Brasil

O apelo das filhas de Cesare Battisti

Valentina e Charlene visitam o pai no Complexo da Papuda e ressaltam que temem pela morte dele, caso tenha de voltar à Itália. A irmã mais velha conta ao Correio que o ex-militante ainda acredita numa reviravolta na votação

postado em 30/09/2009 10:07

A filha mais velha do ex-ativista Cesare Battisti, Valentina Battisti, 25 anos, é uma moça de poucas palavras. Mas nelas, sabe se expressar com clareza e convicção de ideias. Diz que teme pela vida do pai, caso ele seja extraditado para a Itália. O Supremo deve decidir em outubro o futuro escritor ex-militante do Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), grupo que fazia oposição ao governo italiano nos anos 1970. Battisti foi condenado à prisão perpétua pela justiça italiana, apontado como responsável por quatro assassinatos. ;O nosso medo é que o matem na prisão;, reforça a jovem.

Charlene (E) e Valentina no Aeroporto Internacional de BrasíliaValentina e a irmã mais nova, Charlene Battisti, 14 anos, desembarcaram em Brasília em 24 de setembro e seguiram direto do aeroporto para o Complexo Penitenciário da Papuda, onde o ex-ativista está preso há quase dois anos, à espera da sentença do Supremo Tribunal Federal (STF) que vai definir se ele deverá ou não ser extraditado. As irmãs permaneceram no país até ontem, quando viajaram de volta a Paris, onde moram ; a mais nova com a mãe e a mais velha com o namorado.

Minutos antes de entrar na sala de embarque, elas conversaram com o Correio sobre a visita ao pai na penitenciária. Valentina rebateu as acusações que recaem sobre o ex-militante. Afirmou ter convicção da inocência dele e ressaltou o medo do que pode acontecer com Cesare Battisti. ;A Itália fará muito mal a ele, na prisão;, disse, com a voz embargada pelo choro. ;O tratarão muito mal;, completou.

A filha Charlene também afirmou ter esperança na permanência do pai no Brasil. ;É o que queremos;, destacou a jovem, que passou mais de dois anos sem ver o pai. O último contato havia sido na Polícia Federal, quando Battisti foi preso no Rio de Janeiro, em 2007. Valentina conseguiu ver o ex-ativista há cerca de um ano. ;A mãe não tem dinheiro para mandar as duas para o Brasil com frequência, a viagem é muito cara. Desta vez só foi possível porque os amigos juntaram dinheiro para pagar as despesas;, contou, por telefone, a escritora Fred Vargas, amiga pessoal do ex-militante.

A irmã gêmea dela, Jo Vargas, acompanhou as meninas na passagem por Brasília e disse que o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) foi quem providenciou a entrada delas na cadeia. O parlamentar acompanhou a visita e ficou encarregado de entregar uma carta do ex-ativista ao presidente Lula. ;Ele (Battisti) não sabia da visita, ficou surpreso e chorou muito ao ver as duas;, afirmou. ;Ele passou a sensação de uma pessoa forte, muito corajosa. Não perdeu a esperança;, disse Valentina, sobre a conversa com o pai.

Battisti na Papuda: ele não sabia da visita das filhas e chorou ao vê-lasAos 54 anos, Cesare Battisti é hoje o pivô de um impasse que opõe Brasil e Itália. Condenado no país europeu, foi preso no Rio de Janeiro em março de 2007 e transferido para o Complexo Penitenciário da Papuda, onde está até hoje. A Itália providenciava o processo de extradição, mas o governo brasileiro concedeu refúgio político ao ex-militante.

Desde então, o governo italiano trava uma batalha no STF pela extradição. A corte começou a analisar o caso em 9 de setembro, mas o julgamento foi suspenso por um pedido de vista do ministro Marco Aurélio Mello, quando o placar estava 4 votos a 3 pela extradição do italiano.


ENTREVISTA - VALENTINA BATTISTI
Sentimentos que vão do medo à esperança

A filha mais velha de Cesare Battisti, Valentina Battisti, 25 anos, conversou com o Correio minutos antes de embarcar rumo a Paris, onde mora. Acompanhada da irmã, Charlene Battisti, 14 anos, se emocionou ao falar sobre uma decisão favorável à extradição do pai. As duas estiveram em Brasília para visitar Cesare Battisti no Complexo Penitenciário da Papuda. ;O nosso medo é que o matem na prisão italiana;, desabafou.

; Como foi a conversa na prisão? Vocês puderam entrar lá tranquilamente?
Sim. Foi difícil no começou porque foi preciso que uma moça o ajudasse. Ele está muito ansioso (com o julgamento).

; Como ele está de saúde?

Se está doente, preferiu não dizer a nós.

; Do que vocês falaram?

Das coisas da vida, a saúde dele, de coisas do cotidiano, como ele tem passado os dias na cadeia.

O que vocês sentiram ao conversar com ele?
Ele passou a sensação de uma pessoa forte, muito corajosa. Não perdeu a esperança.

; Mas o STF sinaliza a disposição de extraditá-lo. Mesmo assim, ainda acredita num resultado favorável?
Ele espera uma decisão positiva para ele. Tem muita esperança de que a verdade prevaleça, de que os fatos sejam esclarecidos.

; E vocês?
Esperamos o mesmo. Torço muito para que, da próxima vez que estivermos no Brasil, seja para vê-lo livre, fora da cadeia.

; Você não quer que ele volte para a Itália?
Não, eu não espero isso.

; Por quê?
A Itália fará muito mal a ele, na prisão; (começa a chorar) ;o tratarão muito mal. O nosso medo é que o matem na prisão italiana.

; Seu pai é inocente?
Sim. Tenho certeza disso.

; Mas ele foi condenado na Itália e em outras três cortes internacionais.
Foi (um julgamento) político e ninguém se interessou em ver o processo porque está muito claro que não sabem o que aconteceu, não sabem a verdade nem um pouco.

; Caso ele fique no Brasil, vocês pensam em viver com ele aqui?
Sim, é possível. Meu coração pede isso, que ele fique no Brasil e permaneça livre. É o que quero muito.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação