Brasil

Filha de vítima em acidente da Paraíso da Tuiuti faz desabafo na internet

Raphaella Pontes fez um desabafo nas redes sociais dizendo ser inaceitável o apoio da comunidade a uma escola que matou a radialista Elizabeth Jofre, em fevereiro do ano passado. Outra vítima da tragédia diz nunca ter recebido o apoio necessário

Tatiana Castro*
postado em 15/02/2018 16:52
Carro alegórico da Paraíso do Tuiuti se desgovernou no início do desfile em 2017, imprensando pessoas contra a grade que separa a pista da arquibancada
A filha de Elizabeth Ferreira Jofre, a radialista que morreu atropelada por um dos carros alegóricos da escola de samba carioca Paraíso da Tuiuti, em fevereiro de 2017, fez um desabafo nas redes sociais, repudiando a participação da agremiação nos desfiles deste ano, na Marques de Sapucaí. Raphaella Pontes usou a sua conta pessoal no Facebook para criticar o segundo lugar da Tuiuti no carnaval do Rio de Janeiro. "Não são dignos de nenhum aplauso", escreveu a jovem na publicação.
Após a apuração das notas do desfile do Grupo Especial deste ano, ocorrida na Quarta-feira de Cinzas (14/2), Raphaella se indignou com o fato de a Paraíso da Tuiuti ter ficado com o segundo lugar, perdendo apenas para a Beija Flor de Nilópolis. "A escola jamais merecia estar no grupo especial. Tinha que ter sido rebaixada", bradou a esteticista, que lembrou os mais de 20 feridos no acidente que tirou a vida de sua mãe.

Elizabeth Jofre morreu dois meses após o acidente na Sapucaí, de infecção generalizada
Na postagem, a esteticista rechaçou os elogios do público à escola ; que fez críticas ao trabalho escravo e à corrupção ; alegando que a mesma nunca deu assistência aos familiares e às vítimas do ocorrido em 2017. "Como que eles querem cobrar e falar de política se não cumprem nem com a parte deles? Hipocrisia, falta de amor ao próximo e muita falta de respeito. Nojo e tristeza me definem", disse.

À época do acidente , a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) decidiu não rebaixar nenhuma escola do grupo especial devido aos acidentes ocorridos na Sapucaí. A Paraíso do Tuiuti ficou em último lugar, mas não sofreu nenhum tipo de punição. Segundo Raphaella, a agremiação "deixou para que as vítimas do acidente buscassem seus direitos na Justiça". A reportagem tentou contato com a diretoria agremiação, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.

Descaso

Cacau Fernandes é fotógrafa, mas por enquanto não pode trabalhar por causa dos ferimentos causados no acidente
Entre as vítimas, sobreviventes da tragédia que marcou o carnaval carioca, cinco pessoas ficaram feridas gravemente. Entre elas a fotógrafa Ana Cláudia ; Cacau ; Fernandes, que teve fraturas no braço direito, no pé e sofreu encurtamento do tendão. Ao Correio, Cacau afirma que nunca recebeu apoio efetivamente da escola. Ela explicou que meses depois, Jorge Castanheira, presidente da Liesa, disse que uma seguradora iria procurá-la. "Procurou. Fez vários tipos de exigências, para saber minha renda. Disseram que iriam ajudar durante seis meses, entre março e agosto", conta.

Depois desse período, a fotógrafa contou que ninguém apareceu e "nada mais foi acordado". "Hoje estou vivendo da ajuda de amigos e do meu ex-marido para pagar as contas. Minha filha ainda não foi para a escola porque eu não consigo nem comprar os materiais dela. Ainda não consegui voltar a trabalhar por causa dos ferimentos", lamentou Cacau, que passará por uma perícia em 30 de abril, mais de um ano após o acidente.

Sem recursos, Cacau conta que teve a ajuda de amigos para criar uma "vaquinha virtual", com objetivo de arrecadar o valor equivalente a dois meses da renda obtida como fotógrafa, já que estava impossibilitada de trabalhar. Encerrada em 29 de julho de 2017, a campanha arrecadou apenas 9% do valor esperado.

A profissional acha inacreditável "as pessoas apoiarem a escola". Segundo ela, apesar de o tema abordado ser "justo", antes de mais nada a Paraíso do Tuiuti deveria ter dado assistência aos acidentados. "Todos estão procurando seus direitos. Como mutilam, matam e ficam impunes? Receberam como prêmio estar no grupo especial, tiveram dinheiro para fazer um belíssimo carnaval e não tiveram dinheiro para nos ajudar;, finalizou Cacau.
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* Estagiária sob supervisão de Anderson Costolli

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