A juíza Admara Falante Schneider, da 40º Vara Cível, ordenou que Pavinatto retire das redes uma versão da música “Cálice” feita para atacar Alexandre de Moraes, ministro do STF. Em caso de descumprimento, a multa é ded R$ 40 mil.
Na ação, Chico e Gil alegavam que não autorizaram as modificações na canção, composta no início dos anos 1970 com críticas, recheadas de metáforas, à ditadura militar então vigente no Brasil. A música foi lançada no álbum de Chico Buarque de 1978 (foto).
'O perigo de dano ficou configurado, pois se trata de uma obra escrita e composta pelos autores, que foi modificada sem autorização e veiculada em sítio público', afirmou a juíza em sua sentença.
Um dos mais importantes artistas brasileiros, o compositor, cantor e escritor Chico Buarque de Hollanda comemorou 80 anos em 19/06/2024.
Francisco Buarque de Hollanda nasceu no Rio de Janeiro em 1944. Ele é o quarto de sete filhos do historiador Sérgio Buarque de Hollanda (1902 - 1982), autor do clássico “Raízes do Brasil”, e da pintora e pianista Maria Amélia Cesário Alvim (1910 - 2010)
Na infância, Chico morou com a família em São Paulo e na Itália - país em que iria se exilar anos mais tarde, entre 1969 a 1970, após o recrudescimento da ditadura militar com a edição do AI-5 no fim de 1968.
Nos anos 60, quando estudava arquitetura na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), da USP, Chico iniciou sua carreira musical e largou o curso no terceiro ano.
Em 1965, o artista teve seu primeiro registro em disco com compacto simples pela RGE que trazia as canções “Pedro Pedreiro” e “Sonho de Um Carnaval”.
Chico Buarque começou a fazer sucesso em 1966, ao vencer o II Festival de Música da Record com a canção “A Banda”. Ele dividiu o palco com Nara Leão e o prêmio com “Disparada”, de Geraldo Vandré e Theo de Barros, interpretada por Jair Rodrigues.
No mesmo ano, lançou seu primeiro LP, “Chico Buarque de Hollanda”. A capa do disco, que traz duas fotos de Chico, uma rindo e outra com expressão séria, virou meme nos últimos anos na internet.
Em quase 60 anos de carreira, Chico Buarque lançou 37 álbuns de estúdio, além de mais de duas dezenas entre gravações ao vivo de shows e coletâneas.
Entre os mais importantes está “Construção”, de 1971, com faixas compostas entre o período de exílio na Itália e o retorno para o Brasil. O álbum aparece na terceira colocação em eleição dos cem maiores discos da música brasileira da revista Rolling Stones.
Chico foi um dos compositores mais censurados pela ditadura militar (1964 - 1985). Não foram poucas as canções que tiveram versos alterados por ordens do censores, como “Samba de Orly”, parceria com Toquinho e Vinícius de Moraes, “Partido Alto” (foto) e “Tanto Mar”, canção alusiva à Revolução dos Cravos, em Portugal.
Algumas músicas de Chico, em composição solo ou parceria, se tornaram hinos contra a ditadura. Exemplos de “Cálice”, com Gilberto Gil e “Apesar de Você”.
O artista esteve presente na Passeata dos Cem Mil, manifestação contra a ditadura, no Rio de Janeiro, em 26 de junho de 1968.
Diante do cerco às suas obras, em 1974 o artista lançou o álbum ‘Sinal Fechado”, em que interpreta canções alheias, de Tom Jobim, Caetano Veloso, Paulinho da Viola e outros emblemas da MPB.
Entre as faixas do disco, havia “Acorda Amor”, parceria de um tal Julinho de Adelaíde com Leonel Paiva. Eram, na verdade, dois pseudônimos criados por Chico para tentar driblar a censura.
Chico também ganhou notoriedade como compositor para trilhas sonoras de filmes, como “Dona Flor e Seus Dois Maridos” (adaptação de Bruno Barreto para romance de Jorge Amado, em 1976) e “Bye Bye Brasil” (de Cacá Diegues, em 1979).
Entre os parceiros mais frequentes de Chico Buarque em canções estão Tom Jobim (o seu “maestro soberano”), Edu Lobo e Francis Himes. Ao lado de Tom, ganhou o Festival Internacional da Canção de 1968 por “Sabiá”, interpretada pelas irmãs Cynara e Cybele, do Quarteto em Cy.
A partir dos anos 90, Chico dividiu a carreira de compositor e cantor com a de escritor. Em 1991, publicou o romance “Estorvo”, que venceu o Prêmio Jabuti de Melhor Romance no ano seguinte e recebeu uma adaptação para o cinema.
De lá para cá, ele lançou mais cinco romances (“Benjamin”, “Budapeste”, “Leite Derramado”, “O Irmão Alemão” e “Essa Gente”), além do livro de contos “Anos de Chumbo”, e venceu o Prêmio Camões (2019), o mais importante da literatura em língua portuguesa.
No período, Chico lançou discos em média a cada cinco anos, cada um deles seguidos por turnês de sucesso por capitais brasileiras.
Em 1998, Chico Buarque foi tema do enredo da Mangueira, sua escola do coração, no Carnaval do Rio de Janeiro. Com “Chico Buarque da Mangueira”, a Verde-e-Rosa encerrou jejum de 11 anos e conquistou o 17º título de sua história.
Seu último álbum de inéditas foi “Caravanas”, de 2017. Em 2022, lançou o single “Que Tal um Samba?”, tema de uma turnê que fez na sequência ao lado da cantora Mônica Salmaso.
Uma das grandes paixões de Chico Buarque é o futebol. Ele é torcedor do Fluminense e comparece em jogos do clube no Maracanã.
O compositor tem um campo no Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste do Rio de Janeiro, onde está sediado o Polytheama, time que fundou e conta com uniforme e até hino. No local, ele promove partidas com amigos.
Chico Buarque foi casado por 33 anos, de 1966 a 1999, com Marieta Severo. Com a atriz, teve as filhas Silvia (atriz nascida durante o exílio do cantor na Itália), Helena e Luísa.
O artista tem sete netos, entre eles o músico Chico Brown e a atriz Clara Buarque (filhos de Carlinhos Brown com Helena Buarque).
Em 2021, o compositor casou-se com a advogada Carol Proner em um cartório de Petrópolis, no Rio de Janeiro.