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Polícia faz reconstituição de mortes no Complexo do Alemão

O local onde a equipe trabalha foi isolado, a imprensa foi proibida de acompanhar a movimentação

postado em 17/04/2015 18:30
O local onde a equipe trabalha foi isolado, a imprensa foi proibida de acompanhar a movimentação
Policiais participaram, até o começo da noite desta sexta-feira (17/4), da reconstituição da morte do garoto Eduardo de Jesus Ferreira, 10 anos, no Complexo do Alemão (RJ). Ao menos três PMs que atuam na encenação do crime participavam da ação que resultou na morte da criança, de Elizabeth Alves de Moura e do capitão Uanderson.



O local foi isolado e a imprensa foi proibida de acompanhar a reconstituição, que conta com 120 agentes da polícia Civil, 10 peritos e 20 PMs. O garoto foi baleado na porta de casa, no último 2 de abril, durante uma operação policial na comunidade do Areal ; uma das que integram o complexo. A suspeita é que o tiro tenha sido disparado por policiais militares. A Divisão de Homicídios investiga o caso e todos os agentes que participaram da operação no dia da morte do menino foram afastados.

No dia anterior à morte de Eduardo, Elizabeth Alves, de 41 anos, havia sido atingida por uma bala perdida, dentro de casa. Ela chegou a ser socorrida e levada a um hospital da região, mas não resistiu. A filha dela, de 16 anos, também foi atingida por um tiro no braço.

Complexo sem paz
As mortes no Complexo do Alemão são o capítulo mais recente de uma tragédia que se estende desde bem antes da ocupação do local por forças de segurança. Em 2010, rodaram o mundo imagens de militares do Exército atravessando as ruas das favelas. Desde então, com a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), são frequentes os registros de agressões e mortes de moradores por policiais. Os militares também têm sido alvos de ataques de traficantes.

No ano passado, 14 moradores morreram e outros 13 se feriram gravemente em confrontos no Complexo, segundo dados do jornal local Voz das Comunidades. No mesmo período, 46 policiais se feriram e três foram mortos no conjunto, segundo a mesma fonte. O jornal teve a sede incendiada em julho de 2013 por traficantes, na mesma ação em que foi destruído um prédio da Ong Afrorregae.

Desde a ocupação, são registrados tiroteios e confrontos entre policiais e traficantes, geralmente acompanhados por morte de moradores. Também não é raro que as mortes resultem em protestos, como ocorreu em abril de 2014, após a morte do dançarino Douglas Rafael da Silva Pereira, o DG, vitimado por policiais na favela Pavão-Pavãozinho.

Em várias ocasiões, as próprias autoridades admitiram a dificuldade de garantir a segurança das pessoas que vivem na área. Em julho passado, um documento da PM do Rio determinava aos militares que atuavam no Complexo de Manguinhos que deixassem de fazer as rondas noturnas, por conta do grave risco decorrente da imposição do tráfico.

Um pouco antes, em fevereiro de 2014, o secretário de Segurança do estado, José Mariano Beltrame, admitia o fracasso do modelo, após mais uma leva de ataques às UPPs: ;Alemão, Rocinha e São Carlos estão entregues aos chefes do tráfico há muito tempo;, dizia o secretário.

Com informações de André Shalders

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