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Junho e julho em foco: como o Brasil transforma tradição em aquecimento econômico e cultura

Das cores vibrantes das bandeirinhas juninas à harmonia erudita dos festivais de inverno, um mergulho no Brasil que transforma junho e julho em calor humano, valorização da fé e prosperidade cultural.

Junho e julho em foco: como o Brasil transforma tradição em aquecimento econômico e cultura (Cidade Junina - Canaã dos Carajás/ PA (Foto: Ubiraney Silva))

Essa semana, pensei muito em uma pauta adequada à época do ano, e claro, pensei em preparar um conteúdo abordando a movimentação socioeconômica, os impactos gerados na economia, no meio ambiente e na sociedade, durante os festejos populares tradicionais do Brasil neste período considerado “junino”.

Naturalmente para isso, não ousei me esquecer da importância dada à alusão aos santos celebrados neste período como Santo Antônio no dia 13, São João no dia 24 e São Pedro no dia 29 de junho, levando em conta sua relação e vinculação aos festejos.

Como vivo em Minas Gerais, quis também considerar as comemorações tradicionais da estação. Por aqui, o inverno é o ponto alto e aprendemos ao longo dos tempos, relacionar os festejos juninos à rica programação ofertada pelos Festivais de Inverno, normalmente oriundos do ambiente acadêmico. Quando o assunto é festa, no Brasil, junho e julho não são apenas uns meses, para muitos, são um estado de espírito!

O espirito junino pelas ruas do Brasil

Quando o frio começa a apertar pelos vales e montanhas e o cheiro de milho cozido e das frituras invade as ruas, as cidades se transformam em um grande arraial. As escolas e as cidades se enchem de bandeirinhas coloridas, que tremulam como se dançassem, anunciando que as festas estão a caminho.

O som do forró fica mais atraente, o piseiro sobe ao palco, as sanfonas tomam seus lugares e a alma brasileira se aquece ao redor das fogueiras. É tempo dos Santos e atrás de Antônio, João e Pedro, os patronos da alegria, nos entregamos a verdadeiras celebrações de energia, fé, manifestações da cultura e resgatamos a identidade do interior brasileiro.

Navegando na internet e observando o noticiário, fica evidente, que no Nordeste, o calendário junino é praticamente sagrado. Campina Grande e Caruaru disputam, ano após ano, o título de “Maior São João do Mundo”, atraindo um sem fim de visitantes e, certamente, movimentando cifras agora bilionárias.

Em Mossoró, o espetáculo “Chuva de Bala no País de Mossoró” transformou a história local em um alento de arte, enquanto em São Luís, o não menos tradicional Bumba Meu Boi reverbera ancestralidade e potência.

Em Parintins, no Amazonas, a poucos dias, acompanhamos uma saudável batalha de tradições com os bois bumbás Garantido e Caprichoso. Uma guerra entre o azul e o vermelho, que na edição de 2025 deu o que falar! Os ânimos se exaltaram por lá, já que o resultado não foi satisfatório para um dos lados. Nos cabe respeitar as opiniões e comportamentos.

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No Pará, presenciei a riqueza e a beleza da decoração de rua em Canaã dos Carajás, que está em festa, com mais uma edição do Cidade Junina, com uma programação cultural e festiva de encher os olhos.

Canaã dos Carajás/ Pará (Foto: Ubiraney Silva)

Importante ressaltar a eficiência destas comemorações em todo o Brasil, porque são festas que não apenas celebram, mas sustentam profissionais autônomos como costureiras, agricultores, músicos, artesãos, o comércio ambulante, profissionais da comunicação e tantos outros segmentos, que veem nesse ciclo uma oportunidade de renda e visibilidade.

A economia se aquece e a moeda circula fomentando a geração de divisas e muitas oportunidades de trabalho temporário.

O calendário de inverno em Minas Gerais

O bom, é que não é só o Nordeste que dança quadrilha, pelo contrário. Em Minas Gerais, o calendário junino mobiliza milhares de pessoas em centenas de cidades. No interior, as festas ganham contornos próprios.

Tradições interessantes, como a do município de Ingaí, onde a fogueira de São João se aproxima a 30 metros de altura. Em Pavão, no vale do Mucuri, o Forró do Regaço resgata tradições rurais como o pau-de-sebo e o levantamento de mastro, cultura popular genuína. São celebrações que unem o sagrado e o profano e juntam o rural e o urbano, resgatando o passado e enriquecendo o presente.

Em Itabirito, também em Minas Gerais, a festança acontece nos quatro dias de realização do Julifest, um dos maiores festivais juninos do interior mineiro, que com mais de 30 anos de existência, contribui para a capacitação das entidades organizadas nos bairros em um exemplar modelo de treinamento de lideranças e apuro do terceiro setor com um belo programa de ação comunitária.

Interessante que, enquanto o povo se aquece nas festas populares, Minas Gerais vive um curioso contraponto. Estamos também no período dos festivais de inverno.

Os festivais de inverno

Em cidades como Ouro Preto, que lançou sua programação de inverno essa semana, São João Del Rei, Tiradentes dentre outros municípios, “a programação se volta para o erudito, o acadêmico e o experimental” segundo o site oficial da UFMG. “Com mais de meio século de história, os festivais de inverno das universidades federais mineiras são um verdadeiro patrimônio do estado”, complementam

Reflexões sobre cultura e território, oficinas, colóquios, exposições, shows populares e muita interatividade, são elementos que enriquecem o inverno mineiro e promovem o diálogo e novas possibilidades para a arte e para ambientes de transformação social.

O Festivais de Inverno, pela vertente acadêmica, muitas vezes vistos como elitizados, não competem com os festejos populares, pelo contrário, o calendário de eventos fica enriquecido, diverso e atraente para vários públicos.

Se por um lado, as festas juninas promovem a diversão coletiva, os festivais de inverno, entre morros e cenários históricos, promovem o lúdico, o olhar cultural e convidam à introspecção.

Uns comemoram e se divertem nas ruas e outros se satisfazem nas salas de aula, nas oficinas, nos palcos internos dos teatros, nas manifestações e cortejos de rua, mas no fundo, todas as atividades são expressões legítimas do comportamento social, que caracteriza a mineiridade, um misto de acolhimento e criatividade que aquece o inverno entre as montanhas.

O impacto do período de inverno na economia

Foto: Ubiraney Silva

Pensando comercialmente, no período festivo o impacto vai além da alegria. Segundo o Ministério do Turismo, os festejos juninos devem movimentar aproximadamente 8 bilhões em 2025. Um volume considerável de recursos, o que demonstra a força da motivação cultural para os eventos.

Em muitos casos e minha cidade é um exemplo disso, o período junino é mais aguardado, que o carnaval. Em junho e julho, o comércio local se vê aquecido com o aumento de vendas de produtos típicos da época e as quitandeiras, cozinheiras e representantes da gastronomia popular se dedicam dia e noite para darem conta de tamanha demanda.

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As comunidades dançam e comemoram muito nas quadrilhas juninas, mas um bom percentual da frequência se dá pela força das guloseimas tradicionais do período, que facilmente convencem o povo à participação.

Não é só o comércio local, o setor de alimentação e o turismo, que se aquecem, a indústria têxtil também se vê impulsionada por tamanha expressão cultural.

E em tempos de valorização das ações sustentáveis, a festança também se vê às voltas com desafios. O aumento do consumo, naturalmente gera resíduos, pressiona os serviços públicos e exige um planejamento ambiental mais atento. Mas em 2025, isso é só um lembrete de que tradição e sustentabilidade precisam dançar juntas.

No fim das contas, No Sudeste e Sul, seja ao som da sanfona ou do violoncelo, o que se celebra em junho e julho, é a capacidade do povo brasileiro de transformar as baixas temperaturas do inverno em calor humano, tradição em futuro, e festa em força.

No Norte e Nordeste, as temperaturas mais altas e mais amenas, somam força à alegria e ao encanto das cores, dos batuques, das músicas e da cultura popular que invade a vida de milhares de pessoas dispostas a festejar sua fé e suas tradições.

Por aqui, fico refletindo qual rumo eu tomo em meu inverno cultural.

Até a próxima.

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