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Retrospectiva 2025 e perspectivas 2026 para a hotelaria brasileira

Considerando a análise dos principais indicadores de performance da hotelaria é possível avaliarmos positivamente o ano que se encerra amanhã. Houve crescimento real na maioria dos mercados e expansão de novos projetos mapeados para os próximos anos. O ano de 2026, no entanto, reserva novos desafios e a continuidade de outros.

Retrospectiva 2025 e perspectivas 2026 para a hotelaria brasileira (Foto: Site DeskHotel)

Ano começou com tensões

A virada do ano que agora termina se iniciou sob fortes tensões para diversos setores do turismo a propósito do anúncio do de decreto do fim do Perse e seus posteriores desdobramentos que culminaram com diferentes entendimentos sobre sua constitucionalidade, matéria ainda inconclusa diga-se de passagem. No judiciário acumulam-se ações que pretendem a continuidade do programa emergencial oriundo da pandemia. Em meio aos trâmites legislativos da Reforma Tributária o assunto acabou relegado a segundo plano visto que graças a intervenção de entidades do setor a hotelaria foi enquadrada em um balizamento mais favorável na atribuição de alíquotas. Outro tema que não saiu de pauta ao longo do ano foi o chamado apagão de mão de obra vivido por diferentes áreas do setor de serviços, discussões sobre suas causas e efeitos tomaram redes de discussões e não foram poucos os gestores que abordaram o assunto em suas redes sociais e de comunicação. Agora, no limiar de entrarmos em 2026 avaliamos as consequências e possíveis medidas para fazer frente a iminente aprovação do texto final que extinguirá a jornada de trabalho 6×1. Nesse contexto a abordagem se estende também por uma análise de remunerações e benefícios atribuídos aos colaboradores, o que, se não considerada gerará decrescente atratividade laboral.

Outros aspectos observados ao longo de 2025 foram: O crescimento de empreendimentos STR’s (Short Time Rentals) em capitais e em cidades secundárias, novos projetos multipropriedade em destinos selecionados e o surgimento de novas administradoras hoteleiras que se unem a redes internacionais consolidadas para auxiliá-las a crescer, para isso desenvolvem-se atualmente com notória volúpia os modelos soft brand, franquia e uso marca. Neste contexto as redes hoteleiras emergentes encontram a oportunidade almejada para crescer utilizando-se da chancela de marcas de notório reconhecimento de mercado.         

Crescimento estruturado de resultados em 2025

Os dados coletados referentes a 2025 mostram um cenário positivo para a hotelaria brasileira reforçando a consistência da recuperação do setor ao longo dos anos posteriores a pandemia. A análise que contempla 556 hotéis de redes associadas ao FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil) espelha o acumulado do ano até outubro, representando 88.844 unidades habitacionais. Estes dados apontam um crescimento de 2,5% na taxa de ocupação e 10,1% na diária-média o que resulta em um crescimento de 2,9% do RevPar (Receita por Quarto Disponível) ante os 12 meses anteriores.

Regionalmente o desempenho foi positivo na maior parte do país, com destaque para as regiões Sul, Nordeste e Sudeste embora o RevPar tenha aumentado em todas as 5 regiões do país incluindo assim também o Centro-Oeste e o Norte. Quando avaliados os desempenhos pelas três categorias: Econômico, Midscale (Superior) e Upscale (Luxo) a situação não muda. Em todos os segmentos foram registrados avanços nos indicadores o que evidencia um movimento de crescimento amplo e estruturado.     

FOHB

Fundada em 2002 a entidade hoje congrega 27 redes hoteleiras nacionais e internacionais totalizando 802 hotéis, mais de 123 mil apartamentos, presente em 217 cidades que somados geram aproximadamente 185 mil empregos diretos e indiretos. Seu planejamento aponta que chegará a 2028 (apenas um ano após celebrar seu jubileu de prata) somando 937 hotéis e mais de 142 mil apartamentos. Para isso conta com os bons números que têm animado a hotelaria do país. O setor de hospedagem prevê a construção de 108 novos hotéis nas cinco regiões do Brasil, que devem atrair um investimento de R$ 5,7 bilhões. Ao todo, o país contará com quase 18 mil novos quartos de hotel distribuídos por 93 cidades que, em sua maioria (78%), serão erguidos nas regiões Sul e Sudeste do país em cidades secundárias e terciárias.

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Em 2026 a Hotelaria deixará de ser cenário e passará a ser parte da experiência, no entanto a minha dica para os hoteleiros é não se perderem na busca desenfreada pelo ineditismo e sim manterem-se atentos aos fundamentos essenciais da hospitalidade que passa pelo básico bem-feito. “O jeito de viajar está mudando e a hotelaria sente isso primeiro. O viajante de 2026 não priorizará excessos, ele almejará sentidos. Trocará roteiros engessados por experiências reais, destinos óbvios por lugares com alma e hotéis que não só servirão de base, mas que sejam parte da história do destino”, prevê Orlando de Souza, presidente executivo do FOHB.

Outros aspectos a serem mantidos no foco dos protagonistas do setor são: Adoção da sustentabilidade de verdade que vai muito além de apenas adesivos nos banheiros dos apartamentos indicando práticas amigáveis, pensar no bem-estar dos hóspedes que vai além do spa, entender a gastronomia local como forte diferencial e capacitar suas equipes na arte de acolher sem roteiros pré-concebidos. Quem entender essas mudanças não vai apenas seguir tendências repetidas ano após ano, vai liderar mercados dentro do novo jeito de viajar e avaliar do brasileiro e do estrangeiro que, a cada está mais presente nos diferentes destinos do nosso país.

Em 2026 o Brasil vai viajar diferente

Os estudos apontam que sete em cada 10 novos projetos hoteleiros estão sendo construídos no interior. A procura pelo turismo rural e pelo ecoturismo têm incentivado a construção de novas unidades fora dos grandes centros. “Estamos observando uma variação no interesse dos turistas, que passaram a procurar mais destinos de natureza e com forte apelo para a gastronomia regional. Por isso, já estamos atuando no desenvolvimento desses dois segmentos, que apoiarão a estruturação de roteiros turísticos em diferentes regiões”, menciona Bárbara Botega, Secretária de Estado de Cultura e Turismo do Estado de Minas Gerais.

Conforme aponta o mais recente relatório intitulado “Panorama da Hotelaria Brasileira” em sua edição prévia para o ano de 2025, o Brasil conta com cerca de 11.000 hotéis e afins totalizando em torno de 600 mil apartamentos, sendo 83% do total de meios de hospedagem e 58% de apartamentos geridos de forma independente. Portanto a expressiva minoria de 17% de hotéis que somam 42% da disponibilidade de quartos está sob a administração das redes hoteleiras o que nos permite afirmar de maneira cabal que a hotelaria familiar ainda é predominante no cenário nacional.

Já a atuante e onipresente Presidente da ABIH-MG – Flávia Araújo, enxerga 2026 como um ano de consolidação e novas oportunidades para a hotelaria mineira, impulsionado pelo fortalecimento do turismo como matriz econômica emergente no Estado, através de investimentos, promoção e qualificação do setor. “Minas Gerais se consolida cada vez mais como destino tanto para turismo de negócios e eventos como lazer. A ABIH-MG seguirá fortalecendo o diálogo com o Poder Público e o “trade” turístico com a confiança que o setor avançará de forma cada vez mais profissional, inovadora e fiel à hospitalidade mineira”, pontua Flávia.      

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Tendências para o futuro da hotelaria

O bem concebido relatório da Noctua Advisory com apoio do FOHB intitulado “Pesquisa Canais de Distribuição 2025”, analisou 15 variáveis para enumerar aspectos importantes de tendências para a hotelaria. Um resumo foi apresentado por um dos “heads” do projeto, meu ex-colega Paulo Salvador, durante o último Fórum Nacional da Hotelaria em São Paulo que, em 2026 acontecerá no próximo dia 14 de setembro. “Investidores devem acompanhar indicadores de custo de aquisição da mesma forma que acompanham o GOP (Lucro Operacional Bruto) e o Ebitda (Resultado Líquido) dos seus hotéis. Plataformas “Top Lines” identificam melhor o mix de receitas geradas, planeja gastos com vendas e marketing e utiliza recursos de I.A. para impulsionar rentabilidade” pontua Paulo. Novos paradigmas Google migrarão de palavras-chave e buscas orgânicas (SEO) para conversas cada vez focadas em otimizar conteúdos e serem encontradas por IA’s generativas (GEO). “Guests Reviews” (comentários de hóspedes) serão cada mais multiplicadores do potencial de conversão de reservas diretas, projeta-se o fim gradativo dos websites que darão lugar aos API’s redefinido assim ao longo dos próximos anos os papéis das equipes de marketing, vendas e RM (Revenue Management).           

“O futuro da hospitalidade é altamente tecnológico, personalizado e sustentável, focado em experiências que integram bem-estar e propósito, com a IA automatizando tarefas e liberando humanos para conexões autênticas, atendendo à demanda por jornadas digitais, flexibilidade de trabalho (bleisure) e um forte compromisso com práticas ecológicas”.

Maarten Van Sluys (Consultor Estratégico em Hotelaria – MVS Consultoria)

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