Cidades

Pediatras ameaçam boicotar planos de saúde

Médicos que cuidam de crianças alegam receber pouco das operadoras pelas consultas. Em protesto amanhã, eles cobrarão dos pais pelos atendimentos e prometem deixar de aceitar convênios em definitivo a partir de 15 de julho caso os valores não sejam reajustados

Helena Mader
postado em 30/06/2009 08:16
Depois do fechamento de emergências e da redução do número de consultórios, os clientes dos planos de saúde podem ficar sem nenhuma opção de atendimento pediátrico. Em um movimento que reúne a maioria dos profissionais dessa especialidade, os médicos vão suspender todas as consultas pagas pelos convênios. O protesto, marcado para amanhã, foi a opção escolhida para negociar com as empresas um reajuste da remuneração pelas consultas. Na quinta-feira, o atendimento volta ao normal. Mas, se não houver um acordo até 15 de julho, os pediatras vão rescindir todos os contratos com as operadoras de convênio e cancelar definitivamente os atendimentos pagos pelos planos de saúde. [SAIBAMAIS]A negociação com as empresas começou em meados de abril, depois que o Correio denunciou a crise na pediatria dos hospitais e clínicas particulares (leia memória). Duas grandes unidades de saúde suspenderam o atendimento de emergência a crianças, lotando os hospitais que mantiveram a oferta do serviço. O argumento foi a falta de profissionais no mercado. O presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria no DF, Dennis Alexander Burns, diz que a baixa remuneração é a principal causa da crise na especialidade. ;Dizer que faltam profissionais é uma grande mentira. O número de pediatras em atuação na cidade passou de mil médicos, em 2000, para 1,6 mil neste ano. O problema é que a maioria não aceita mais o valor que os planos de saúde repassam por consulta, que varia de R$ 24 a R$ 40. Isso é menos do que as famílias gastam em uma visita a um pet shop;, critica Dennis. Os pediatras exigem que os valores por consulta sejam os mesmos pagos pelo SIS, o plano de saúde dos servidores do Senado. Essa foi a única entidade que aceitou rever os honorários dos médicos dessa especialidade e dobrou o preço repassado por atendimento, de R$ 50 para R$ 100. Os médicos ainda apresentaram uma contraproposta, em que aceitavam até R$ 90 por consulta. Mas as empresas de convênios de saúde não deram resposta até agora, o que acirrou os ânimos da categoria e incentivou a paralisação. Emergências Amanhã, todas as consultas em hospitais particulares e consultórios serão cobradas. A proposta da Sociedade Brasileira de Pediatria é que o valor seja R$ 90, justamente o preço pleiteado pelos profissionais da área. Mas não há como garantir que quem já cobra acima desse valor reduza o próprio honorário. Os médicos vão atender por meio de convênios apenas os casos de emergência nos quais os pais não tenham condições de pagar pelo atendimento. O plano de saúde do Senado será o único aceito pelos pediatras durante o movimento. A ameaça de uma suspensão definitiva dos atendimentos pelos convênios preocupa muitos pais. A dona de casa Gláucia Pedroso Guimarães, 33 anos, é mãe de dois meninos, Pedro, de 2 anos, e Samuel, de apenas 3 meses de idade. Ontem à tarde, as duas crianças fizeram uma visita ao pediatra. A mulher não sabia do movimento marcado para amanhã e teme não ter condições de garantir assistência médica aos filhos caso os pediatras rompam com os planos. ;Tenho dois filhos, seria muito complicado pagar as consultas, além dos gastos que já temos com plano de saúde. Espero que isso seja resolvido;, afirma a dona de casa. NÚMEROS R$ 24 a R$ 40 é quanto os planos de saúde repassam aos médicos hoje por uma consulta R$ 90 a R$ 100 por consulta é quanto exigem os médicos para continuarem atendendo pelos convênios MEMÓRIA O problema se arrasta O Correio denunciou o caos do atendimento pediátrico na capital federal em 14 de abril deste ano (reprodução). Desde novembro de 2008, duas unidades fecharam a emergência pediátrica, o Hospital Brasília, no Lago Sul, e o Prontonorte, na Asa Norte. Manter esses serviços ficou insustentável devido à remuneração repassada pelos planos de saúde. Como a maioria das consultas pediátricas não exige exames extras, os ganhos dos hospitais eram ínfimos. Na época, as unidades negaram que os valores pagos pelos convênios haviam causado o fechamento. O Hospital Brasília argumentou que a decisão era uma estratégia para investir nos procedimentos de alta complexidade. Já o Prontonorte afirmou que a ideia era concentrar a pediatria no Hospital Santa Helena, que fica ao lado e é do mesmo proprietário. A medida tumultuou as emergências que mantiveram as portas abertas. Pais e mães com filhos doentes têm que esperar até três horas na fila por uma consulta.

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