Brasil

Relacionamentos que terminam em violência amedrontam famílias

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postado em 26/10/2008 08:33
Possíveis erros da polícia, a volta de uma das reféns ao cativeiro e o motivo passional do seqüestro não são as únicas polêmicas levantadas pelo seqüestro da jovem Eloá Pimentel, em Santo André (SP). A pouca idade da garota quando começou a namorar seu algoz ; 12 anos ; também provoca discussões. O relacionamento com Lindemberg Alves, sete anos mais velho que ela, durou três. E terminou de forma trágica, com o assassinato da adolescente, aos 15 anos. A repercussão do caso preocupou pais e mães, que naturalmente têm dificuldades de lidar com a iniciação afetiva e sexual dos filhos. A idade ideal para começar um relacionamento amoroso, os limites a serem impostos e o risco de uma gravidez indesejada na adolescência são alguns itens na lista de questionamentos que, em pleno século 21, ainda tiram o sono de muitos pais, até dos que se dizem moderninhos. Para começar, especialistas avisam: não existe ;a idade adequada; para o filho iniciar um namoro. ;Claro que o dado cronológico é um referencial importante para nós, da cultura ocidental, mas nessa questão outras variáveis devem ser percebidas;, afirma a psicóloga Malu Moura, presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda). O comportamento, a personalidade, o ambiente e a educação recebida são os pontos principais para pais avaliarem o grau de maturidade dos filhos, ensina Mara Pusch, psicóloga do Ambulatório do Adolescente da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). ;Verifique se ele consegue cumprir as tarefas, se administra bem o próprio tempo. Preste atenção nas companhias, com quem ele costuma conversar. Analise também o perfil do adolescente, se ele é mais atirado ou mais introspectivo;, recomenda a psicóloga. Namoro consumado, é importante observar o nível de envolvimento do filho no relacionamento, de acordo com a psicóloga Maraci Sant;Ana. ;Ele concentra todas as energias no namoro ou dedica atenção a outras esferas da vida? Se os coleguinhas antigos, que costumavam freqüentar sua casa, sumiram, é um sinal negativo. A relação deve ser uma parte da vida, assim como a escola, a família, os amigos;, diz. Diálogo e embaraço Mas olho atento não é tudo. Por mais piegas que possa parecer, ter um canal de diálogo com o filho faz toda a diferença em momentos de embaraço. ;Mas isso é construído desde criança, numa relação baseada em confiança e respeito;, destaca Maraci. A receita do bate-papo aberto pode ser atestada por Luciane Lopes Stein. Logo que a filha Adriéli, hoje com 16 anos, começou a namorar, Luciane soube. ;Sempre contei as coisas para minha mãe. Ela sabia que eu ficava com uns garotos. Então quando decidi namorar mesmo, com 14 anos, falei para ela, sem problemas;, lembra Adriéli. O namorado, Diogo Cintra Lopes, 18 anos, ganhou a simpatia da família. ;Fico até segura de saber que ele protege a Adriéli, é um bom garoto, não bebe;, conta a mãe, de 39 anos. Luciane não faz cerimônia para conversar sobre relacionamento e sexo com os pimpolhos. Nem o caçula Gabriel, de 12 anos, escapa. ;Ele e os colegas já falam das meninas da escola, de ficar. Então eu tento educar meu filho, para que ele respeite as mulheres, seja uma pessoa de caráter;, afirma Luciane. Limites Apesar de toda a liberdade dada aos filhos, Luciane impõe limites, atitude fundamental, de acordo com especialistas, para o adolescente se tornar um adulto equilibrado. ;Para algumas festas, eu não deixo ir. Costumo levá-los aos lugares onde vão. Às vezes saímos juntos, vamos ao cinema. Mas sempre respeitando a individualidade deles. Não posso também ficar segurando vela;, brinca Luciane. Segundo a psicóloga Cristiane Decat, as imposições variam de acordo com a dinâmica da família, mas precisam existir. ;É saudável limitar o horário de chegada, número de saídas, verificar as companhias. Proibir só estimulará mais o namoro;, defende a especialista. Eventuais diferenças de idade entre o casal também costumam preocupar os pais. Mas, segundo Maraci, da Unifesp, não devem se tornar uma dor de cabeça para ninguém. ;O que costuma acontecer é o mais velho ter uma autonomia que o mais jovem não tem. No entanto, vale observar caso a caso. Não podemos dizer, genericamente, que a diferença de idade é um problema;, afirma a psicóloga. Os dois anos e meio que separam Diogo de Adriéli atrapalham, mas nem tanto. ;Agora que ele terminou o segundo grau, nos encontramos menos. Mas eu não conseguiria namorar um menino da minha idade;, diz Adriéli, lembrando que geralmente meninas amadurecem antes que os meninos. Leia mais na edição impressa do Correio Braziliense

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