Cidades

Lei seca é ignorada no Entorno do DF

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postado em 27/07/2008 08:09
Entorno do Distrito Federal é terra sem lei quando se trata do combate à mistura entre álcool e volante. Após 37 dias em vigor, a mesma norma federal (Lei nº 11.705/2008) que reduziu em 20,5% o número de acidentes com mortes no DF nos últimos 30 dias parece uma realidade distante dos 19 municípios goianos que rodeiam a capital do país. O Departamento de Trânsito (Detran) e o Batalhão de Trânsito da Polícia Militar (BTPM) de Goiás atuam apenas na capital do estado, Goiânia. Assim, jovens embriagados ao volante, policiamento passivo, tragédias nas estradas e falta de estrutura para garantir a segurança e o cumprimento da lei seca são rotina nas cidades de Goiás mais próximas do DF. Luziânia, município a 58km de Brasília, 22h30 de quinta-feira. Em um dos bares mais badalados da avenida Dr. João Teixeira, um grupo de jovens sentou para beber. Ao lado dos copos, chaves de carros e motos. ;Aqui, todo mundo que sai de casa, bebe e volta para casa dirigindo. Não tem fiscalização;, contou o estudante Paulo de Castro, 21 anos. De 40 em 40 minutos, um carro da Polícia Militar passava pela rua, a pouco metros das mesas e dos veículos. Passou e nada fez. Logo depois, um jovem que acabara de sair do bar cruzou a avenida empinando a moto. A noite seguiu assim até a 1h, quando a equipe do Correio deixou a cidade. O chefe da seção administrativa do 5º Comando Regional da PM, tenente Lélis de Araújo, admitiu o não cumprimento da lei seca na região e revelou que não há um bafômetro sequer para a corporação usar em todo o Entorno. ;Cumprimos a rotina, mas não temos policiais nem equipamento para operações perto dos bares;, alegou o tenente, cuja unidade engloba quatro batalhões e é responsável por 12 municípios. A precariedade se repete no Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops), da Polícia Civil de Planaltina de Goiás, a 56km de Brasília. O escrivão chefe, Jorge Valério Melo, explicou que os poucos motoristas flagrados bêbados deveriam ser encaminhados para o Instituto Médico Legal (IML) de Formosa, a 40km do local e a 79km do DF. ;A lei chegou, mas não temos estrutura. Além do mais, dar mais essa demanda para a polícia do Entorno é sobrecarregar o que já está sobrecarregado;, observou. Em 13 de julho, Flávio Silva Rego, 39, perdeu o controle da Kombi que dirigia e bateu em um Fusca no cruzamento da Quadra 1 do Setor Norte do município. Jéssica Oliveira Lopes, de quatro meses, estava no colo da mãe no banco do passageiro do carro atingido e foi arremessada com a mulher para fora do veículo. O bebê morreu na hora. Flávio, que assumiu ter bebido três cervejas algumas horas antes de pegar a direção, pagou fiança e foi para casa. Falta fiscalização Formosa é mais um exemplo da imprudência no trânsito e da inexistência de fiscalização da lei seca. O Correio acompanhou o movimento nos bares da cidade na noite de quarta-feira. Álcool e volante estão sempre juntos. Em um bar próximo ao Lago do Vovô, dois amigos estacionaram o carro em frente ao local, sentaram e começaram a beber. Em duas horas de bate-papo, foram nove garrafas de cerveja, intercaladas com doses de destilado (vodca ou pinga). Um carro da PM parou na esquina, mas a dupla não se intimidou: levantou e saiu de carro. ;A polícia não pára. Só se fizer uma besteira muito grande;, contou, com dificuldade, um dos jovens, que não se identificou. O diretor-técnico do Detran-GO, Horácio Cunha Santos, disse que o órgão não atua na divisa com o DF, pois só tem efetivo para ações em Goiânia. Segundo ele, nem os agentes da capital têm bafômetro para autuar os motoristas. ;Abrimos licitação para a compra de 50 bafômetros para o estado. Eles devem chegar em 30 dias. Atenderemos prioritariamente as cidades grandes, turísticas e do Entorno;, garantiu. Os 181 militares e 22 carros do BTPM também ficam limitados à capital goiana. O major Lucimar Mesquita, responsável pelo agrupamento especializado, disse que a fiscalização do trânsito no Entorno é feita por qualquer policial militar. ;São como clínicos gerais, que acabam tendo que fazer de tudo um pouco;, comparou. Radiografia # A fiscalização da lei seca nos 19 municípios goianos do Entorno ainda não saiu do papel. Com uma área equivalente ao estado da Paraíba e cerca de 2 milhões de habitantes, a região é um retrato da falta de ação do estado de Goiás para combater a violência no trânsito. # O Batalhão de Trânsito da PM e o Detran de Goiás não atuam na área, considerada uma das mais críticas do estado. # Os policiais militares, que deveriam fazer a fiscalização, não têm bafômetros nem abordam os motoristas. # A Polícia Rodoviária Federal tem seis bafômetros para fiscalizar as BRs do Entorno. # O índice de acidente com morte nas rodovias que passam por Goiás aumentou 54,76% após a lei seca. # A rodovia com maior índice de acidentes por embriaguez no Entorno é a BR-070 (caminho para Pirenópolis). # Em 30 dias, 50 bafômetros devem ser distribuídos no estado, segundo o Detran-GO.

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