A indústria do pop sul-coreano se reinventa a cada dia. Às vezes, com a chegada de um novo grupo, as mudanças são tão perceptíveis que destoam de características de conjuntos que debutaram pouco tempo antes
A partir de diferenças com grupos passados e semelhanças com os que vêm depois, estabelecem-se gerações. Não se engane, porém, com nomenclaturas como X, Millenials ou Z — o ritmo e os motivos das divisões do K-pop não são os mesmos
A revista americana 'Nylon', que entrevistou um professor da Universidade do Estado do Arizona especialista em cultura pop coreana, explica que a mudança de gerações tem mais a ver com movimentos internos à indústria
Esses movimentos podem estar relacionados a desde mudanças na cultura dos fãs a mudanças em tendências e táticas de marketing. Assim, explica a publicação, a transição entre gerações é processo gradual, e não instantâneo
Por isso mesmo, às vezes torna-se difícil definir alguns grupos transitórios — a exemplo dos recentes ZEROBASEONE, RIIZE e NewJeans — como sendo de uma geração específica; muitas vezes conjuntos se encontram em um meio termo
De acordo com o professor Areum Jeong, fãs têm grande poder na definição de gerações, uma vez que a forma com que eles se relacionam com os respectivos grupos favoritos contribui com a maneira como estes responderão
O nascimento do K-pop, segundo especialistas, ocorreu em 1992, com o surgimento do grupo Seo Taiji and Boys, considerado o primeiro do gênero. Em atividade até 1996, eles inauguraram a geração que contemplou conjuntos como HOT, SES e Shinhwa
A 1ª geração era centrada em fã-clubes off-line e domésticos. 'Não havia internet, nem celulares, nem leis sobre privacidade', diz Jeong. 'Agendas dos ídolos e eventos de fãs eram todos distribuídos por uma caixa postal telefônica.'
Como expoentes da 1ª geração, além dos que a iniciaram, estão os solistas BoA, conhecida como ‘rainha do K-pop', e PSY, intérprete de ‘Gangnam style’ — apesar de a música ser de 2009, o cantor debutou em 2001
De meados dos anos 2000 até o início dos anos 2010, quando o K-pop se tornou mais popular tanto nacional quanto internacionalmente, foi a vez da 2ª geração — em que surgiram os famosos lightsticks e photocards
Blogs pré-Facebook e a popularização dos MP3 e de programas de compartilhamento de arquivos foram decisivos para novas formas de comunicação com fãs, a partir das três principais empresas do cenário: SM, YG e JYP Entertainment
'Grupos de idol como os conhecemos hoje', segundo Jeong, surgiram por essa época — Super Junior; TVXQ!; 2NE1; SHINee; BIGBANG, primeiro a ter um lightstick, em 2006; e Girls' Generation, que lançou os photocards colecionáveis, em 2010
Entre 2012 e 2017, estabeleceu-se a 3ª geração. Foi nesse período que o K-pop atingiu o status de fenômeno global e registrou números expressivos em mercados como os Estados Unidos
Twitter, YouTube e outras redes possibilitaram o crescimento da intimidade no relacionamento entre fã e ídolo. Aqui, os artistas passam de intocáveis a pessoas reais; e os fãs passaram de apenas consumidores a produtores
Alguns dos grupos mais famosos do gênero surgiram nesta geração, com foco na diversidade para além da Coreia: BTS, TWICE, Red Velvet, GOT7, NCT, Seventeen, EXO e Blackpink — com integrantes de outros países, como Tailandia e China
Com o K-pop já consolidado internacionalmente, a 4ª geração surgiu em 2018 e foi até meados de 2022, apoiada no avanço da tecnologia incentivada pela pandemia, a partir de 2020 — eventos e até ídolos virtuais passaram a ser realidade
Nesta geração, formam-se comunidades: antes, explica Jeong, 'fãs só assistiam ídolos ou conteúdo de ídolos, mas agora assistem a outros fãs' — inclusive fãs que são famosos por conteúdos próprios. Surgem, também, universos on-line
Alguns dos principais conjuntos da 4ª geração incluem aespa, que tem o próprio metaverso, Stray Kids, TXT, ITZY, IVE, Le Sserafim, Enhypen, NewJeans, LOONA e ATEEZ
Por ser recente, ainda não há consenso sobre o início exato da 5ª geração, nem sobre as características que a rodeiam, mas é fato que ela já está entre nós
Uma tendência que indica a mudança é a presença de grupos globais, com integrantes de países não apenas asiáticos, baseados nos moldes do K-pop. As empresas JYP e HYBE, por exemplo, lançaram programas para formar conjuntos internacionais
Alguns consideram ZEROBASEONE, RIIZE e BABYMONSTER pioneiros da 5ª geração, que teria iniciado em 2023. Outros grupos lançados no mesmo ano sequer são considerados K-pop, como o XG, formado por japonesas, e o KATSEYE, com integrantes da Coreia, EUA e Suíça