Cidades

Artistas homenageiam Athos Bulcão

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postado em 31/07/2008 16:20
A morte do artista plástico Athos Bulcão, nesta quinta-feira (31/07) comoveu quem admira arte e principalmente que há anos acompanhava o trabalho do carioca, que mudou-se para Brasília para ajudar na construção da capital. Quase cinqüenta anos depois de escolher Brasília como casa, Athos era declaradamente apaixonado pela cidade que abriga muitas de suas obras e onde morreu de parada cardíaca, aos 90 anos.



Diretor do curta Athos, que em 1998 ganhou o Prêmio Especial do Júri, do Festival de Brasília de Cinema Brasileiro, o jornalista Sérgio Moriconi lamentou a morte do artista e defendeu inclusive a inclusão da sua história e obra no currículo escolar. Para Moriconi as obras de Athos são a identidade visual de Brasília.

;Como ele fez praticamente todas essas obras de complementação arquitetônica do Oscar Niemeyer, a gente tem um imaginário ligado à sua obra. Posso citar, por exemplo, a Igrejinha com a pomba virada ao contrário, o Congresso Nacional, os azulejos do Aeroporto, até o Parque da Cidade. Ele é uma pessoa fundamental para cidade porque no fim das contas, o que vai ficar é esse imaginário de imagens criado por ele. No futuro quando mostrar a pomba da Igrejinha, por exemplo, é Brasília, ou seja, é o Athos Bulcão;, relatou o diretor de Athos.

Companheiro de profissão, o artista plástico, compositor e escritor Bené Fontelles ressaltou a importância da obra de Athos, mas lembrou que além de artista o amigo era uma ser humano ;completo;. "Acho que nenhum artista no mundo tem uma obra com uma onipresença tão maior que a dele. Ele deixou uma herança enorme para a cidade e para o mundo. E também tinha um caráter incrível, uma pessoa de uma transparência e de uma leveza únicas. Era um artista completo, um ser humano completo".

Em depoimentos onde lembram a obra e a vida de Athos Bulcão artistas prestam as últimas homenagens.

"Esse último ;Atho;, embora já esperado dado a debilidade dele, foi decisivo. Realmente foi uma perda irreparável porque ele foi um grande esteio para a cultura brasiliense. Com relação à Brasília foi de um desprendimento, de uma generosidade enorme porque largou uma carreira já firmada no Rio de Janeiro, com definição profissional total e optou por fazer Brasília juntamente com o Oscar Niemeyer, foram grandes parceiros. Foi um homem absolutamente dedicado à Brasília e é algo insubstituível na historia da cidade, não tem dois iguais a ele. Do ponto de vista estritamente pessoal, foi um grande amigo que eu tive. Quando eu tive um desentendimento com o Oscar Niemeyer por causa do meu filme Conterrâneos velhos de guerra, o Athos interviu para amenizar dizendo a ele que era uma coisa muito injusta com relação a mim. Foi absolutamente solidário comigo e não posso esquecer isso jamais. Tanto que, graças ao Athos, hoje eu e o Oscar somos amigos. Foi realmente uma coisa muito digna da parte dele e fiquei imensamente agradecido. Era um cavalheiro antes de mais nada, um artista cavalheiro". (Vladimir Carvalho, cineasta)

"Na história da humanidade nenhum artista plástico fez uma obra tão ligada à arquitetura. Ele deu leveza à arquitetura da cidade. O Oscar Niemeyer já tinha isso e ele, com o seu trabalho, reforçou essa idéia. Acho que a coisa mais significativa dele é essa relação arte e arquitetura. Nenhuma cidade do mundo tem uma obra de um artista plástico tão ligada e tão presente na arquitetura. O grande lance do Athos é que arte dele nunca está fechada, sempre está exposta. É uma arte para fora, para o povo, para o público, para as pessoas, não era uma arte de museu e isso revela a generosidade dele, a grandeza de sua pessoa, essa foi uma das grandes contribuição dele para a cidade e acho que fomos privilegiados.; (Nicolas Behr, poeta)

"O Athos foi o nosso mestre maior, uma pessoa de grande importância para a nossa geração e que tinha uma vivência rica e real, ele respirava arte. Foi um artista fantástico, uma alquimista que sabia mexer com as cores como ninguém." (Sônia Paiva artista plástica)

"É uma perda que não sabemos como repor. Era um dos maiores artistas de Brasília e do país e que estava presente em tudo que diz respeito na luta pela sobrevivência da arte. Trabalhamos juntos no Instituto de artes da UnB nos 1960 e tivemos, embora em lugares e época diferente, uma formação artística parecida." (Glênio Bianchetti, pintor, gravador e artista plástico)

Athos Bulcão morreu no Hospital Sara Kubitschek na manhã desta quinta-feira, onde estava internado há dois anos. Por causa do Parkinson Athos já não trabalhava. O artista havia completado 90 anos no dia 2 de julho.


Televisão
A TV Brasil apresenta nesta quinta-feira (31/07), às 22h, uma reportagem especial de 14 minutos com a tragetória de Athos Bulcão. Inicialmente a reportagem seria exibida no dia 7 de agosto, mas foi antecipada para homenagear o artista, que morreu na manhã desta quinta.

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