Cidades

Flores das paineiras se destacam na paisagem de Brasília

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postado em 11/04/2009 08:00
Apesar do tronco barrigudo e dos espinhos no caule, as paineiras são responsáveis por tornar mais bonito o visual cinzento da cidade nesta época do ano. É no mês de abril, fase chuvosa, que, corpulentas e frondosas, as árvores de nome científico Chorisia speciosa, da família Bombocae, têm o ápice da floração. Espalhadas ao longo das vias de Brasília, as plantas ; também conhecidas como barrigudas ; aproveitam o fim das chuvas para começar um novo ciclo de reprodução. Após o amadurecimento dos frutos e a liberação das sementes, é hora de desabrochar para dar origem a outras árvores. As flores, de tonalidade rosa com rajadas marrons e amarelas, enchem as copas e os olhos de quem passa. Esse é o caso de Rafael Prado, 21 anos. Ao caminhar pelo Eixo Monumental, na direção do local onde trabalha, se deparou com um exemplar carregado de flores, em frente à Torre de TV. ;Resolvi parar e observar um pouco. Adoro plantas e essa está linda. Como estudo cinema, sou bem ligado à parte visual;, conta. Prado morou durante dois anos em Belo Horizonte (MG) e destaca uma particularidade de Brasília. ;Em outras cidades, as árvores bonitas ficam nos bairros mais nobres, atrás de portões e muros. Aqui, não, estão à disposição de quem quiser ver, em vários pontos do Distrito Federal.; As árvores com as copas coloridas chamam a atenção pela beleza e imponênciaEm frente ao Hospital de Base, por exemplo, há uma paineira, com grande quantidade de flores. A árvore não escapou do olhar da técnica em enfermagem Andréia Faria, 40 anos. Enquanto esperava uma ambulância que a levaria com mais dois pacientes para o Hospital Regional da Asa Norte (Hran), a enfermeira admirava a copa cor-de-rosa. ;É ótimo para espairecer. O ambiente de hospital é muito pesado;, comenta. A árvore é o paraíso para os beija-flores. Em grande número, os bichinhos voam freneticamente entre um galho e outro. ;Provavelmente, é por causa do néctar das flores;, explica a professora do Departamento de Botânica da Universidade de Brasília (UnB) Carolyn Proença. ;Mas os verdadeiros predadores da planta, quando os frutos ainda não estão maduros, são os periquitos e papagaios;, completa. No Setor Hoteleiro Sul, um casal de sabiás adotou uma paineira como casa. Uma outra árvore da mesma espécie, a aproximadamente 10 metros de distância, serve de moradia a um casal de bem-te-vis. ;Tenho um ponto de táxi entre as duas paineiras há quase 40 anos. Elas devem ter um pouco mais, porque quando cheguei, já estavam aí;, avalia o taxista Osman Alves de Souza, 56 anos. Visão privilegiada A dádiva de ter uma bela visão no local de trabalho não é restrita ao taxista. A assessora de um desembargador no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) Virgínia Meireles, 49 anos, também tem um ângulo de visão privilegiado. Da janela da sala da assessora, no 4º andar e de frente para o Eixo Monumental, é possível avistar uma barriguda considerada porta-semente ; dela são retirados grãos que darão origem a novas paineiras a serem plantadas pela cidade. Em frente à árvore, há uma placa, responsável por indicar que aquela é uma planta ;imune ao corte, pelo Decreto nº 11.833, de 19 de setembro de 1989;. ;É como se houvesse um vaso de flores na minha janela. Colore os dias mais frios e nublados;, diz Virgínia. Segundo o chefe da Divisão de Agroengenharia do Departamento de Parques e Jardins (DPJ) da Novacap, Raimundo Moreira Lima, a Chorisia speciosa não é natural da região do cerrado. Foi trazida de viveiros de São Paulo e do Rio de Janeiro na década de 1960, para arborizar a cidade recém-nascida, assim como outras espécies. ;Como não havia viveiros em Brasília, a Novacap comprou mudas de outros locais;. A paineira rosa é uma das poucas vindas de outros estados a se adaptar ao clima do Planalto Central. ;Outras plantas não vingaram, ficaram doentes, e tiveram de ser retiradas na década de 1970;, ressalta. Onde ver - Ao longo do Eixo Rodoviário (Eixão Sul e Norte) - Na tesourinha da 112 Norte - Ao lado da Estação do Metrô da 108 Sul - Setor Hospitalar Norte, ao lado do Hospital Santa Helena - Em frente ao Hospital de Base, no Setor Hospitalar Sul - Em frente à Torre de TV - Setor Hoteleiro Sul, ao Lado do Shopping Pátio Brasil - Setor Policial Sul - Estrada Parque Indústria e Abastecimento (canteiro central) - Em frente ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios
Para saber mais Período de reprodução A professora de Botânica da UnB Carolyn Proença explica que a barriguda é comum em florestas de latifoliadas (vegetais com folhas grandes), onde o clima não é tão seco como o de Brasília, mas não chega a ser muito úmido. A madeira da Chorisia speciosa é leve e de baixa durabilidade, útil para a confecção de barcos e não muito eficiente para ser usada em móveis. O ciclo de reprodução começa justamente com o aparecimento das flores. Elas são fertilizadas e dão origem aos frutos. A fase de amadurecimento deles ocorre em agosto e setembro, e é neste período que, ainda verdes, servem de banquete a papagaios e periquitos. É nessa época também que as paineiras perdem as folhas. No mês de setembro, os frutos se abrem e deles sai a paina, uma espécie de algodão, presa às sementes. Usada para o preenchimento de travesseiros, carrega a semente para longe da árvore e amortece a queda do embrião. A partir daí, a planta fica em estado vegetativo, se preparando para o próximo ciclo. Quando a época das chuvas começa, a paineira retoma a floração. Essa fase pode começar em dezembro e durar até maio do ano seguinte.

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