Brasil

Tragédia na Boate Kiss não teve nenhum responsável condenado

Dois anos depois do incêndio que matou 242 pessoas em Santa Maria (RS), a legislação federal de combate a incêndios não saiu do papel. Enquanto isso, 1,2 mil pessoas morrem queimadas no Brasil a cada ano

postado em 26/01/2015 09:07
Prestes a completar dois anos, a tragédia que matou 242 pessoas na boate Kiss ainda mantém feridas abertas. São sequelas físicas e emocionais. Além dos que morreram na catástrofe que acometeu a casa noturna de Santa Maria (RS) em 27 de janeiro de 2013, há pelo menos 297 sobreviventes com problemas respiratórios. Outros 26 receberam atendimento no ano passado por estarem com sequelas de queimaduras, fora os diversos com acompanhamento psiquiátrico ou psicológico. Já no campo da prevenção à segurança contra esse tipo de acidente, a tão prometida lei federal sobre o tema segue parada no Congresso com dois projetos. E, na esfera da Justiça, dos mais de 40 denunciados, ninguém está preso.

Homenagem às vítimas da Kiss, quatro dias após o incêndio: 297 sobreviventes ainda precisam de tratamento contra problemas respiratórios

Na madrugada da tragédia, havia cerca de mil pessoas no local com capacidade máxima para 631. Superlotada e com apenas uma saída, a Kiss foi palco de um incêndio provocado pelo sinalizador acionado por integrantes da banda Gurizada Fandangueira. A faísca emitida pelo artefato entrou em contato com a espuma responsável pelo isolamento acústico do local. ;Não tem como vivenciar um evento desses sem que alguém lá pelas tantas tenha depressão. A gente percebe que muitos ainda sofrem com as dores da alma e precisam de recursos. Muitos não procuram ajuda, outros transformaram a vida, outros estão se acostumando com a falta;, diz o presidente da Associação de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), Adherbal Ferreira, que perdeu na filha Jesseca Ferreira, de 22 anos, estudante de psicologia.



Desde a tragédia na Rua dos Andradas, no centro de Santa Maria, Adherbal passou quase um ano sem conseguir trabalhar direito. Nesse meio tempo, ele fundou a associação e, somente no meio do ano passado, retomou o trabalho como empresário de comércio. Ele deixará a presidência da AVTSM em março para se dedicar ao emprego. Ferreira conta que mais de mil pessoas participam da associação que presta auxílio às vítimas. Para marcar os dois anos da tragédia, foram agendadas homenagens.

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[SAIBAMAIS]De acordo com o Ministério da Saúde, cerca de 400 vítimas da Kiss foram atendidas em 2014 pelo Centro Integrado de Atenção às Vítimas de Acidentes (Ciava) do Hospital Universitário de Santa Maria, com problemas respiratórios, queimaduras, fonoaudiologia, entre outras especialidades, totalizando 3.521 consultas. Mais 40 pessoas procuraram o serviço no ano passado para acompanhamento com psiquiatra.

Outro serviço, especializado em saúde mental, o AcolheSaúde, da Secretaria Municipal de Santa Maria, recebeu 970 pessoas em 2014 e 2.373 atendimentos foram feitos pessoalmente, por telefone ou por meio de reuniões de apoio, visitas institucionais e reuniões de gestão. São parentes, amigos, sobreviventes, e pessoas que participaram da ações de resgate que recebem o acompanhamento dos centros. No total, segundo a Secretaria de Saúde do Estado, 1.900 pessoas são acompanhadas pelos serviços de saúde de Santa Maria.

As vítimas do incêndio morreram por asfixia provocada pela inalação de cianeto e de monóxido de carbono. Por isso, a maioria estava com o corpos praticamente intacto. A conclusão é dos laudos periciais. O gás que intoxicou as vítimas do incêndio foi resultado da queima da espuma que servia como isolante acústico do local. Ao pegar fogo, a substância liberou o gás cianeto, mesmo utilizado nas câmaras de gás nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Por isso, além das pessoas que morreram, sobreviventes e pessoas que trabalharam no resgate também tiveram problemas de saúde por causa da inalação da fumaça.

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