Foi em 1979, Elis Regina fez sucesso no Festival de Jazz de Montreux, levando para a Europa o jeito performático de interpretação e a voz que tinha clareza e alcance que impressionavam. Elis arrasou com músicas marcantes, que refletiam a qualidade do seu repertório.
A morte precoce de Elis, em 19/1/1982, deixou um vazio. Para muitos, ela foi a maior da música no Brasil. Sua voz se adequava a qualquer ritmo. Gravou samba, rock, MPB, sertanejo. E sua interpretação atraía pela força e autenticidade, em performances viscerais. Puro movimento.
Elis começou cedo. Aos 11 anos, foi campeã do Clube do Guri, competição para cantores mirins na Rádio Farroupilha (Porto Alegre) e tornou-se fixa no programa. A mãe queria que ela fosse professora e exigia um boletim escolar impecável para que a menina continuasse a cantar.
Em 1960, Elis foi contratada pela Rádio Gaúcha, aos 15 anos. Seu salário já era maior que o do pai. Aos 16 anos, lançou seu primeiro disco: 'Viva a Brotolândia'. Ganhou o título de “Estrelinha da Rádio Gaúcha” e foi eleita por uma revista a melhor cantora de rádio do estado.
Em 1964, Elis e o pai se mudaram para o Rio de Janeiro. A mãe dela e o irmão mais novo ficaram no Sul. Eles chegaram ao Rio pouco depois do golpe militar. Elis assinou contrato com a TV Rio para se apresentar no programa 'Noites de Gala'.
Também em 1964, ela foi convidada para cantar no Beco das Garrafas, em Copacabana, reduto onde nasceu a Bossa Nova no Rio de Janeiro. Nunca mais Elis se afastaria de Tom Jobim, cujas canções ela imortalizou com interpretações únicas.
Foi Elis Regina que consagrou pérolas como 'Águas de Março', 'Inútil Paisagem' e 'Triste', faixas do disco 'Elis & Tom', gravado em 1974 nos EUA, mostrado num documentário do produtor Roberto de Oliveira, no canal Arte 1.
Em 1965, ao lado de Jair Rodrigues, Elis fez sucesso no programa 'O Fino da Bossa', da TV Record, e lançou três LPs ao vivo.
Também em 1965, sua performance da canção 'Arrastão' deixou uma forte marca cênica e impulsionou ainda mais a carreira de Elis. Ela venceu o I Festival de Música Popular Brasileira na TV Excelsior.
Na década de 1970, com os sucessos de Falso Brilhante (1975-1977) e Transversal do Tempo (1978), Elis Regina inovou os espetáculos musicais no país.
Com sucesso consolidado no Brasil, Elis também conquistou reconhecimento internacional. Fez shows em grandes casas de espetáculo da Europa. Na foto, o cartaz anunciando seu show no Olympia, em Paris, em 1968.
Elis teve três filhos: João Marcello Bôscoli (produtor musical, 51 anos), filho de Ronaldo Bôscoli; Pedro Mariano (cantor e compositor, 46 anos) e Maria Rita (cantora, 44 anos), ambos filhos de César Camargo Mariano.
Em 2019, João Marcello Bôscoli lançou o livro 'Elis e Eu'. Na foto, na noite do lançamento, ele está entre os irmãos Maria Rita e Pedro Mariano. João revela detalhes do lado doméstico de Elis, episódios pessoais e momentos que ficaram eternizados na memória da família.
No livro 'Elis e Eu', João, que tinha 11 anos quando a mãe morreu, conta, por exemplo, que a chamava de 'superwoman superstar' e que ela era extremamente carinhosa e cuidadosa com os filhos.
Como produtor musical, João Marcello mantém vivo o trabalho da mãe. Entre outras iniciativas, ele fez a remasterização do disco 'Elis' (1972), em 2021. Em 18 anos de carreira, Elis Regina vendeu 4 milhões de discos. Hoje, é ouvida nos aplicativos.
Elis ultrapassava com frequência o papel de cantora e dava opiniões políticas e sociais sobre o Brasil. Chamada de 'Pimentinha', fazia jus ao apelido ao polemizar em questões que muitos colegas de profissão preferiam ignorar.
Numa histórica entrevista a Marília Gabriela em 1980, Elis falou da preocupação com os desmatamentos no país. 'O fato de achar que isso é frescura de intelectual está facilitando para o ladrão', ela disse.
Elis costumava marcar sua posição: 'Acho difícil as pessoas não falarem de política. Até você não se preocupar com política já é uma atitude política. Então, viver é uma atitude política'.
Em 1982, duas semanas antes da morte, Elis participou do programa 'Jogo da Verdade', de Salomão Ésper, e foi entrevistada por Mauricio Kubrusly e Zuza Homem de Mello. Ela disse: 'Hoje é mais difícil fazer disco porque a prepotência ganhou outros nomes: marketing, merchandising. Não há preocupação com a criatividade'.
Elis sempre elogiava os artistas de sua época 'Nossa geração é o seguinte: feijoada mesmo, fomos nós que fizemos', disse referindo-se a referências musicais como Milton Nascimento, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Rita Lee e Gal Costa (na foto, com Elis).
Elis dizia que para cantar samba não é preciso nascer no morro. Um documentário mostra Adoniran Barbosa (na foto, com Elis) como guia da cantora em 1978 no Bexiga. Depois de uma festa no bar, ele a leva para conhecer o bairro ao som de 'Saudosa Maloca'.
Elis morreu aos 36 anos, interrompendo uma carreira que estava no auge. Ela foi mais uma vítima do uso de drogas, mal que já tirou a vida de tantos artistas talentosos ao longo da história. Uma overdose de uísque, cocaína e tranquilizante calou Elis para sempre.
Em entrevista a João Marcello Bôscoli, no programa 'Mão na Massa', do Showlivre, a cantora islandesa Björk (foto) falou de Elis: '“Ela vai emocionalmente a lugares aonde não tenho coragem de ir'.
Elis Regina tem homenagens permanentes no Rio Grande do Sul. Uma estátua em bronze da cantora foi inaugurada em 2009 ao lado do Centro Cultural Usina do Gasômetro, como parte das comemorações pelos 237 anos de Porto Alegre, sua cidade natal.
Na Casa de Cultura Mário Quintana, em Porto Alegre - destinada à preservação da memória do poeta gaúcho - um espaço é dedicado especialmente à conterrânea Elis Regina, com fotografias, discos e objetos doados por fãs, jornalistas e amigos da cantora.