Isso porque, no início deste mês de agosto de 2023, um acontecimento pouco comum voltou a assolar a cidade: o fenômeno conhecido como 'acqua alta'.
Na noite da última terça-feira (01/08), Veneza registrou uma maré elevada com um pico que chegou a atingir 1 metro.
Por volta das 23h20 no horário local, as águas vindas do Mar Adriático subiram e invadiram a Lagoa de Veneza.
O fenômeno é tão raro que, desde 1872, ele só ocorreu nos anos de 1995 e 2020.
As previsões feitas pelo centro de monitoramento de marés já previam um aumento no nível da lagoa devido ao vento reforçado.
De acordo com as autoridades da Itália, houve um momento em que o nível da água subiu 1 metro, exatamente entre as 11h20 e 11h30.
Mesmo com essa elevação, o sistema de comportas conhecido como 'Mose' não foi ativado.
Ainda assim, apenas 5% do centro histórico de Veneza ficou debaixo d'água, incluindo a famosa Piazza San Marco, que é o ponto mais baixo da cidade, com 15 centímetros de água.
Já a Basílica de Veneza conseguiu se salvar porque conta com uma proteção adicional: uma barreira removível feita de painéis de vidro.
Muitos turistas pareciam não entender a gravidade do problema e continuaram a registrar vários vídeos e selfies, mesmo com a maré alta.
O fenômeno aconteceu dias antes da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) sugerir que Veneza seja adicionada à lista de locais considerados patrimônios da humanidade em perigo.
Isso se deve principalmente às ações humanas que afetam a cidade, às consequências das mudanças climáticas e ao grande fluxo de turistas.
Na declaração, a Unesco pediu que o governo da Itália “assegure a máxima dedicação” para resolver “problemas antigos” em Veneza.
Atualmente, existem 1.157 lugares qualificados como Patrimônio da Humanidade por terem “excepcional valor universal” devido às suas ofertas culturais ou naturais.
Veneza integra a lista de patrimônio da humanidade desde 1987.
Uma das cidades mais visitadas do mundo, a cidade de Veneza está situada em uma lagoa no Mar Adriático e é composta por 118 pequenas ilhas que são ligadas por pontes e canais.
A Unesco e um grupo de especialistas de órgãos consultivos recomendaram incluir Veneza na lista de Patrimônios Mundiais em Perigo como parte de sua agenda preliminar antes da 45ª reunião do Comitê do Patrimônio Mundial, agendada para setembro.
No documento, consta que “não houve nível significativo de progresso na abordagem das questões persistentes e complexas relacionadas, em particular, ao turismo de massa, projetos de desenvolvimento e mudança climática”.
O mesmo relatório ressaltou que essas preocupações estão levando à deterioração e danos às estruturas arquitetônicas e áreas urbanas, resultando na 'degradação da identidade cultural e social do local'.
Além disso, destacou que os atributos e valores culturais, ambientais e paisagísticos do local estão sob ameaça.
Nos últimos tempos, Veneza tem lidado com uma montanha-russa de desafios associados ao clima.
Em fevereiro deste ano, a cidade enfrentou uma seca tão severa que impediu a navegação de gôndolas, táxis aquáticos e até mesmo ambulâncias em alguns canais.
Em novembro de 2019, as inundações foram tão intensas que valiosos tesouros e construções históricas enfrentaram sérias ameaças.
O excessivo fluxo turístico em Veneza continua a ser um problema persistente. Alguns esforços recentes como a proibição da entrada de grandes navios na Bacia de San Marco (Canal Giudecca) já estão sendo aplicados.