Eles haviam embarcado na véspera, no Aeroporto de Carrasco, em Montevidéu, mas, por causa do mau tempo, foi necessário fazer escala na Argentina, para evitar a travessia da Cordilheira dos Andes em condições adversas.
A viagem era num avião Fairchild FH-227, da Força Aérea Uruguaia. A aeronave tinha 40 passageiros e 5 tripulantes.
Com tempo ruim e baixa visibilidade, os pilotos dependiam dos instrumentos. Por erro de cálculo, e não levando em conta a força dos ventos, eles se encontravam bem longe de onde achavam que estariam.
O canal Aviões e Músicas, do YouTube, mostrou no mapa a dimensão do equívoco. Em vermelho, a rota planejada. Em laranja, o desvio involuntário: 50 km mais ao norte do que deveriam. Os pilotos não tinham ideia de onde estavam.
Ao perceberem a proximidade das montanhas, eles tentaram elevar o avião, mas já era tarde. A 4.400 m, a cauda bateu num pico. Em seguida, a asa direita se desprendeu; depois a esquerda. O charuto do avião se arrastou pela encosta e bateu num banco de neve.
Neste momento, havia 32 sobreviventes. Mas vários com ferimentos graves. Já na primeira noite, outros 4 morreram.
A esperança era de que o resgate chegasse logo. Mas como os destroços estavam bem longe da rota planejada, as buscas eram inúteis. E, após uma semana, foram suspensas.
Os sobreviventes tiveram que aprender a derreter neve para produzir água e usar forro de assentos do avião para fazer abrigos precários. Quando a comida acabou, eles tiveram que tomar a difícil decisão de comer a carne dos mortos para sobreviver.
Pouco a pouco, mais pessoas morriam. No dia 29/10, uma avalanche soterrou a fuselagem e oito sucumbiram. Em meados de dezembro, só havia 16 sobreviventes. Ao fazerem caminhadas em busca de um horizonte, só viam montanhas gigantescas cobertas de neve.
O alpinista Ricardo Peñas liderou uma expedição para documentar a rota de fuga dos sobreviventes e fez descobertas no local do acidente. Seus registros mostram as paisagens desoladoras vistas pelos sobreviventes ao redor da aeronave.
Dois meses após o acidente, sem a menor esperança de resgate, Roberto Canessa e Fernando Parrado se aventuraram na direção oeste, dispostos a andar o quanto fosse preciso em busca de socorro.
Sem qualquer experiência, eles subiram a montanha e se depararam com uma vista desanimadora (foto). Não sabiam, mas estavam na fronteira de Chile e Argentina. Após percorrerem 60 km, numa semana inteira de caminhada exaustiva, encontraram um rio formado pelo degelo da neve. E seguiram seu curso.
Finalmente, viram homens na margem oposta do rio e sinalizaram. Como o barulho da correnteza não permitia a comunicação falada, o vaqueiro Sérgio Catalán amassou um papel, amarrou um lápis e atirou para que eles escrevessem uma mensagem. Parrado contou que precisavam de socorro.
O vaqueiro Sérgio ficou com Roberto e Fernando, enquanto seus colegas partiram para um posto da polícia. E a 67ª missão de busca, dessa vez, não tinha como dar errado. Fernando e Roberto eram os guias.
Catalán morreu aos 91 anos, em 11/2/2020. Na imagem, o reencontro dele, já idoso, com o sobrevivente Gustavo Zerbino.
Hoje, Roberto Canessa tem 70 anos (feitos em 17 de janeiro de 2023). Ele é médico e cirurgião.
Fernando Parrado tem 73 anos (feitos em 9 de dezembro). Ele é empresário, produtor, apresentador, conferencista e escritor.
A tragédia já inspirou vários filmes e documentários. O mais famoso deles,'Vivos', foi lançado em 1993, com narração de John Malkovich. O ator Josh Hamilton interpretou Canessa. Ethan Hawke fez o papel de Fernando Parrado.
Na memória, a vitória da perseverança, da fé na sobrevivência, do esforço sobre-humano para não sucumbir diante de adversidades extremas. Debilitados, sobreviventes receberam os primeiros socorros.
Aliviadas, as famílias reencontraram seus parentes, que, para muitos, já tinham sido dados como mortos. Na foto, Gustavo Zerbino, após ser resgatado, reencontra a mãe
Sobreviveram 16 das 45 pessoas que estavam a bordo. O resgate no dia 23/12/1972 foi um renascimento para todos. Um segundo aniversário. Eles estavam desidratados, desnutridos, alguns com queimaduras, escorbuto e ossos quebrados.
O local da tragédia tem um memorial, visitado por alpinistas e documentaristas em busca de filmagens sobre um dos episódios mais impressionantes da história.