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O acidente com o bonde que matou cinco pessoas e feriu 53 em Santa Teresa, tradicional bairro do Rio de Janeiro, no sábado, é resultado da falta de manutenção dos veículos, segundo usuários do sistema de transporte e especialistas. Para a Associação dos Moradores e Amigos de Santa Teresa (Amast), o episódio no qual o veículo descarrilou, tombou e colidiu contra um poste na Rua Joaquim Murtinho se trata de uma ;tragédia anunciada;. ;Não aceitamos, em hipótese alguma, a classificação desse acidente como fatalidade;, diz nota divulgada ontem pela entidade. Na carcaça do veículo, os peritos fizeram diversas marcações, onde podiam ser vistos remendos, arames e soldas no lugar de parafusos.
O coordenador da Comissão de Análise e Prevenção de Acidentes (Capa) do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura fluminense (Crea-RJ), Luiz Cosenza, disse ao Correio que, em uma avaliação preliminar, o acidente teria sido causado por um problema nos freios do bonde. Cosenza explica que a ausência de sinais de uma freada brusca nos trilhos leva a crer que o sistema de frenagem pode não ter funcionado. ;As sapatas (pastilhas de freio) podem ter sido acionadas, mas sem força para travar o freio;, diz. O engenheiro criticou o descaso com os bondes, que considera símbolos culturais do Rio de Janeiro. ;Não é porque o bonde é velho que deve ser inseguro. O problema é a falta de manutenção permanente. Ao longo de vários governos, o sistema de bondes foi sendo abandonado;, afirma.
Luiz Cosenza explica que, dos 14 bondes existentes, apenas quatro estão em circulação, já que os outros 10 ainda não passaram por reformas para voltar a funcionar. ;O custo para a modernização de cada um seria de R$ 1 milhão, totalizando R$ 14 milhões ; metade do que o governo do estado gastou com o sorteio da Copa;, compara Cosenza, referindo-se aos gastos de R$ 30 milhões, financiados pela prefeitura e pelo governo do Rio de Janeiro com o sorteio das Eliminatórias do Mundial de 2014.
A presidente da associação de moradores do bairro, Elzbieta Mitkiewicz, relata que, em fevereiro, a associação enviou vários e-mails para a empresa responsável, a Central Logística, estatal ligada à Secretaria de Transportes do Rio, denunciando problemas nos bondes. ;Em 2008, o governo do Rio foi condenado a recuperar o sistema de bondes de Santa Teresa, chegou a recorrer e perdeu, mas até agora nada foi feito;, afirmou Elzbieta.
O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), determinou ontem a suspensão da circulação dos bondes até que os fatos sejam apurados com maior rigor e a Secretaria de Transportes conduza um plano de modernização do serviço. Cabral anunciou ainda que o estado irá arcar com os custos do sepultamento das vítimas e as demais despesas provocadas pelo acidente.
A assessoria da Secretaria de Transportes do Rio informou que divulgará hoje um plano de investimentos e novas medidas de segurança para os bondes da cidade, mas aguardará o resultado da perícia para se manifestar sobre as causas do acidente. Segundo o órgão, os veículos passam por avaliação técnica semanal e o bonde que tombou teria sido submetido a testes de funcionamento na última terça-feira. O laudo da perícia deve sair em 30 dias.
[SAIBAMAIS]Sepultamentos
Os corpos da funcionária pública Ivone da Silva Soares e do aposentado João Batista Assis Soares foram enterrados ontem. Os dois eram casados e comemoravam o aniversário de João Batista. O condutor do bonde, Nelson Correa da Silva, também foi sepultado no domingo. O corpo da uruguaia Cláudia Lilian Almeida Fernandez será enviado ao país de origem. Ela visitava o Rio com o marido, Hugo Gomez, que teve cortes em um dos pés e nas pernas. Maria Eduarda Nunes deve ser sepultada hoje. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, 10 vítimas permaneciam internadas na noite de ontem, todas com quadro clínico estável.