Cidades

Boicote dos pediatras ganha força

Helena Mader
postado em 03/07/2009 08:36
As reclamações dos médicos com relação aos valores repassados pelos planos de saúde, que levaram ao movimento de boicote dos pediatras, fazem a lista de profissionais conveniados às operadoras ficar cada vez mais reduzida. Representantes de quatro especialidades consultados pelo Correio afirmam que muitos médicos já abandonaram os convênios para aceitar apenas pagamento em dinheiro pelas consultas. Geriatras, endocrinologistas, reumatologistas e psiquiatras apoiam o ato de protesto dos colegas pediatras e afirmam que a baixa remuneração afastou a maioria dos especialistas dessas áreas dos planos de saúde(1) . [SAIBAMAIS]

O presidente da Associação Psiquiátrica de Brasília, Antônio Geraldo da Silva, conta que é raro encontrar um profissional da área que aceite trabalhar com pagamento pelos convênios. Dos 200 psiquiatras que atuam na cidade, menos de 10% são associados às operadoras(2) . ;O valor repassado pela consulta é muito baixo e a dificuldade para receber posteriormente é grande. As pessoas pagam impostos altos e não têm acesso a uma saúde pública de qualidade. Aí pagam caro pelos planos de saúde e não conseguem ser atendidos;, critica Antônio.

Ele destaca a dificuldade de os médicos se reciclarem com a remuneração paga pelas operadoras. ;Com uma consulta que custa R$ 30, quantos profissionais terão condições de participar de simpósios e congressos?;, questiona. ;Os poucos psiquiatras que ainda trabalham com convênios já analisam a possibilidade de descredenciamento. A situação da área de saúde mental está caótica;, finaliza o Antônio.

Outra especialidade que tem poucos médicos atendendo por meio de planos de saúde é a geriatria. Em uma boa consulta, é preciso conhecer todo o histórico do paciente para analisar as causas dos problemas enfrentados pelos idosos. Cada atendimento dura pelo menos uma hora. ;É muito tempo de consulta para um repasse de menos de R$ 40. Para sobreviver, os médicos que aceitam convênios acabam encurtando o tempo da consulta, o que é muito prejudicial;, garante o presidente da Sociedade Brasiliense de Geriatria, Sabri Lakhdari. ;Os convênios são intermediários entre os prestadores de serviço, que são os médicos, e os consumidores, que são os pacientes. Como empresas que visam lucro, as operadoras aumentam a mensalidade dos associados e remuneram os médicos com valores cada vez mais baixos. É um sistema perverso;, critica Sabri. Depois da paralisação na última quarta-feira,  pediatras  podem suspender os contratos a partir de 15 de julho

Na Sociedade Brasiliense de Endocrinologia, os especialistas já se articulam para promover reuniões e discutir a situação dos médicos do DF. O movimento iniciado pelos pediatras ; que na última quarta-feira boicotaram por um dia todos os planos de saúde ; serviu como estopim diante das insatisfações crescentes. ;Nossa ideia é fortalecer esse movimento e até mesmo ampliá-lo. A remuneração atual é aviltante, pouquíssimos endocrinologistas atendem por convênio em Brasília por causa desses problemas;, diz o presidente da entidade, Neuton Dornelas Gomes.

A exemplo da pediatria, essas especialidades não têm procedimentos agregados, que permitam uma melhor remuneração para os médicos, independentemente dos valores das consultas. Um cardiologista, por exemplo, muitas vezes solicita exames como o eletrocardiograma ou testes de esforço aos pacientes. Assim, o valor final para o profissional cresce.

O presidente da Sociedade Brasiliense de Reumatologia, Rodrigo Aires Corrêa Lima, destaca que uma consulta bem feita e bem remunerada pode representar uma economia para os planos de saúde no futuro. ;Uma boa análise clínica pode evitar a realização de muitos exames. Mas os raros reumatologistas que aceitam convênios não têm tempo de explorar o histórico do paciente para fazer esses diagnósticos. O preço que é pago hoje não compensa, a remuneração é muito baixa;, justifica Rodrigo.

Entre os pediatras, o clima é de expectativa depois da paralisação da última quarta-feira. Eles ainda aguardam o posicionamento das empresas de planos de saúde para saber qual será o rumo do movimento. Segundo a categoria, haverá uma completa suspensão dos contratos com as empresas a partir de 15 de julho, caso elas não aceitem rever os valores das consultas. ;Nosso movimento foi um sucesso, a população compreendeu e nos apoiou;, diz o presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria no DF, Dennis Alexander. A paralisação, na verdade, dividiu opiniões. Muitos pais ficaram revoltados com a cobrança pelas consultas. O movimento também foi duramente criticado pela maioria dos internautas que opinaram no site do Correio (ver opiniões ao lado).

As entidades que representam as empresas de convênios de saúde ; Associação Brasileira de Medicina de Grupo e a Federação Nacional de Saúde Suplementar ; informaram que as negociações com os médicos são responsabilidade de cada operadora. Ambas não comentam as reclamações dos médicos quanto à remuneração.

1 LEGISLAÇÃO
Os planos privados de assistência à saúde oferecidos pelas operadoras seguem as diretrizes estabelecidas na Lei 9.656/98. Determinadas características ; como a modalidade da contratação, a data da assinatura, a cobertura assistencial e a abrangência geográfica ;; submetem os contratos de forma diferenciada à legislação.

2 OITO MODALIDADES
De acordo com a Agência Nacional de Saúde Suplementar, existem oito modalidades de operadoras: administradoras, cooperativas médicas, cooperativas odontológicas, instituições filantrópicas, autogestões, seguradoras especializadas em saúde, medicina de grupo e odontologia de grupo.
<--
--> <--
--> <-- --> <--
--> <-- --> <--
--> <--
-->

<--
--> Opinião do internauta
<--

--> <--

--> <--
--> <-- -->
Leitores do Correio comentam, no site, a briga entre médicos e planos de saúde

Piores do país
;Sinceramente, creio que Brasília seria o último lugar onde um movimento desse tipo deveria começar, pois, inexplicavelmente, os piores médicos e os piores hospitais do país estão aqui. Falo, pois conheço hospitais do Rio, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Pernambuco. Acho que recebem até demais pelo que oferecem.;
  • Luana Swendovsky

    Prejuízo
    ;Nenhum médico é obrigado a manter um contrato com determinado plano de saúde. Os insatisfeitos que cancelem os referidos contratos ou que procurem outro meio de protestar. O que não pode ocorrer é o prejuízo aos usuários que pagam convênios caros e recebem hoje um péssimo atendimento médico.;
  • Marco Gonçalves

    Cooperação
    ;Vivemos tempos de cólera. O dinheiro provoca o rompimento das relações pessoais. A cooperação é o caminho de volta à unidade entre os povos. Sou formado em administração. Busco cuidar da saúde da empresa, sociedade, governo, país. Agradeço a Deus pelo trabalho que tenho, sem ser escravo.;
  • Nesio Silva

    Justiça
    ;Eu vou levar à Justiça esse golpe que os médicos estão dando nos pacientes. Se eles têm contratos firmados com os convênios de saúde e os associados não estão inadiplentes, cabe aí um pedido de idenizaçao contra o médico que se recusar a atender o associado. Vamos todos juntos à Justiça.;
  • Adão Oliveira

    Fiscalização
    ;Há tempos que os médicos estão se desfiliando dos planos. Eles precisam sobreviver da profissão que escolheram para trabalharem bem. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) deveria fiscalizar melhor esta relação de consumo, mas protegem as operadoras.;
  • Kelly Zeidan

    Pontos de vista
    ;Claro que os médicos devem ganhar bem! Afinal, eles ganham pra salvar vidas... Temos que analisar sob os dois pontos de vista, o dos médicos que recebem pouco e dos pacientes, que procuram um médico porque precisam e muitas vezes contam com o convênio, pois não têm dinheiro pra pagar a consulta.;
  • Daniella Meneses

    Desabafo
    ;Nós, pacientes, pagamos várias vezes. A primeira, para que os futuros médicos possam estudar de graça nas universidades federais. Na segunda, pagamos os planos de saúde e, finalmente, pagamos o pato por causa de uma briga corporativa. Chega!”
  • Ulasio Ribeiro
  • Tags

    Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação