A reclassificação foi feita pela Agência Internacional de Pesquisas sobre o Câncer (IARC), órgão da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Trata-se da atrazina, usada em diversas culturas como abacaxi, cevada, milho, soja e cana-de-açúcar.
O composto permaneceu por décadas sem classificação definida quanto ao risco de provocar tumores por falta de evidências conclusivas.
A nova avaliação substitui a classificação anterior de 1998, quando não havia provas suficientes de que o herbicida pudesse causar câncer.
A pesquisa foi fruto do trabalho de 22 pesquisadores internacionais, entre eles a brasileira Cassiana Montagner, da Unicamp.
A mudança de categoria significa que qualquer grau de exposição passa a ser considerado arriscado.
Segundo Montagner, substâncias colocadas no grupo 2A não admitem níveis seguros de contato, o que implica a necessidade de rever práticas agrícolas e rotinas de manuseio.
Especialistas do Instituto Nacional do Câncer (INCA) reforçam que, diante das incertezas e das associações observadas, restringir ou banir a substância é a medida mais prudente.
Outros órgãos como Anvisa e Ibama, por sua vez, afirmam que mudanças só podem ocorrer após um processo formal de reanálise, que ainda não foi iniciado.
A IARC realiza anualmente essa avaliação de potencial cancerígeno de substâncias, seguindo um procedimento sigiloso para garantir a isenção de influências corporativas.
Os especialistas são organizados em quatro grupos que analisam a exposição humana, a capacidade de provocar câncer em humanos e animais, e os mecanismos moleculares envolvidos.
'Não é uma evidência catastrófica, que daí justificaria classificá-lo como classe 1. Mas, no caso do grupo 2A, seria assim: 'É carcinogênico, temos todas as evidências para a carcinogenicidade', explicou a pesquisadora brasileira.
Segundo ela, 'ações precisam ser tomadas para diminuir a exposição humana a esse composto'.
Resíduos do composto são persistentes, contaminam o solo, escoam para rios e chegam ao consumo humano por meio do ar, da água potável e de alimentos — o tratamento de água atual não é eficaz na sua remoção.
'A gente tem todos esses dados que mostram que nós, seres humanos, não só os agricultores, estamos expostos”, pontua Cassiana.
Embora a reclassificação da IARC não tenha poder regulatório direto, funciona como referência para agências nacionais.
O tema já chegou ao Congresso por meio do PL 5080/2023, que propõe proibir o princípio ativo em todo o território nacional.
Desde 2003, diversos países da União Europeia já não fazem uso da atrazina por razões ambientais.