Um novo instrumento desenvolvido por cientistas norte-americanos promete transformar as pesquisas em engenharia de tecidos e das terapias regenerativas. Criado por uma equipe multidisciplinar da Universidade de Washington e da Escola de Medicina afiliada, o sistema batizado de stomp (Padronização Microfluídica Aberta de Tecido Suspenso) surge como uma solução acessível e com elevado grau de adaptação, oferecendo nível de precisão até então inédito na simulação de tecidos humanos em laboratório. O estudo foi publicado na revista Advanced Science.
O stomp permite a organização seletiva de diversos tipos celulares em um mesmo suporte de hidrogel e possibilita a imitação de regiões biológicas complexas, algo fundamental para estudar distúrbios envolvendo múltiplos tecidos, como patologias neuromusculares.
A inovação se destaca por aprimorar um método conhecido como fundição de tecidos — processo que envolve a deposição de géis compostos por células e materiais sintéticos em moldes. Em vez de depender de recipientes fechados, a nova plataforma utiliza canais abertos que exploram a ação capilar para conduzir os elementos biológicos até posições definidas com exatidão. Com esse mecanismo, pesquisadores conseguem criar interfaces como as encontradas entre músculos e tendões ou entre áreas saudáveis e lesadas do miocárdio.
Segundo os idealizadores, essa versatilidade é comparável à precisão de um chef de cozinha ao organizar os ingredientes para uma sobremesa complexa. A estrutura física do stomp tem dimensões minúsculas — semelhante à extremidade de um dedo humano — e se encaixa em um sistema de dois pinos previamente criado para estudar contrações de tecidos cardíacos.
Colaborativa
A pesquisa envolveu cientistas das mais distintas áreas, como Ashleigh Theberge, professora de química; e Nate Sniadecki, engenheiro mecânico e especialista em biomecânica. Ambos são coautores de estudos voltados à medicina regenerativa e lideraram os testes do novo equipamento.
As investigações foram conduzidas por doutorandas e pós-doutorandas, como Amanda Haack e Lauren Brown com apoio dos professores, como Cole DeForest, que contribuiu com uma inovação paralela: paredes degradáveis que facilitam a retirada do tecido formado, sem comprometer sua integridade. Já Tracy Popowics, pesquisadora de biologia bucal, participou dos testes envolvendo tecidos ligamentares que conectam dentes ao osso alveolar — um modelo útil para pesquisas odontológicas e de regeneração óssea.
Dois estudos de validação mostraram como o stomp consegue distinguir as diferenças entre amostras saudáveis e doentes. Em um deles, tecidos cardíacos com fibrose foram comparados com estruturas normais, revelando diferenças nas propriedades contráteis. Em outro experimento, foi recriado o microambiente do ligamento periodontal, indicando a aplicabilidade do dispositivo em odontologia regenerativa.
Além da capacidade de manipulação espacial, o projeto se destaca por sua função antiaderente, pois evita que células menos robustas percam a estrutura durante o cultivo, uma limitação comum em outras técnicas tridimensionais. Para Theberge, o impacto do novo sistema vai muito além dos estudos atuais. "Foi uma verdadeira colaboração interdisciplinar. Estamos apenas começando a explorar o que essa tecnologia pode oferecer à pesquisa biomédica", afirmou.
O trabalho recebeu apoio financeiro dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH), além de recursos de fundações voltadas ao estudo de distrofias musculares e parcerias com universidades como a de Wisconsin. Com o stomp, a engenharia de tecidos entra em uma nova fase, na qual a criação de modelos biológicos ricos em detalhes e multifuncionais se torna não apenas possível, mas também acessível a laboratórios em diferentes locais do mundo.
*Estagiária sob supervisão de Renata Giraldi
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