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Artigo: Planejamento reprodutivo, um lema para os novos tempos

Barreiras financeiras e geográficas limitam o acesso a tratamentos avançados, como a fertilização in vitro, e podem aumentar ainda mais a lacuna de gênero, já que as mulheres tendem a carregar o fardo da infertilidade sozinhas

 Genetics background. 3D Render --- Reprodução assistida
       -  (crédito:  Getty Images)
Genetics background. 3D Render --- Reprodução assistida - (crédito: Getty Images)

» Onel Alejandro Goitia, Ginecologista atuante na área de reprodução humana

» Alvaro Pigatto Ceschin, Especialista em reprodução humana assistida e presidente da Associação Brasileira de Reprodução Assistida

Na medida em que avançamos 2024, muito se questiona se este será o ano em que faremos mudanças substanciais na saúde das mulheres, rumo à redução da lacuna de gênero, de modo que toda mulher seja tratada com o devido respeito e receba os cuidados de saúde essenciais. O ano de 2023 apresentou enormes desafios e motivos de preocupação, mas devemos esperar que 2024 seja diferente? Ao que parece, todos concordam que investir na saúde das mulheres é um passo fundamental para o desenvolvimento humano, mas a realidade continua dura para elas.

Atualmente, as mulheres representam 49,75% da população mundial, de acordo com as Nações Unidas (2023), mas suas necessidades de saúde continuam negligenciadas. Os esforços para cuidar das quase 4 bilhões de mulheres são enormes, e, em 2021, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu seis prioridades para a saúde feminina na tentativa de superar os vários desafios que mulheres e meninas enfrentam para obter cuidados adequados.

A agenda incluía acesso à saúde sexual e reprodutiva de qualidade para todas, prevenção da violência contra as mulheres e prevenção de doenças não transmissíveis (DNT), como a obesidade. Ampliar a participação das mulheres em cargos de liderança, tanto na ciência quanto na saúde pública, também é um item importante na agenda e que ainda não foi cumprido

A infertilidade e uma ampla gama de doenças, como endometriose, miomas e sintomas da menopausa, precisam urgentemente de atenção. Uma em cada seis pessoas enfrenta infertilidade, de acordo com o último relatório da OMS. O acesso ao diagnóstico e ao tratamento adequados permanece restrito a apenas algumas pessoas mesmo em países desenvolvidos. Barreiras financeiras e geográficas limitam o acesso a tratamentos avançados, como a fertilização in vitro (FIV), e podem aumentar ainda mais a lacuna de gênero, já que as mulheres tendem a carregar o fardo da infertilidade sozinhas.

A capacidade de criopreservar gametas e embriões resultou em importantes opções reprodutivas. Ela deu a indivíduos que enfrentam a possível perda da capacidade reprodutiva, como aqueles que recebem tratamento médico gonadotóxico devido a um câncer, a chance de ter filhos biologicamente relacionados no futuro. Embora o primeiro nascimento humano a partir de um oócito previamente congelado tenha ocorrido em 2011, técnicas laboratoriais como a vitrificação levaram a uma melhora significativa na eficácia da criopreservação de oócitos (CO). Um número crescente de mulheres está buscando a CO planejada, além de um número crescente de médicos que acompanham essa demanda.

Além disso, a CO planejada amplia as opções reprodutivas para homens transgêneros, que enfrentam a perda de gametas femininos no processo de transição. Outro avanço é da criopreservação (congelamento) de espematozoides quando há um desejo de postergar a gestação ou mesmo antes de realizar a vasectomia como método definitivo de contracepção.

É fundamental reconhecer e abordar as necessidades específicas de saúde reprodutiva das pessoas transgênero que, apesar dos avanços na medicina, ainda enfrentam dificuldades para acessar cuidados relacionados à fertilidade. Isso inclui questões como acesso a terapias hormonais adequadas, acompanhamento médico durante a transição de gênero e apoio durante processos de fertilidade.

Também é crucial que os sistemas de saúde ofereçam opções reprodutivas inclusivas, como a criopreservação de gametas, que podem permitir que homens trans mantenham a opção de ter filhos biológicos no futuro, mesmo após a transição de gênero. Outro aspecto crucial é a inclusão das necessidades únicas das pessoas transgênero em nossas discussões e políticas de saúde. Isso não apenas promoverá a equidade em saúde, mas também garante que todos tenham a oportunidade de construir suas famílias de maneira segura, eficaz e acessível.

Reforçamos e reiteramos a frase de Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS: "A grande proporção de pessoas afetadas mostra a necessidade de ampliar o acesso aos cuidados de fertilidade e garantir que esse problema não seja mais deixado de lado nas pesquisas e políticas de saúde para que as pessoas que desejam tenham formas seguras, eficazes e acessíveis de ter filhos".

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postado em 29/04/2024 06:00 / atualizado em 29/04/2024 06:00
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