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Professor que usou Bíblia para dar aulas de história a presos recebe prêmio

Di Gianne percebeu a grande quantidade de Bíblias disponíveis dentro da escola do presídio e decidiu utilizar o livro mais comum do sistema prisional

Larissa Ricci/Estado de Minas
postado em 21/09/2017 13:00
Di Gianne percebeu a grande quantidade de Bíblias disponíveis dentro da escola do presídio e decidiu utilizar o livro mais comum do sistema prisional
O professor de história mineiro Di Gianne de Oliveira Nunes está entre os 10 vencedores do ;Oscar da educação;. Di Gianne, que leciona há 10 anos, colocou em prática um novo método para prender a atenção de seus alunos da Educação de Jovens e Adultos e Ensino Médio (EJA) da Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (Apac) em Lagoa da Prata, na Região Centro-Oeste de Minas Gerais: usou a Bíblia para ensinar história aos seus alunos. O prêmio, que reconhece professores de todo o país, foi criado há 19 anos e já reconheceu 211 educadores. Este ano, a Fundação Victor Civita recebeu 5.006 projetos inscritos e 10 foram vencedores da categoria Educadores Nota 10. Di Gianne é o único que representa o estado de Minas Gerais e recebeu o reconhecimento. Agora, concorre como Educador do Ano.
;Regime fechado, visão aberta;, esse foi o nome escolhido por Di Gianne Nunes para seu projeto. Professor de escola pública e privada, foi na Apac que surgiu a ideia de procurar por um método de estudo diferente. ;Na unidade prisional, quando eu estava dando aula sobre império romano, um aluno me questionou se existia a possibilidade de estudar por meio da Bíblia. Foi então que percebi que a grande quantidade de Bíblias disponíveis dentro da escola do presídio. Agora, vou utilizar o livro mais comum do sistema prisional a nosso favor;, conta o professor. Ele demorou cerca de dois meses para se preparar para as aulas.

O primeiro desafio enfrentado pelo docente foi separar a fé do histórico. ;O cenário da Bíblia é histórico e fértil. Mergulhamos em um trabalho intenso para estudar, analisando as tradições, as culturas e as sociedades dos romanos e dos gregos. Como no presídio os alunos não têm acesso à internet, usamos a Bíblia e os livros de história. Ora líamos um, ora outro e, depois, discutíamos se o fato era comprovado pela arquelogia;, conta. Os alunos aprenderam e se dedicaram: ;Eles ficavam ansiosos para as aulas;, diz.
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As aulas ajudam, inclusive, em outras disciplinas, como literatura e atualidades, para entender os conflitos no Oriente Médio hoje. ;Mudou o rendimento na sala de aula. Até na biologia, a lepra, por exemplo, muito citada na Bíblia. Ainda tem preconceito e isso vem desde a época. E tudo isso a gente vai refletindo, desconstruindo.; Além disso, a autoestima dos alunos aumentou e eles ficaram mais confiantes. ;A mãe de aluno me ligou e disse, chorando: ;Meu filho só tinha saído no jornal em páginas policial e, agora, todo mundo voltou a acreditar nele. De repente, ele era vencedor num projeto educacional em nível nacional;, lembra o professor.

Como ele ficou entre os 10 vencedores recebeu R$15 mil. Di Gianne resolveu devidir o valor entre os alunos da turma do EJA: ;Nada mais justo. Eles são os protagonistas;, comentou. Agora, no fim de outubro, o professor vai à capital paulista junto com os outros docentes para concorrer ao título de Educador do Ano. Caso fique em primeiro lugar, receberá um vale presente de R$ 5 mil para a escola onde aplicou o trabalho e outro, em igual valor, de R$5 mil, para a escola onde aplicou o trabalho.

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