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Seca faz nascentes na Serra da Canastra perderem um quilômetro de extensão

Para propor medidas emergenciais, especialmente quanto ao abastecimento humano, a Câmara Consultiva Regional do Alto São Francisco vai se reunir amanhã, em Belo Horizonte

Gustavo Werneck/Estado de Minas
postado em 29/09/2014 11:20
O Rio São Francisco já perdeu um quilômetro de extensão nas suas nascentes, na Serra da Canastra, Região Centro-Oeste de Minas, por causa da seca que castiga a região. A constatação é de um grupo de autoridades, representantes de instituições de ensino e ambientalistas que, na tarde de sábado, visitou o trecho afetado pela longa estiagem e destruído por incêndios florestais. ;A situação é bem pior do que imaginávamos. Se não chover logo, o problema vai se agravar, pois verificamos, em muitos municípios, um quadro crítico, com lagoas, córregos e rios secando;, disse, ontem, o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica dos Afluentes do Alto São Francisco, formado por 29 cidades, e secretário de Meio Ambiente de Lagoa da Prata, Lessandro Gabriel da Costa.

Segundo especialistas, situação na Canastra, onde nasce o Velho Chico, e em todo o Centro-Oeste de Minas Gerais, é crítica e deve ser cuidada com urgência

Para propor medidas emergenciais, especialmente quanto ao abastecimento humano, a Câmara Consultiva Regional do Alto São Francisco, integrante do comitê federal do São Francisco, vai se reunir amanhã, em Belo Horizonte. ;No Centro-Oeste, registramos falta de água em Arcos, Pará de Minas, Santo Antônio do Monte e Bom Despacho. No Norte, a questão envolve também prejuízos para o setor de turismo em Pirapora. Se não tivermos chuva, medidas eficazes e conscientização das comunidades, vamos ter racionamento e enfrentar uma séria escassez;, prevê o secretário.

O trecho seco vai até a estátua de São Francisco, marco que se tornou símbolo do berço mineiro do chamado ;Rio da Unidade Nacional;. Impressionado com o cenário de desolação, conforme foi mostrado em reportagem do Estado de Minas, Lessandro disse que a população precisa estar preparada, evitando o desperdício do recurso natural e evitando de vez as queimadas, prática que se alastra, acaba com a biodiversidade e extermina as matas protetoras. Nesse rastro onde o cinza se sobrepõe ao verde, os animais agonizam ou morrem esturricados.

[SAIBAMAIS];Não há mais árvores em volta das nascentes. Queimou tudo, mas não adianta também fazer o replantio agora, no seco;, afirma o secretário, certo de que é fundamental estar em alerta. ;Ninguém nunca se preparou para a falta de água. Pode ser que chova muito em breve, mas esse momento nos dá uma lição: a água é recurso finito. É preciso aprender isso;, afirmou. ;Minas está na frente, no país, em áreas destruídas pelo fogo; o reservatório de Três Marias se encontra muito baixo, com risco para geração de energia. Enfim, temos que ter um plano A.;.

Outra medida importante se relaciona à outorga em toda a bacia. No período crítico de seca, grandes consumidores, que respondem por 90% do total do consumo de água (70% do agronegócio e 20% das indústrias), poderão ser obrigados a aderir ao racionamento, com pedido à Agência Nacional das Águas (ANA) e ao Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) para revisão das outorgas. A previsão é de que, em menos de duas semanas, esteja concluído o levantamento do volume de água dos usuários do agronegócio, indústrias e do Projeto Jaíba, no Norte de Minas, que usam volume acima de 1 metro cúbico de água por segundo.



Ações

A situação na nascente do São Francisco preocupou o secretário municipal de Meio Ambiente de São Roque de Minas, André Picardi, também integrante do comitê da bacia do Alto São Francisco. A exemplo de Lessandro, ele não acredita em intervenções físicas, como o plantio de árvores, para resolver a os dramas no período seco. O mais indicado, ressalta, é auxiliar a unidade de conservação ; o Parque Nacional da Serra da Canastra, vinculado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão ambiental federal ; num plano de manejo contra o fogo, incluindo a construção de aceiros e outras iniciativas.

;O cenário que vimos é desolador e deixa qualquer um muito triste. O fogo pode fazer parte do ciclo do cerrado, mas não dessa forma. Moro aqui na região há 20 anos e temos que pensar no futuro;, disse Picardi. Como dado, ele cita o trabalho da Justiça Federal de Passos, no Sul de Minas, para resolver conflitos referentes à velha questão fundiária na Serra da Canastra, criado em 1972. ;Há 150 processos tramitando na comarca e vemos agora uma conciliação com os proprietários de áreas confrontantes com o parque;, disse o secretário.

Participaram também da visita os diretores do parque nacional, representantes da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Pains, da Emater e da PUC Minas de Arcos, Instituto Mineiro de Gestão das Águas, Escola Superior de Meio Ambiente de Iguatama e Agência da Bacia do São Francisco Peixe Vivo.

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