Brasil

Estrago no início da rota

postado em 25/11/2009 09:07

; EDSON LUIZ

Enviado Especial

Porto Velho ; No caminho entre as áreas de abastecimento e as cracolândias espalhadas pelo país, a droga faz estragos. Antônio (*), de 18 anos, fala pouco, anda sempre de cabeça baixa e com olhar perdido no vazio. Ele é um dos milhares de jovens que já são vítimas do crack no interior de Rondônia, onde a cocaína chega fácil e barata. O rapaz é pobre, sem estudos, de família desestruturada e começou cedo a fumar a ;pedra da morte;. Sua fisionomia não mostra ser de uma pessoa violenta, mas de alguém frágil, que procura ajuda que ainda não chegou.

Antonio (E), no centro de ressocialização de Porto Velho: dificuldade de largar o vícioSua história começou aos 16 anos, em Santa Luzia do Oeste, uma cidade a 500km de Porto Velho, nascida com a colonização do Vale do Guaporé. A curiosidade de Antônio foi despertada por um primo. ;Fumei o crack pela primeira vez na casa dele e nunca mais parei;, conta o rapaz. No corpo, muitas marcas. A maioria causada pelas constantes surras que levava do pai. Apenas uma, apesar da dor, não foi causada pela violência. É uma tatuagem feita rusticamente no braço com o nome de Deus.

Antônio deixou o estudo na 5; série, depois de sair de casa após ser espancado pelo pai, alcoólatra. ;Nem sei se ele está vivo ou morto;, diz o jovem. O rapaz começou a roubar para sustentar o vício. Chegou a consumir 10 pedras por dia, adquiridas a R$ 10 em vários locais da pequena cidade onde morava, ou em Rolim de Moura, o município mais próximo.

Antônio não fala sobre sonhos, mas passou a querer ter um objetivo de vida se um dia largar o crack: ser psicólogo. Sua meta surgiu depois de várias internações assistidas por psicólogos. ;Sofri e sofro toda minha vida e só eles sabem entender isso;, diz Antônio, ressaltando que em Santa Luiza do Oeste ele é apenas mais um no mundo das drogas. ;Em quase todo lugar de lá tem crack;, diz. A cidade fica entre as BR-429, que é uma das portas de entrada da droga no Brasil e a BR-364, a rota saída do pó para as cracolândias espalhadas pelo país.

[SAIBAMAIS]O crack e a cocaína também se tornaram os grandes aliados dos crimes com envolvimento de menores em todo o estado. Nos últimos três anos, somente em Porto Velho foram registrados 120 homicídios, 131 tentativas de assassinato e 32 latrocínios ; roubo seguido de morte ; envolvendo crianças e adolescentes. ;Ou o menor mata porque alguém lhe devia uma pedra (de crack), ou morre porque devia uma pedra para alguém;, diz a delegada da Polícia Civil em Porto Velho, Alessandra Paraguassú. a facilidade para conseguir a droga faz com que os menores comecem cedo a consumir.

No primeiro fim de semana de novembro, por exemplo, de cinco homicídios ocorridos em Porto Velho, três envolviam adolescentes e o motivo foi cocaína ou crack. ;Infelizmente cerca de 90% das crianças envolvidas com o crime, é por causa da droga;, confirma o juiz da Infância e Juventude Dalmo Antônio de Castro Bezerra. O magistrado afirma que a maconha, normalmente tida como a droga de introdução ao vício, pouco circula em Porto Velho. Os menores partem direto para a cocaína, por causa do baixo custo, qualidade e abundância.

Foi o caso de Paulo Afonso Santos de Lima, de 19 anos. Aos 12, ele entrou para o mundo das drogas, de onde só conseguiu sair após cometer um latrocínio e ir para um centro de ressocialização. ;Minha vida mudou e hoje minha ideia é arrumar um emprego e estudar;, afirma Paulo Afonso, que deixou o centro há duas semanas, depois de passar três anos internado.

;Entrei no mundo das drogas depois da morte de meu pai. Fiquei abalado e comecei a fumar maconha e a cheirar cocaína para esquecer;, conta o rapaz. Para manter o vício, se juntou a amigos para assaltar, terminando por matar uma pessoa durante uma das investidas. Ele sobreviveu, ao contrário dos companheiros. ;Todos morreram assassinados por causa da droga;, relata o ex-interno, que conseguiu duas façanhas: se formou cabeleireiro e passou no vestibular para biologia numa faculdade particular.

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(*) Nome fictício
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