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Empresários que davam rodízio para "heróis" da Chape lamentam tragédia

O desafio sempre lembrado nas preleções era simples: quem fazia o primeiro gol e o da vitória nos jogos na Arena Condá tinha o direito de levar a família para um rodízio de graça no almoço ou de massas e carnes no jantar

Breno Fortes, Marcos Paulo Lima
postado em 07/12/2016 07:55
Ailôr Trizoto e o irmão liberavam churrasco grátis para o jogador que fizesse gol pela Chape: abalados
Chapecó (SC) ; Ailôr Trizoto torce pelo Internacional. O irmão e sócio, Ivonir Trizoto, é Grêmio. Trégua no Grenal, só para incentivar a Chapecoense a ser um time ofensivo. Uma ideia dos dois para apoiar o Verdão do Oeste transformou o restaurante da família na churrascaria dos boleiros. O desafio sempre lembrado nas preleções era simples: quem fazia o primeiro gol e o da vitória nos jogos na Arena Condá tinha o direito de levar a família para um rodízio de graça no almoço ou de massas e carnes no jantar. Valia gol até se a partida terminasse empatada.

O estabelecimento fez uma parceria com uma rádio local. Durante a partida, o narrador Fernando Doesse ; uma das vítimas do acidente aéreo com o avião da Chapecoense em Medellín ; anunciava: ;Depois do jogão, a janta é no Galpão;. Ivonir Trizoto se emociona. ;Foi uma forma que nós encontramos para ajudar a torcida a ver gol, para ver a molecada mais ofensiva. E eu pagava com o maior prazer;, conta ao Correio.

[SAIBAMAIS]Os torcedores sabiam que, depois da partida na Arena Condá, encontrariam algum ídolo no restaurante. A menos que ninguém fizesse gol. O único que se dava mal era o maior ídolo da galera, o goleiro Danilo. O camisa 1 não balançava a rede, mas fazia defesas de placa. Às vezes, até com os pés, como aquela que ocorreu aos 49 minutos do segundo tempo da semifinal da Copa Sul-Americana, contra o San Lorenzo, da Argentina. ;A promoção era só para jogadores de linha;, ri, desconcertado, o colorado Ailôr Trizoto.

Maior artilheiro da história da Chapecoense, o centroavante Bruno Rangel foi quem mais jantou e almoçou de graça. ;Nada mais justo. Ele fazia gol e vinha aqui com família, jogadores e amigos comer de graça. Era divertido, muito legal vê-los aqui. E a torcida não ficava pedindo foto, autógrafo, nada disso. Respeitava o momento da refeição do jogador;, diz Ailôr.

Ivonir é o mais abalado com a morte de Bruno Rangel. ;Era meu vizinho, morava no apartamento 501, e eu, no 402. A amizade cresceu. Era mais do que um cliente, virou um amigo;, lamenta.

Neste ano, Bruno Rangel foi o artilheiro isolado do Campeonato Catarinense, com 16 gols, e a Chapecoense conquistou o título. No Brasileirão, tinha nove. Carioca de Campos, deixou o nome na história do clube de 43 anos com recordes: é o maior artilheiro em jogos oficiais (77 gols). Quando a conta inclui amistosos, é ele quem manda também, com 81.

;Eu sou o maior órfão. Quero me recolher ao meu luto, me afastar um pouco do futebol, dar um tempo. Não quero me apaixonar mais. Uma coisa é chorar porque a Chapecoense perdeu um jogo; outra é derramar lágrimas por um time inteiro que morreu.; A relação era tão próxima que, um dia, Ivonir cedeu seu churrasqueiro titular e os garçons para uma festa particular organizada pelos jogadores.

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