O fator não está nas emissões de carbono, mas na capacidade térmica e radiativa dos veículos.
E a principal razão que define o quanto absorvem ou liberam calor é a cor dos carros.
Quando somados aos milhões de automóveis presentes nos grandes centros, esses efeitos aumentam a retenção de calor nas cidades e criam condições microclimáticas mais severas.
De acordo com o estudo, os pedestres são os que mais sofrem, já que precisam circular em áreas onde a elevação da temperatura é sentida de forma imediata.
Para avaliar a influência dos carros na retenção de calor em áreas urbanas, pesquisadores monitoraram a temperatura ao redor de dois veículos de tonalidades diferentes estacionados ao ar livre por mais de cinco horas.
Durante um dia de verão com 36 °C, o veículo escuro elevou o ar ao redor em até 3,8 °C em relação ao asfalto.
Em contrapartida, o carro claro, por refletir a maior parte da radiação solar, não provocou um aumento térmico relevante.
O contraste ocorre porque tintas escuras refletem apenas de 5% a 10% da luz solar.
Além disso, superfícies metálicas finas, como aço e alumínio presentes nos automóveis, aquecem rapidamente sob o sol.
Já o asfalto, por ser mais espesso, aquece de forma mais lenta.
De acordo com os cientistas, a situação é agravada pelo fato de os carros ocuparem até 10% da área de vias em grandes cidades.
Em entrevista à revista New Scientist, Márcia Matias, coautora do estudo, propõe uma reflexão: 'Imagine milhares de carros estacionados por toda a cidade, cada um agindo como uma pequena fonte de calor ou um escudo térmico.'
Os cientistas ressaltam que o impacto dos carros sobre o aquecimento urbano deve ser considerado nas políticas de planejamento das cidades.
Entre as medidas sugeridas, uma das mais simples seria substituir as cores escuras dos automóveis por tons claros com alto poder de reflexão.
A prática já é comum em telhados, calçadas e pavimentos para reduzir a absorção de calor.
Tomando a cidade de Lisboa como exemplo — onde carros estacionados ocupam mais de 10% da via — a adoção dessa medida poderia até dobrar a taxa de reflexão de luz.
Além disso, os pesquisadores sugerem alternativas complementares, como limitar estacionamentos de acordo com a cor dos carros.
Outras opções seriam: instalar estruturas de sombreamento em estacionamentos ao ar livre e incentivar o uso de veículos elétricos, que liberam menos calor do que os modelos a combustão.