Moda

O desfile de moda que denunciou a ditadura para o mundo


A coleção 'Moda Política', de Zuzu Angel, retratou a busca da estilista pelo filho, torturado e morto pelo governo militar

Por Isabela Stanga
Instituto Zuzu Angel/Reprodução

Denúncia

Um dos muitos usos da moda é a expressão política. Exemplo disso é a produção de Zuleika de Souza Netto, conhecida como Zuzu Angel. Durante a ditadura militar brasileira, a estilista utilizou suas peças para denunciar internacionalmente a repressão que ocorria no país

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Carreira

Zuzu iniciou sua carreira na moda nos anos 1950. Ficou conhecida por fazer desfiles de suas peças nos Estados Unidos, levando cores e estampas inspiradas em Minas Gerais, na Bahia e no Rio de Janeiro, locais em que viveu

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Artistas

Produziu peças marcantes vestidas por artistas como Joan Crawford, Liza Minelli e Kim Novak

Instituto Zuzu Angel/Unsplash

Batalha

Na virada dos anos 1960 para os anos 1970, porém, a estilista travou uma batalha contra o governo militar em busca do corpo de seu filho Stuart, estudante de economia que foi dado como desaparecido

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Morto

Ele fazia parte de organizações de esquerda que combatiam a ditadura no Brasil e foi preso em 14 de maio de 1971, torturado e morto

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Estampas

Neste período, Zuzu criou uma coleção Moda Política com manchas vermelhas, pássaros engaiolados e estampas bélicas. Além disso, trazia anjos e itens das lembranças do filho

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Desfile-protesto

Em 1971, Zuzu realizou um desfile-protesto no consulado do Brasil em Nova York. O ato ganhou as manchetes dos jornais internacionais canadenses e americanos, denunciando a violência da ditadura contra uma mãe que queria o corpo do filho.

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Confira alguns itens da coleção:

Este vestido foi usado no encerramento do desfile em 1971, na casa do cônsul brasileiro em Nova Iorque, Lauro Sotello Alves

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Detalhe do vestido

Detalhe vestido Zuzu Angel

Instituto Zuzu Angel/Reprodução

Referências à ditadura

Este modelo é bordado com referências a ditadura militar, tais quais aviões dos quais eram jogados os presos políticos, passarinhos enjaulados que seriam os jovens, tudo visto através das grades, segundo relato da filha de Zuzu

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Lembranças

Usada no desfile de protesto, a peça tem bordados coloridos feitos à mão com motivos de anjos, avião, barco, casinha, árvore, etc. (lembranças do filho)

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Acessórios

O colar e o cinto foram usados por Zuzu no dia do desfile no consulado e expressam o luto pelo qual passava

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Detalhes

O colar representa um anjo envolto em flores, enquanto o cinto é um conjunto de cruzes

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Apelo

A estilista apelou a políticos importantes e celebridades, tanto brasileiras quanto americanas, em busca de Stuart. Em 1973, encontrou-se inclusive com o general Ernesto Geisel. O apelo dela foi parar no congresso americano, por meio do discurso do senador Edward Kennedy

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'País que tortura e mata'

Uma vez, Zuzu ainda roubou o microfone de uma aeromoça enquanto pousava no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, para dizer aos passageiros do voo que 'desceriam no Brasil, país que torturava e matava jovens estudantes'.

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Morte

O corpo de Stuart nunca foi encontrado. Em 1976, ainda em sua busca, Zuzu morreu em um acidente de carro na Estrada da Gávea, no Rio de Janeiro. Em 2007, a Comissão Especial dos Desaparecidos Políticos ouviu testemunhas que disseram ter visto o carro de Zuzu ser fechado por outro veículo e ser jogado para fora da pista

Instituto Zuzu Angel/Reprodução

Morte não natural

Em 2019, a filha da estilista conseguiu emitir as certidões de óbito da mãe, Zuleika, e do irmão, Stuart. A morte de ambos foi atestada como 'não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro, no contexto da perseguição sistêmica e generalizada à população identificada como opositora política ao regime ditatorial de 1964 a 1985'

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