Brasil

População de BH tem medo da polícia

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postado em 05/10/2008 12:37
Quem vive no interior de Minas está mais satisfeito com a polícia do que quem mora em Belo Horizonte. Estudo inédito da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) sobre a percepção de pessoas atendidas pelas polícias Militar e Civil nos últimos cinco anos mostra que 48,5% dos entrevistados na capital não confiam na polícia e 60% têm medo das corporações. No interior, o cenário é diferente: 49% das pessoas ouvidas confiam e 45,3% têm medo. A pesquisa ouviu 1.890 cidadãos vítimas de crimes em 14 cidades diferentes e foi obtida com exclusividade pelo Estado de Minas. Tanto no interior quanto na capital, a maioria dos entrevistados considera suas cidades mais calmas do que violentas (79,8% no interior e 82,3% em BH). Mas, em Minas, 79,1% das pessoas dizem acreditar que a violência em sua cidade aumentou nos últimos anos. Realizado para conhecer melhor como se dá o atendimento policial e detectar possíveis problemas, o estudo servirá para tentar melhorar a qualidade da prestação de serviços policiais à sociedade e a imagem das corporações, segundo a Seds. Com a pesquisa, foi possível chegar ao Indicador Geral de Satisfação nas oito macrorregiões de Minas: a Região de Lavras e Pouso Alegre, no Sul do estado, alcançou o melhor índice; Patos de Minas, no Alto Paranaíba, o pior. Os valores foram obtidos levando-se em consideração seis aspectos do contato entre polícia e vítimas de crimes. Os que apresentaram melhores pontuações, em geral, foram facilidade de acesso à polícia, cordialidade, capacidade de comunicação e competência. Credibilidade e interesse policial em resolver os problemas tiveram notas mais baixas. Os dados foram coletados nos dois últimos meses de 2007 e o estudo ficou pronto em março deste ano. O resultado foi apresentado a representantes das polícias, Seds e Advocacia-geral do Estado durante reunião do Colegiado do Sistema de Defesa Social. ;É uma pesquisa muito nova, por aqui nunca tinha sido feito nada nesse sentido. O resultado será focado para a frente. No futuro, será possível monitorar a evolução dos índices em todas as regiões;, afirma o sociólogo Bráulio Alves da Silva, um dos coordenadores do estudo, para quem ;os resultados são bons e os níveis de satisfação estão acima da média;. Pesquisador do Centro de Estados de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da UFMG, ele diz que a diferença entre capital e interior em relação à percepção da confiança e o medo da polícia pode ser explicada pelas características do trabalho em cada região. Militares e civis recebem críticas ;No interior há um grau de coesão maior, as pessoas conhecem os policiais pelo nome. Por isso, é esperado que confiem mais neles. Belo Horizonte é uma metrópole, as pessoas se conhecem pouco. Mesmo que tenha policiais no seu bairro, nem sempre você os conhece;, afirma. O segurança de lanchonete, D.A.M., de 43 anos, concorda. Ele lembra que os policiais mais honestos que já conheceu são de sua terra natal, Muzambinho, na Região Sul de Minas. Mas a relação que mantém com os policiais que atuam no Centro de BH o deixa desacreditado em relação às corporações. ;Se ocorrer um assalto e eu ligar para o 190, demorarei 30 minutos para ser atendido. Tenho o telefone celular de duas viaturas que a gente escolhe e tem de servir cafezinho e lanche só para os policiais aparecerem e fazerem uma ronda. Na hora da necessidade, são eles que nos atendem, em dez minutos estão na porta;, conta o segurança, que pediu para não ser identificado. D.A.M. diz ter medo da polícia. ;A violência com que eles tratam algumas pessoas aqui na porta não nos deixa tranqüilos;, afirma. No estudo da Seds, 441 dos 1879 entrevistados, quase um quarto do total (23,5%), disseram que eles mesmos ou algum outro morador da sua residência já foram ;vítimas de alguma violência por parte da polícia sem que tenha dado motivos para isso;. A maioria das pessoas ouvidas (73,5%) disse que considera o tratamento às pessoas ricas melhor que o tratamento dispensado aos pobres e 56,7% afirmaram que brancos recebem tratamento diferenciado e melhor. Para 64,1% dos entrevistados, os policiais são mais atenciosos com os idosos. O sociólogo Bráulio Silva acredita que o trabalho servirá como base para as corporações melhorarem a imagem de segurança e confiabilidade. Para ele, serviços como o Disque-Denúncia ;têm grande credibilidade; junto à população, o que favorece a criação de laços mais ternos entre cidadãos e polícias. Por meio da assessoria de comunicação, o secretário Maurício Campos Jr. informou que não comentaria a pesquisa, por considerá-la estratégica e de interesse restrito à Seds.

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