Brasil

Ministério da Educação autoriza a instalação de 29 faculdades de medicina

Para profissionais, aumento vai comprometer a qualidade

Bernardo Bittar
postado em 18/12/2017 06:00
'A pessoa leva 10 anos e gasta R$ 1 milhão para se formar. Como não consegue trabalhar com a estrutura necessária, o médico vira um espectador do sofrimento humano. E ele não pode fazer nada'
Lincoln Lopes Ferreira, presidente da Associação Médica Brasileira (AMB)
Embora o presidente Michel Temer tenha proibido por decreto, no mês passado, a criação de novos cursos de medicina pelos próximos cinco anos, a União autorizou a abertura de 29 faculdades no país, contrariando especialistas da área. A informação foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) em 8 de dezembro e, agora, as localidades que poderão oferecer as escolas médicas terão de demonstrar aptidão para receber essa estrutura. Atualmente, o Brasil forma mais médicos que os Estados Unidos e o Japão. Na opinião de representantes da classe, o crescimento na formação dos médicos não significa que o cidadão terá mais acesso à Saúde ou a tratamentos de melhor qualidade.

A moratória para impedir a abertura de novos cursos de medicina foi para a frente sob o argumento mais forte do governo: economizar. A justificativa foi de que o país não tinha condições de investir. Mas, segundo o Ministério da Educação (MEC), essas novas faculdades ;já estavam no planejamento;. ;O edital de chamamento foi aberto por causa das vagas anteriormente anunciadas. Estamos na etapa da eleição de municípios;, afirmou, por meio de nota.

O presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), Jorge Darze, acredita que ;o Brasil já tem muitas escolas médicas. Do ponto de vista social, no passado, tínhamos uma regra em que prevalecia o interesse da coletividade na abertura de novas escolas. Hoje, quem manda é o mercado. Cerca de 90% dessas instituições que devem abrir as portas são de ensino privado. Com certeza, há pressão do empresariado em cima do governo;.

Darze diz que a implementação das novas faculdades repercute na qualidade do ensino ministrado, pois a fiscalização perde a força, ;colocando-se apenas avaliação do fim do curso;. ;Assim, você condena o estudante que fez curso mal preparado à execração pública pelo fato de ele não conseguir boas notas nessas avaliações do MEC. É a criação de uma segunda categoria da medicina;, complementa o médico. E emenda: ;Numericamente, salta aos olhos a velocidade da autorização de novos cursos, que não acompanha o crescimento dos docentes no Brasil. Em alguns lugares, o curso é tão desqualificado que as aulas são audiovisuais, não tendo presença concreta;.

As novas faculdades serão implementadas nas regiões Norte e Nordeste do país, locais onde a baixa renda dos moradores e o alto custo do curso dificulta a frequência da população local. ;Colocar as faculdades nesses lugares não significa que as pessoas de lá vão preencher os bancos. A média da mensalidade na Medicina é de R$ 7 mil. Considerando que a maioria dessas novas escolas é particular, acho difícil que alguém que vive nas cidades selecionadas, muitas do interior e com baixa renda, seja beneficiado;, completou Jorge Darze.

;O Brasil está formando 14.7 médicos por 100 mil habitantes, e o país não tem estrutura adequada, nem médicos nem doutores, e muito menos hospitais e laboratórios suficientes para formar médicos com um mínimo de qualificação. Não adianta colocar sala de aula. O problema é a má distribuição, isso sem falar na falta de condições adequadas de trabalho, como concurso, estabilidade profissional. A pessoa leva 10 anos e gasta R$ 1 milhão para se formar. Como não consegue trabalhar com a estrutura necessária, o médico vira um espectador do sofrimento humano. E ele não pode fazer nada;, explica o presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), Lincoln Lopes Ferreira.

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