História

Pra quem não viu: Morre o primeiro condenado à morte da história da República


Por Flipar
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Natural de Natal, no Rio Grande do Norte, o magistrado ingressou na resistência ainda aos 14 anos de idade e recebeu a pena de morte no dia 18 de março de 1971, mas acabou fugindo do Brasil.

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Mesmo sendo jovem, Theodomiro era considerado um detento importante. Em janeiro de 1971, ele fazia parte de uma lista de 70 prisioneiros políticos que os sequestradores do embaixador suíço Giovani Bucher desejavam libertar em troca da liberação do diplomata.

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O governo não só recusou a proposta, como exigiu a substituição do nome de Theodomiro para prosseguir com as negociações. Entenda agora como tudo aconteceu!

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A prisão do juiz pareceu coisa de cinema. Theodomiro, ainda estudante, encontrava-se no Dique do Tororó (foto), em Salvador, na companhia de dois de seus colegas de luta armada, quando um jipe se aproximou deles derrapando os pneus no asfalto.

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Era a tarde de terça-feira, 27 de outubro de 1970. Três agentes do regime militar desembarcaram do veículo sem se identificar e imediatamente imobilizaram os três colegas.

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Rapidamente, conseguiram algemar Theodomiro junto com seu companheiro Paulo Pontes, enquanto o terceiro guerrilheiro, Getúlio Cabral, conseguiu escapar pela Avenida Vasco da Gama.

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Depois que os dois foram colocados no jipe, os agentes partiram em perseguição ao fugitivo. Foi então que, ao se distraírem, Theodomiro abriu uma pasta e tirou um revólver de dentro.

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Ao ver os militares apontando suas armas, ele disparou, resultando na morte do sargento Valter Xavier de Lima, da Força Aérea, e ferindo um agente da Polícia Federal.

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Getúlio Cabral ainda conseguiu escapar, mas os demais foram capturados.

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Integrante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), o então jovem Theodomiro foi submetido a várias formas de tortura em longas sessões.

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Em seu depoimento, Theodomiro relatou que disparou contra os agentes ao perceber que seu amigo estava prestes a ser atingido.

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Ele contou que um militar apontou uma pistola enquanto outro gritava: 'Mate! Mate!'. Então, um segundo agente tomou a arma e aparentou estar prestes a dar o tiro, mas também desistiu e disse: 'Vamos levá-lo para a delegacia'.

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Durante as sessões de tortura, Theodomiro sofreu lesões permanentes na coluna vertebral devido ao longo período que passou pendurado no 'pau-de-arara'. Além disso, desenvolveu um problema crônico no joelho devido às violentas pancadas de cassetete.

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O juiz também foi submetido a choques elétricos, afogamentos e passou 33 dias em confinamento solitário, no Forte do Barbalho. Seus olhos foram queimados com produtos químicos.

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No dia de sua fuga, o ex-guerrilheiro simplesmente saiu pela porta da Penitenciária Lemos Brito, em Salvador, e começou a percorrer o interior da Bahia, trocando de carros e buscando abrigos diferentes até conseguir asilo no exterior.

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Em 2016, foi lançado o documentário 'Galeria F', o qual reconstrói toda essa jornada com a presença do próprio Theodomiro e de seu filho mais velho.

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Tanto a fuga quanto a perseguição receberam ampla cobertura da imprensa na época, em jornais, rádios e emissoras de TV.

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O guerrilheiro do PCBR passou meses escondido antes de conseguir exílio no México, onde ficou por 10 dias antes de se mudar de vez para a França.

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No país europeu, Theodomiro viveu em Villemomble, no sul do país, onde ficou até 1985. Durante esse tempo, trabalhou como pintor de paredes e metalúrgico.

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Após o término de sua sentença, 15 anos depois do fatídico dia do tiroteio, o juiz retornou ao Brasil, e foi recebido com celebrações por amigos e apoiadores.

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Ele passou a morar em Recife, onde trabalhou na Companhia Energética de Pernambuco (Celpe) e posteriormente na Justiça Federal, após ser aprovado em um concurso.

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Theodomiro então obteve sua formação em Direito e realizou outro concurso, desta vez para se tornar juiz no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 6ª Região, que abrange o estado de Pernambuco.

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Theodomiro deixa quatro filhos. Bruno, Fernando Augusto e Mário são fruto de seu primeiro casamento, sendo seus nomes uma homenagem aos amigos guerrilheiros que perderam suas vidas durante o período de repressão.

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Já a filha mais nova, chamada Camila, é fruto de seu último casamento com Virgínia Lúcia.

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