Em 35 anos de carreira, o profissional se tornou um ícone queer e teve sua história comentada no último mês por causa da atuação do ator mexicano. Na obra, Bernal teve tanto destaque que passou a ser cotado para uma indicação ao Oscar.
O filme estreou mundialmente no Festival de Cinema de Sundance deste ano. Na condução da obra, está o documentarista Roger Ross Williams (Love to Love You, Donna Summer e Music by Prudence), vencedor de um Oscar.
Além dele, o filme é estrelado por Roberta Colindrez, Perla de la Rosa, Joaquín Cosío e Raúl Castillo, com participações especiais de El Hijo del Santo e Bad Bunny. A estreia no Amazon Prime Vídeo aconteceu no dia 22 de setembro.
Cassandro se tornou o primeiro ‘exótico’ a ganhar um campeonato de luta livre, quando faturou a categoria peso-ligeiro da Associação Universal de Lutas (UWA). Bernal (foto) esbanjou talento ao contar a história de superação do lutador.
Desde criança, Saúl era fã da "lucha libre", mas acompanhou um esporte cercado de homofobia e preconceito. A partir da década de 40, os lutadores que subiam ao ringue maquiados, com perucas ou roupas ligadas às mulheres, eram denominados como "exóticos"
No ringue, esses personagens eram ligados apenas à veia cômica, com vilões e palhaços. Fora os insultos homofóbicos da plateia e o descrédito por quase nunca vencerem suas lutas e serem diminuídos pelo uso da maquiagem e peruca.
Nascido entre as cidades de El Paso, no Texas, e Ciudad Juárez, no México, o lutador acompanhou países que são repletos de pequenas arenas, com personagens mascarados, vilões, enredo e golpes improvisados ou combinados previamente.
Então, em 1988, Saúl iniciou a carreira usando máscara preta e branca, com corpo magro e movimentos ágeis. No início, usou o nome de Mister Romano, mas logo foi influenciado pelo lutador exótico Baby Sharon, que o fez mudar de estilo e trajes.
Com o tempo, Cassandro foi ganhando forma e em sua primeira luta como exótico, ainda sem o codinome oficial, usou uma blusa da mãe e a cauda do vestido da festa de 15 anos da irmã.
O nome Cassando passou a ser utilizado em homenagem à dona de um bordel em Tijuana, no México. Essa senhora era conhecida por doar parte de seu dinheiro às crianças de ruas e famílias de baixa renda.
Com looks e gestuais cada vez mais extravagantes, maquiagem, topetes e roupas cintilantes, Saúl começou a se tornar uma lenda queer. Com a popularidade, passou a ser escolhido para lutas melhores e a ganhar os combates.
Na cinebiografia, o lutador se inspirou na protagonista da novela "Cassandra", a preferida de sua mãe. Em 1991, entrou no ringue para uma das lutas mais importantes de sua trajetória. Mesmo com a derrota para Hijo del Santos, teve seu desempenho elogiado e recebeu o cachê de 25 mil dólares.
Saúl passou também a ter bons resultados nas famosas "lutas de apostas". É comum na modalidade que os lutadores façam apostas com prendas mais "severas". Entre elas, raspar o cabelo,revelar a identidade por trás da máscara ou até não usar mais o nome escolhido para o combate.
"Quando eu era criança, pensava que não era ninguém", disse Saúl em entrevista à revista "The New Yorker", ao revelar que sofreu agressões sexuais na infância.
"Pensava que era rejeitado. Achei que não pertencia a este mundo. E quando me tornei lutador exótico, senti algo do tipo: 'Uau, estou em casa', completou.
A fama e a popularidade têm seu preço. Saúl sofreu agressões e teve até que passar por cirurgias. Ele foi esfaqueado por uma mulher quando andava pela plateia. E recebeu uma xícara ardente de pimenta verde nas costas, jogada por uma idosa.
Depois da morte da mãe, em 1997, enfrentou problemas com bebida alcoólica e cocaína. Chegou a morar no quintal de um amigo, mas conseguiu dar a volta por cima e tatuou em suas costas a data de sua sobriedade: 4 de junho de 2003.
"Eu me sentia como a Mulher-Maravilha", salientou Saúl.
Cassandro tornou-se embaixador da luta livre e ícone gay. Atualmente, é responsável por palestras sobre diversidade em lugares como a Embaixada dos EUA na Cidade do México e universidades locais.
No ringue, segue sua carreira e contribuiu para que lutadores mexicanos conseguissem vistos americanos. Mais de cem profissionais tiveram a ajuda de Saúl.
A Lucha Libre é pautada em formas de combate, com diferentes técnicas e movimentos. É comum o uso de máscaras e os movimentos aéreos, conhecidos como high-flying moves, também são adaptados nos Estados Unidos.
Nas regras da lucha libre, o vencedor é definido quando um lutador faz o pin no oponente, assim como a contagem até três. Existem outras formas de vitória como a desistência, nocaute, contagem até 20 fora do ringue e desqualificação.
Entre as estrelas que marcaram a lucha libre mexicana estão: Hijo del Santo, Gory Guerrero, Rey Mysterio, Jr. Místico e Juventud Guerrera e Blue Demon.