produtos alimentam o ódio e prejudicam a saúde mental das adolescentes. 

De acordo com documentos expostos por Haugen, o Facebook tinha acesso a dados que mostravam que 32% de meninas de 13 anos afirmavam que o Instagram faz com que elas se sentissem mal com o próprio corpo

Frances afirma que o Facebook sabe caminhos de deixar as plataformas que opera mais seguras para adolescentes, mas escolhe apenas o lucro.

Algoritmo impulsionava publicações que gerassem "reações"

Na entrevista ao 60 Minutes, Frances explicou como o algoritmo, que escolhe qual conteúdo mostrar para cada usuário, está otimizado para o conteúdo que gera uma reação. A própria investigação da empresa mostra que é "mais fácil inspirar as pessoas à raiva do que a outras emoções."

"O Facebook percebeu que, se mudar o algoritmo para que seja mais seguro, as pessoas passarão menos tempo no site, clicarão em menos anúncios e vão gerar menos dinheiro".

Haugen disse que durante as eleições presidenciais americanas de 2020, a empresa percebeu o perigo que esse conteúdo representava e ativou os sistemas de segurança para reduzi-lo.

No entanto, "assim que as eleições acabaram, esse sistema foi apagado, a configuração voltou a ser a mesma de antes, para priorizar o crescimento e não a segurança. Isso realmente me parece uma traição à democracia", disse.

"O Facebook ganha mais dinheiro quando você consome mais conteúdo (...). E quanto mais você sentir raiva, mais vai interagir, mais vai consumir".

No domingo, o vice-presidente de política e assuntos globais do Facebook, Nick Clegg, também rejeitou a afirmação de que suas plataformas são "tóxicas" para os adolescentes, dias depois de uma tensa audiência no Congresso na qual os legisladores americanos interrogaram a empresa sobre seu impacto na saúde mental dos usuários jovens.

Com informações da Agência France-Press

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