Brasil

100 anos: Carmem Miranda é reverenciada na moda, no carnaval e na mídia

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postado em 09/02/2009 09:20
Carmen Miranda não era brasileira de nascimento. Registrada como Maria do Carmo Miranda da Cunha, nasceu em 9 de fevereiro de 1909, em Marco de Canaveses, distrito de Porto, em Portugal. No entanto, poucos artistas brasileiros incorporaram a alma local como a ;pequena notável;. ;Sem ela não teríamos o samba, nem a marchinha, nem o samba-choro, nem outros ritmos que ela ajudou a fixar. Sem ela, o disco e o rádio também demorariam muito mais para pegar no Brasil;, resume o jornalista Ruy Castro, autor de Carmen, uma biografia ; A vida de Carmen Miranda, a brasileira mais famosa do século 20. Filha de pai barbeiro e mãe lavadeira, Carmen Miranda viveu a infância e boa parte da adolescência na Lapa. Para ajudar a família, chegou a trabalhar como vendedora em loja de chapéus femininos e mais tarde numa de artigos masculinos. O primeiro sucesso surgiu em 1930 com a marcha Pra você gostar de mim (Taí), composição de Joubert de Carvalho. Em 1939, no auge da carreira, deixou o Brasil rumo à América, onde participou de 14 filmes. Morreu em 5 de agosto de 1955, em Beverly Hills. ;As gravadoras precisam relançar todos os seus discos; as rádios, tocá-los, e o povo brasileiro, ouvi-los;, defende Castro, que pretende lançar novo livro sobre a diva. ;Será de imagens;, antecipa. Para celebrar o centenário, a gravadora Sony BMG está lançando um disco duplo, a coletânea Carmen Miranda 100 anos ; Duetos e outras Carmens, e a EMI promete mandar de volta às lojas os quatro CDs com repertório selecionado por Ruy Castro. Até o fim do semestre, a paulista Ná Ozzetti deve lançar o CD Balangandã, uma extensão do show Ná canta Carmen Miranda, que rodou o país em 2008. Em Brasília, foi atração da programação do Teatro da Caixa. ;O show tinha 18 canções. Por falta de espaço, entraram apenas 15 no CD;, ela conta. ;A obra continua atemporal, não se esgota.; No Rio de Janeiro, a Secretaria de Cultura promove a Semana Carmen Miranda, com eventos no museu de mesmo nome. Até o dia 15, o público poderá assistir a palestras, filmes e shows. Os destaques ficam por conta da exposição Carmen Miranda ; Notável para sempre, organizada pelo artista Ulysses Rabelo, e do carnaval. ;Em 2008, o Império Serrano venceu o Segundo Grupo com enredo sobre Carmen e voltou à elite do samba. Este ano, haverá dezenas de blocos no Rio homenageando-a;, diz Ruy Castro, que organiza homenagens a Aurora (irmã de Carmen) e ao Bando da Lua (grupo que acompanhava a cantora). ;Nem pergunte como anda minha vida;, brinca. Escolhida como ícone da edição 2009 da São Paulo Fashion Week, em janeiro, Carmen Miranda também estará na Marquês de Sapucaí como tema do camarote de uma grande marca de cerveja ; a decoração será repleta de lantejoulas e balangandãs. E o governador do Rio, Sérgio Cabral, aproveita para lançar a medalha dos 100 anos confeccionada pela Casa da Moeda e Clube da Medalha. No embalo das comemorações, as rádios Cultura Brasil e Roquette Pinto (onde a cantora começou a carreira em 1929) dedicam parte da programação ao vasto repertório da artista. A TV Cultura também abre espaço em sua grade e estreia hoje o Projeto Efemérides, série de inserções nos intervalos que mostram a ligação da cantora com o samba. Às 21h40, a emissora apresenta edição especial do Metrópolis, com imagens de arquivo e depoimentos. Às 22h10, o Roda viva reprisa a entrevista gravada em 2006 com o jornalista Ruy Castro. Principais sucessos Iaiá, ioiô, marchinha de Josué de Barros (1929) Pra você gostar de mim (Taí), marchinha de Joubert de Carvalho (1930) Duvi-d-o-dó, marchinha de Benedito Lacerda e João Barcellos (1936) Cantoras do rádio, marchinha de Alberto Ribeiro e João de Barro (1936) No tabuleiro da baiana, batuque de Ary Barroso (1936) Camisa listada, samba-choro de Assis Valente (1937) O que é que a baiana tem?, samba típico baiano de Dorival Caymmi (1938) Mamãe, eu quero, marchinha de Jararaca e Vicente Paiva (1939) Disseram que eu voltei americanizada, samba de Vicente Paiva e Luiz Peixoto (1940) Chica chica boom chic, samba-rumba-canção de Harry Warren e Mack Gordon (1941) Filmes nos EUA Serenata tropical (1940) * Uma noite no Rio (1941) * Aconteceu em Havana (1941) Minha secretária brasileira (1942) Entre a loura e a morena (1943) * Quatro moças num Jeep (1943) Serenata boêmia (1944) Copacabana (1946) * O príncipe encantado (1948) * Romance carioca (1950) (*) Disponíveis no Brasil
Três perguntas - Ruy Castro
De que forma Carmen Miranda contribuiu para divulgar a música brasileira lá fora e aqui? A contribuição dela aqui foi monumental. Gravou 281 discos, dos quais pelo menos um terço foi sucesso, lançou dezenas de clássicos e foi a primeira a gravar Dorival Caymmi, Synval Silva, Alcyr Pires Vermelho e até Ataulpho Alves. Foi quem mais gravou Ary Barroso e Assis Valente. Lá fora, ela não podia cantar as melhores coisas, então, serviu apenas para popularizar as mais alegres, como Mamãe eu quero e Tico-tico no fubá. Alguns críticos dizem que ela foi para os Estados Unidos e virou uma espécie de macumba para turista. Você concorda? Críticos bem cretinos, eu diria. Os americanos transformam tudo em macumba para turista. Quanto aos que criticam Carmen por ter vendido ;aquela; imagem do Brasil lá fora, qual Brasil queriam que ela vendesse? O do Machado de Assis, do Euclides da Cunha, do Oswaldo Cruz? Por acaso a Gisele Bundchen vende hoje o Brasil do Guimarães Rosa? Que avaliação você faz da trajetória da artista? No Brasil, genial em todos os sentidos. Lá fora, Carmen fez apenas o que lhe permitiram fazer, mas sempre com grande dignidade: nunca aceitou cantar em espanhol, por exemplo, somente em português e inglês.

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