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Paulo Francis: a música que Caetano Veloso compôs em resposta a críticas de jornalista


Em 1983, o jornalista Paulo Francis fez críticas a Caetano Veloso em uma crônica no jornal “Folha de S.Paulo”. E elas receberam uma resposta do compositor baiano em forma de canção.

Por Flipar
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No texto, com o título “Caetano, pajé doce e maltrapilho”, Francis fez elogios ao talento do artista como compositor, mas disse, entre outras coisas, que ele havia virado “um totem” ao falar “de tudo com autoridade imediatamente consagrada pela imprensa”.

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Seis anos depois, Caetano compôs a música “Reconvexo” para a irmã Maria Bethânia gravar. Na letra, ele alfineta Francis nos versos: 'Meu som te cega, careta, quem é você?'.

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“A letra é meio contra o Paulo Francis, uma resposta àquele estilo de gente que queria desrespeitar o que era brasileiro, o que era baiano, a contracultura, a cultura pop, todo um conjunto de coisas que um certo charme jornalístico, tipo Tom Wolf, detestava e agredia”, explicou Caetano no livro “Sobre as letras”, organizado por Eucanaã Ferraz (Cia das Letras, 2003).

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Paulo Francis, pseudônimo de Franz Paul Trannin da Matta Heilborn, nasceu no Rio de Janeiro em 1930 e construiu uma trajetória multifacetada como jornalista, crítico teatral, diretor e escritor.

Arquivo Nacional do Brasil

Neto de um alemão que comercializava café, teve formação escolar marcada pela passagem por um internato na Ilha de Paquetá e pelo Colégio Santo Inácio, em Botafogo.

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Ele integrou o Centro Popular de Cultura da UNE e atuou como ator amador em um grupo orientado por Paschoal Carlos Magno, que lhe sugeriu o nome artístico pelo qual se tornaria conhecido.

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Sua atuação como crítico de teatro, especialmente no “Diário Carioca” entre 1957 e 1963, buscou renovar a abordagem crítica. Essa postura o destacou no meio jornalístico e consolidou sua importância no debate teatral brasileiro.

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Após o golpe de 1964 e ao longo da ditadura militar, Francis atuou sobretudo em “O Pasquim” e na “Tribuna da Imprensa”. Em paralelo, editou a revista “Diners” e, em 1968, foi preso logo após o AI-5, permanecendo detido até janeiro de 1969.

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Nesse período de instabilidade profissional, viajou pela Europa como correspondente internacional antes de se estabelecer definitivamente em Nova Iorque em 1971.

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A partir daí, tornou-se articulista de diversas revistas, casou-se com a jornalista Sônia Nolasco em 1975 e assumiu a função de correspondente da Folha de S.Paulo.

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Francis ficou muito conhecido por envolver-se em polêmicas, sempre provocadas por seu estilo sarcástico. Alguns de seus atritos se tornaram célebres, como um ataque a Tônia Carrero, que resultou em agressões físicas por parte do marido da atriz, Adolfo Celli.

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No fim dos anos 1970, ampliou sua atuação ao lançar-se como romancista, com “Cabeça de Pape” (1977) e “Cabeça de Negro” (1979), obras que empregavam elementos de sua vivência na elite cultural carioca e buscavam combinar subjetividade literária com uma narrativa próxima do thriller.

- Divulgação

Após o fim do regime militar, Francis passou por uma transformação ideológica marcante Em 1985, publicou uma coluna em que revia críticas anteriores ao economista liberal Roberto Campos e defendia a importância do capitalismo em países pobres.

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Na televisão, criou uma persona marcada por histrionismo, voz grave e um estilo que misturava erudição e deboche, tornando-se figura amplamente imitada. Em 1981, ingressou como comentarista nas Organizações Globo. Participou do “Jornal da Globo” e fez entradas no “Jornal Nacional” .

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Nos anos 1990, integrou o programa “Manhattan Connection”, ao lado de Lucas Mendes, Caio Blinder e Nelson Motta. Em 1996, passou a atuar também na Globo News, entrevistando personalidades como John Kenneth Galbraith.

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Sua última grande controvérsia ocorreu em 1996, quando acusou diretores da Petrobras de manterem contas milionárias na Suíça, durante uma edição do “Manhattan Connection”. O presidente da estatal, Joel Rennó, moveu um processo na justiça americana. A pressão judicial - cujo valor pedido chegava a 110 milhões de dólares - abalou profundamente Francis.

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Paulo Francis morreu em fevereiro de 1997, em Nova Iorque, após um ataque cardíaco inicialmente diagnosticado como bursite. O jornalista vivia havia mais de vinte anos com sua esposa, Sônia Nolasco, e seu corpo foi trasladado para o Rio de Janeiro, onde foi enterrado no Cemitério de São João Batista.

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