Cidades

Oftalmologistas podem ser os próximos a boicotar planos de saúde

Helena Mader
postado em 02/07/2009 08:23
[SAIBAMAIS]O boicote dos pediatras aos planos de saúde, que tumultuou ontem os hospitais particulares da cidade, pode se estender a médicos de outras especialidades. O movimento para exigir uma melhor remuneração das consultas serviu como incentivo para profissionais de outras áreas que também reivindicam o reajuste da tabela dos convênios no DF. A Sociedade Brasileira de Pediatria pretende transformar o boicote às empresas em um movimento nacional. Em outros estados, os médicos começam a reagir contra os preços repassados pelos planos de saúde. Na capital federal, esse valor varia entre R$ 24 e R$ 40, sem o desconto de taxas e impostos. Mesmo com a confusão gerada pelo boicote, nenhum representante dos convênios procurou os médicos para propor um reajuste. Se não houver consenso até o próximo dia 15, os pediatras garantem que vão cancelar todos os contratos e trabalhar apenas com consultas particulares. O presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria no DF, Dennis Alexander Burns, acredita que o protesto de ontem teve um impacto positivo. ;A população compreendeu o nosso movimento e ninguém hesitou em pagar pelas consultas. É importante envolver toda a sociedade com a nossa causa;, explica Dennis. Gláucia de Ávila, mãe de Amanda, reclama do movimento dos médicosDiante da repercussão do boicote no Distrito Federal, o protesto pode se estender para outros estados. O presidente nacional da Sociedade Brasileira de Pediatria, Dioclécio Campos Júnior, diz que a insatisfação com relação aos valores pagos pelos convênios chegou a um patamar insustentável. ;A remuneração já passou de revoltante para aviltante. O desprezo com relação à assistência pediátrica representa um desprezo com as nossas crianças, com as famílias e com toda a sociedade;, critica Campos Júnior ; um dos maiores especialistas do país na especialidade. ;Os pediatras despertaram para a necessidade de acabar com esse abuso e o movimento deve crescer a partir de agora;, finaliza. O Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal concorda com a decisão de cobrar do paciente a parte não repassada pelo convênio. ;Os pediatras apenas puxaram um movimento de revolta. Os médicos de outras especialidades também recebem um repasse dos planos de saúde muito baixo, de R$ 24 a R$ 40. Os outros setores da categoria já estão prontos para, quem sabe, aderir a essa prática de cobrar pelo menos R$ 90;, afirma o vice-presidente do CRM-DF, Iran Agusto Gonçalves. ;É bem provável que os oftalmologistas sejam os próximos a aderir a esse tipo de protesto;, acrescenta Gonçalves. Consulta só depois Entre os usuários de planos de saúde, as opiniões sobre o movimento ficaram divididas. Algumas pessoas desistiram da consulta pediátrica ao saberem que teriam de pagar pelo atendimento. Nicolas Soares, 10 anos, é um exemplo. A mãe dele, Bianca Soares, funcionária pública, 40, não o levou à consulta na tarde de ontem, após saber da taxa adicional. ;A gente fica com muito pesar de ir embora. Ele reclamou de umas dores, quebrou o braço recentemente. Porém, como o caso não é grave, acho que vou voltar depois;, explica Bianca. Alguns pais, entretanto, ficaram indignados. É o caso da publicitária Gláucia de Ávila, 32 anos, mãe de Amanda, 2. A menina estava muito gripada ontem. ;Isso é um golpe dos médicos. Os pais não deixam de levar os filhos ao hospital porque vão ter que pagar mais caro. Nesta época do ano, a maioria das crianças está doente por causa do inverno. Eles só fizeram esse boicote agora porque sabiam que ganhariam muito dinheiro;, dispara a publicitária. Glênia de Souza, 31 anos, também precisou pagar R$ 90 pela consulta, mesmo a contragosto. A filha dela, Maria Eduarda, 10, sentia fortes dores na perna e nos pés, depois de se machucar durante um jogo na escola. A menina não pôde adiar o encontro com o médico para outro dia. ;Não concordo de forma alguma com essa resolução dos médicos. A sensação é de indignação. Mas não vamos esperar pelo dia seguinte, pode ser tarde;, conclui Glênia. Ao todo, 743.123 brasilienses têm convênios de saúde coletivos ou individuais. As entidades que representam as empresas e os próprios planos de saúde não quiseram comentar o boicote dos pediatras nem a ameaça de paralisação de outras especialidades. O Instituto de Estudos em Saúde Suplementar, entidade que analisa a conjuntura do setor, divulgou nota em que destaca que as consultas foram reajustadas em cerca de 30% dos últimos quatro anos, percentual acima da inflação do período, que foi de 20,6%. Segundo o instituto, algumas operadoras chegaram a aplicar reajustes de 39%. A ENTIDADE O Conselho Regional de Medicina é responsável pela fiscalização do exercício da profissão e pelo controle do registro dos médicos legalmente habilitados. Cabe ao CRM-DF analisar a conduta dos profissionais da área e puni-los, caso os conselheiros entendam que o médico agiu em desacordo com o código de ética. Opinião do internauta Mais leitores do Correio comentaram a crise no atendimento particular na área de pediatria no DF: Adelaide Santos ;O pediatra do meu neto de 7 meses cancelou o convênio, estou desolada, por causa da confiança, pois ele foi pediatra dos meus filhos. E hoje está difícil encontrar um pediatra que aceite o convênio. Tudo bem que o repasse para a classe é pouco, mas está havendo falta de ética.; Francisco Oliveira ;Como se não bastasse o boicote sempre vivo nos hospitais públicos, agora essa pandemônio nos hospitais particulares. Onde fica a credibilidade dos associados, atrelados a convênios com fundos falsos? É lamentável.; Fábio Peixoto ;Se não gostam da profissão, se ela não está dando o sustento suficiente, então saiam: procurem outro emprego.; Bruno Santos ;Medicina não é mercancia; e mercenários não têm lugar nem na mercancia nem na medicina;; Marcos Moura Santos ;Procurem saber da realidade. Nós dedicamos mais de 10 anos de nossa vida estudando para sermos profissionais gabaritados. Nós não aceitamos trabalhar por uma quantidade ridícula.;

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