Cidades

Bares anunciam novas demissões

Se o movimento continuar caindo, empresários dizem que alguns estabelecimentos vão fechar em agosto

postado em 24/07/2008 08:07
Os donos dos bares e restaurantes do Distrito Federal fixaram informalmente o mês do mau agouro como data-limite no calendário. Se até o fim de agosto o movimento não melhorar, eles pretendem reestruturar o quadro de funcionários. O que, em palavras mais claras, significa aumentar as demissões. Com queda de até 40% no faturamento, os cortes atingiriam percentual semelhante de empregados. É o caso do Botequim Blues, um dos bares mais tradicionais de Taguatinga. Nos últimos 30 dias, três dos 12 funcionários foram dispensados e o gerente, Márcio Rodrigues, não descarta novas demissões e até o fechamento da casa. ;Se continuar assim, vamos tentar renegociar o valor do aluguel ou entregar o ponto;, afirma. Uma das áreas mais cobiçadas pelos empresários de Taguatinga, a Praça do DI virou ponto certo de fiscalização para flagrar os motoristas que beberam e pegaram o volante. Lá funciona a pizzaria La Fiolli, de Belaísio Queiroz Santos. As ações do Departamento de Trânsito (Detran) e da Polícia Militar provocaram queda de 30% na venda de bebida do estabelecimento. ;Mesmo quando a gente coloca a TV para atrair os torcedores em dia de futebol, o consumo é baixo. As pessoas estão constrangidas de beber;, observou Belaísio. Quando o assunto é lei seca, o tom da conversa dos amigos Alberto Medeiros, 28 anos, e Renildo de Souza, 49, se eleva. O primeiro concorda plenamente com a legislação e o segundo, acha rigorosa demais. ;Ele concorda porque não bebe. Se bebesse, não pensaria assim;, provoca Renildo. ;Falo como enfermeiro. Qualquer quantidade de álcool no organismo provoca alterações nos reflexos da pessoa. E a lei antiga era permissiva e ninguém respeitava;, retruca Alberto. Flexibilização No Guará, Manoel dos Santos Freire, está indignado. Ele é dono do bar Mané das Codornas. O movimento caiu 40% desde que a lei seca entrou em vigor. ;Sobrou para a nossa área. Não é certo o pai de família que tomou uma ou duas cervejas ser punido porque um Timponi (Paulo César Timponi) da vida acabou com a vida de três famílias (acusado de matar três mulheres em um acidente na Ponte JK);, compara. O empresário Wellington Siqueira de Oliveira, dono do Chalé da Traíra, também no Guará, registrou queda de 70% no faturamento. Diante dos novos números, fez um pacto com os 16 funcionários: se até o fim de agosto não conseguir reverter a situação, vai demitir. Para compensar a perda de receita, o empresário vai ao quiosque o dia todo a partir do próximo mês. Além disso, vai investir na divulgação do tele-entrega. ;O radicalismo dessa lei é um absurdo;, critica Wellington, que aderiu à campanha do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar) pela flexibilização da lei. Apesar de o Sindhobar estar à frente da campanha por alterações na lei seca, a posição não é compartilhada pela Federação do Comércio do Distrito Federal (Fecomércio-DF). Senador pelo DEM e presidente da entidade, Adelmir Santana acredita que os resultados da lei são mais importantes do que as possíveis perdas dos bares. ;Estamos tratando de vidas. Essa é uma medida de segurança para toda a sociedade;, defende. ;Existem alternativas: a carona, o táxi, o ônibus, o metrô. Não acredito que a lei vá acabar com a vida noturna da cidade. A lei não proíbe a bebida, proíbe a mistura de bebida e direção;, ressalta. José Sobrinho Barros, da Associação Comercial e Industrial de Taguatinga (Acit), tem opinião parecida com a de Adelmir Santana. Ele conta que as reclamações dos comerciantes da cidade são muitas e que a maioria fixa agosto como prazo para definir se consegue ou não manter as portas abertas. Mas ele aposta que o ;medo; das pessoas de sair de casa não durará muito tempo. ;A lei prepara uma mudança de comportamento para a sociedade. É por isso que as pessoas estão tão assustadas;, afirma. ;Daqui a alguns meses, o cliente encontrará suas alternativas porque ele não abrirá mão da diversão, da sociabilidade, da vida cultural;, completa. O presidente da Acit acredita que o Sindhobar está comprando uma briga que não é dele, mas sim da população. ;Acho que eles nem deveriam se posicionar tanto. Afinal, é complicado se posicionar contra uma lei que evita mortes;, afirma Barros. Corte na programação Dono de alguns dos estabelecimentos mais freqüentados do Distrito Federal, o empresário Jorge Ferreira afirma que a clientela diminuiu cerca de 30% desde o início da lei seca. ;A fiscalização veio rigorosa, ameaçadora. Não deu tempo da população criar alternativas;, afirma, comparando a campanha educativa pelo uso da faixa de pedestre com as constantes blitzes no Plano Piloto. Para conseguir equilibrar a queda no faturamento com as despesas, a primeira providência de Jorge Ferreira foi reduzir pela metade as apresentações do projeto Gente do Samba. Criado há 10 anos, o projeto traz renomados músicos para apresentações no Feitiço Mineiro, uma das oito casas do empresário. A temporada teria 16 apresentações. Foi reduzida para oito. ;Teríamos shows de artistas de outros estados às quartas e às quintas-feiras. Agora, faremos apenas às quintas;, conta Ferreira. Ele acredita que a lei de tolerância zero iguala os que saem de casa para um passatempo sadio com os que pegam carros irresponsavelmente e causam mortes. ;A lei está sendo aplicada na base do fundamentalismo. Concordo que álcool e direção não combinam. Mas a fiscalização tem de ser feita com mais critério;, defende.

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