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Estudante concilia trabalho na roça com estudos e é aprovado em medicina

Jéferson César estudará na Universidade Federal de Campina Grande, na Paraíba

Diário de Pernambuco
postado em 05/02/2016 08:19

Jéferson César estudará na Universidade Federal de Campina Grande, na Paraíba

Passar numa faculdade de medicina ainda é tabu para muita gente ; em alguns casos, tido como sonho impossível. Trabalhador rural, aos 20 anos, Jéferson César subverteu as probabilidades. Vai trocar o Sítio Laje do Carrapicho, na Zona Rural de Alagoinha, no Agreste do estado, por uma vaga para formar-se médico, na Universidade Federal de Campina Grande, na Paraíba, onde já assegurou lugar ou no campus da UFPE em Caruaru, onde ficou na lista de espera ; 15; lugar numa lista de 13 vagas. A aprovação não é questão de acaso ; passou em 3; lugar no concurso do Sisu, no sistema de cotas.

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A conquista veio quase quatro anos após formar-se na Escola Estadual Gonçalo Antunes Bezerra, em 2012, e ao custo de conciliar os estudos com o cuidado com os animais e plantações do sítio. O sonho foi adiado por conta das fortes secas, que impossibilitaram os ganhos familiares a ponto de conseguir ajudá-lo a manter-se longe de casa, numa cidade nova. ;Desde os cinco anos, lido com palma, capim, feijão e milho e tiro leite de vaca. Mas a seca foi a pior que já vi no Nordeste, não tinha como meus pais me ajudarem em outra cidade. Nem tentei. Fiz Física, porque era em Pesqueira, aqui perto, e passei. Agora, com as coisas melhorando, tentei, mas achando que seria minha primeira tentativa, porque muita gente que quer ser médico tenta muitas vezes, né?;, relata o estudante que acaba de trancar a licencitura em física, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE), no 7; período, de um total de 8. ;Não era o que eu queria;.

O desejo de ser médico surgiu entre os 10 ou 12 anos, decorrente das dificuldades no estilo de vida que encontrava no sítio e no raro acesso à unidades de saúde por parte de sua família. O plano teve que ser adiado por forças maiores (que incluía o clima), mas no que dependia dele, cada momento contou na preparação. Acordava às 5h e seguia para o trabalho no campo, até as 10h. Então, estudava e almoçava, antes de voltar ao trabalho às 14h. No início da noite, seguia para o curso de física na cidade vizinha, de onde retornava às 22h30 e se dedicava à última hora de estudos, voltados ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). ;Não dava para fazer mais que isso, senão só dormiria 5h e acabava atrapalhando tudo;. Para contornar a falta de tempo, improvisava: ;Eu aproveitava o silêncio do campo e, enquanto tirava leite das vacas, ouvia umas 2h, 3h de videoaulas no celular. Isso facilitou;, diz, sorrindo.

Jéferson virou referência na cidade. Não há quem não conheça o rapaz da área onde até o celular é ruim de pegar. Até o prefeito da cidade, Maurílio Andrade expôs a história nas redes sociais e publicizou os feitos dos jovens da pequena cidade, de 15 mil habitantes.

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